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Aquarius | Diretor brasileiro quer gerar debate no Festival de Cannes

Longa de Kleber Mendonça Filho é um dos concorrentes à Palma de Ouro

14.04.2016, às 09H56.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Selecionado para representar o Brasil na disputa pela Palma de Ouro do 69º Festival de Cannes (11 a 22 de maio), o diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho evita rótulos para definir seu novo (e esperado) longa-metragem, Aquariusque marca a volta de Sonia Braga, estrela recordista de bilheteria nos anos 1970 e 80, ao posto de protagonista. Em entrevista ao Omelete sobre a saga de Clara (papel de Sonia), uma jornalista aposentada às voltas com a possível demolição do prédio onde vive, o realizador de filmes premiados como O Som ao Redor (2012) deseja que seu novo trabalho “vire bactéria”, ou seja, contagie olhares com a doença do debate, a partir da Croisette.

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Este filme expande questões que já abordei em outros filmes, embora seja bem diferente deles, mas o que me deixa mais ansioso é a possibilidade de ele gerar reações, interações, conexões. Algumas reações que eu já tive até agora, de quem mostrei, é a de que ele seja um filme político. Mas todos os filmes são políticos de alguma forma. O caso é que, com a situação política pela qual o Brasil passa hoje, é impossível algo não respingar no que fazemos. Quando se capta um clima, ele é parte de uma obra de arte. Mas é importante saber que Aquarius foi escrito há três anos e filmado no ano passado, ou seja, veio antes de tudo isso que está aí”, lembra Mendonça, que rodou o longa com R$ 3,3 milhões todo em Recife e algumas praias nos arredores de sua cidade natal.

Cotado como um dos títulos mais importantes da América Latina deste ano desde sua inclusão numa lista de apostas da revista Cahies du Cinéma, bíblia da intelctualidade cinéfila desde a década de 1950, Aquarius marca um passo a mais na trajetória de êxitos do audiovisual pernambucano. E, desde já, vem sendo enquadrado, ainda que prematuramente, numa tendência temática brasileira que se chama de Classe Média Blues, rótulo nascido no ambiente acadêmico para definir longas com personagens ligados a essa faixa econômica, vide Casa Grande, de Fellipe Gamarano Barbosa, e Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, e o próprio O Som ao Redor – e todos tiveram grande sucesso no exterior. Mas, ainda sem o termômetro da crítica para avaliar o que seu novo longa é, Mendonça enquadra a escolha de seu filme para Cannes na trajetória de êxitos de Pernambuco.

Eu continuo me impressionando com os filmes que saem de Pernambuco, sejam curtas ou longas, todos muito distintos entre si e todos feitos por realizadores que estão fazendo o que querem, com liberdade autoral”, avalia Mendonça. “Em apenas nove meses, filmes pernambucanos como Boi NeonAnimal Político e, agora, Aquarius, conseguiram a atenção dos festivais de Veneza, Toronto, Roterdã e Cannes. Há muito oxigênio no cinema de Recife, alimentando filmes que geram debate e não é de agora. Isso vem talvez desde Amarelo Manga, de Cláudio Assis, em 2003. Vai ser difícil para seja lá quer for que estiver questionando nossos incentivos à produção derrubar o que vem lendo feito no estado”.    

Além de Aquarius, vai ter sangue nacional em Cannes também na briga pela Palma dos curtas-metragens, com A Moça Que Dançou com o Diabo, produção paulista de João Paulo Maria Miranda. Ainda há filmes a serem divulgados em mostras paralelas e – cogita-se – uma dessas vagas já estaria reservada para o documentário carioca Cinema Novo, de Eryk Rocha, sobre o movimento que conduziu a estética cinematográfica do país à modernidade nos anos 1960.  

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