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Humor não se discute. O que é engraçado para mim pode não ser para você. Mas há defeitos na chanchada de tons eróticos e burlescos Falando de sexo (Speaking of sex, 2001) que se destacam além de qualquer gosto pessoal.
Bastam alguns minutos do filme de John McNaughton para perceber que trata-se, mesmo, de mais um enlatado hollywoodiano. Um razoável fiapo de idéia que rendeu um roteiro sem inspiração.
A trama não começa bem na forma. Baseia a sua estrutura no recurso discutível - e desgastadíssimo - da narrativa não-linear: a conclusão vem primeiro, e o filme se desenrola num longo e único flashback. Lá se vai a última surpresa, o gran finale, a expectativa, enfim, toda sorte de elemento que seduz o espectador até o desfecho.
E começa mal no conteúdo. Se há alguma lei da ficção que diz que um filme deve introduzir com paciência os personagens e criar uma atmosfera paulatina, McNaughton a transgride atabalhoadamente.
James Spader, bom ator sem traquejos para a comédia física, surge no papel do terapeuta Roger Klink como surgiria um personagem dos Farrelly - descabelado, tropeçando em coisa alguma. Mal casado e mal resolvido, ele se apressa para encontrar Melinda (Melora Walters), a paciente com quem teve alguns instantes de sexo vulcânico, e que agora o processa por ter se aproveitado da situação.
Se Spader constrange o espectador cada vez que repete o bordão infeliz "Não me chame de doutor, me chame de Roger", causa igual desconforto conferir os esforços de Melora (a drogada carente de Magnolia) em parecer engraçada. OK, pode haver riso a partir do desempenho inepto da atriz, mas a sua personagem, como a de Spader, mal surge e já se revela inacreditavelmente infantil.
Trata-se, evidentemente, de um pastelão, como descobriremos a partir daí, no flashback. Nada contra. Acontece que até a estupidez pede talento. E, definitivamente, a histeria e a caricatura tipo American Pie não se encaixam bem num filme feito por e para adultos. O desempenho de Spader, vale repetir, é síntese fiel desse anacronismo: ele simplesmente não encontra uma identidade própria para o seu doutor, que dirige como um retardado, corre como um flamingo e usa gravatas como um ébrio.
Não por acaso, Falando de sexo começa a melhorar quando, lá pela metade da projeção, surge a figura iluminada de Bill Murray, no papel do implacável advogado do doutor. Pronto! Contido, equilibrado, engraçado sem ser forçado, eloqüente no silêncio e elegante nos arroubos, Murray é o inverso de toda a falta de sutilezas vista até ali. Pena que tenha chegado num momento em que o filme já se arrasta por conta da previsibilidade.
Pensando bem, nos 96 minutos totais há um instante que compensa. O meio segundo em que Murray aplica um impensável gancho no estômago de Spader não chega a ser redentor, mas vinga a platéia presente.
Ano: 2001
País: EUA
Classificação: 16 anos
Duração: 97 min
Elenco: Bill Murray, James Spader, Melora Walters