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Bandeira de Retalhos mobiliza a Mostra de Tiradentes com a malandragem de Sérgio Ricardo

Mais conhecido por seu trabalho como músico, o cineasta de 82 anos não lançava longas desde 1974

22.01.2018, às 19H59.
Atualizada em 25.01.2018, ÀS 07H03

Compositor seminal da Música Brasileira e diretor de um filme lendário realizado há 44 anos (A Noite do Espantalho), Sérgio Ricardo incendiou a Mostra de Tiradentes, na noite de domingo, com uma celebração da esperança no coração da periferia carioca: Bandeira de Retalhos, seu primeiro longa-metragem após um hiato de quatro décadas sem dirigir. Ao fim da projeção, bastante aplaudida (sobretudo nas aparições da atriz Kizi Vaz), o músico e cineasta de 82 anos ainda deu uma canja de sua sonoridade em um show ao lado de seus filhos, numa performance que comoveu a cidade mineira duplamente. De um lado, com um espetáculo calcado em trilhas sonoras de cults de nosso cinema; do outro, com o filme mais vívido e festivo de todo o evento até agora.

Sou um cara lá de atrás, formado pela Nouvelle Vague, o movimento moderno dos franceses, que libertou o cinema da dependência da técnica e da questão econômica, em nome da linguagem”, disse Sergio Ricardo ao Omelete.

Baseado em fatos reais recriados a partir de uma narrativa quase alegórica, com traços de musical, Bandeira de Retalhos se passa no Vidigal, em 1977, quando uma remoção imposta pelo Estado do Rio de Janeiro ordenou a saída dos moradores do morro. Uma jovem líder de comunidade, Sebastiana, a Tina (vivida por Kizi, num desempenho que botou Tiradentes no bolso), vai questionar a invasão policial no local, ao mesmo tempo em que se vê às voltas com um velho amor. Todos os contratempos locais vão ser analisados por um velho cego (Antonio Pitanga), guardião da memória local. A delicadeza com que o cineasta brinca com a tradição do cinema de malandragem do Rio de Janeiro – expresso em clássicos como Amei um Bicheiro, de Jorge Illei; Vai Trabalhar Vagabundo, de Hugo Carvana; e Rio Babilônia, de Neville D’Almeida – contagiou a mostra mineira, misturando ingenuidade, tradição e denúncia social.

Encontrei uma afetividade muito forte no Vidigal e, por isso, estou lá há anos, com eles, mostrando o que a simplicidade a pobreza podem produzir quando misturadas”, diz Sérgio Ricardo, cujo primeiro filme é O Menino da Calça Branca, de 1962. “Meu cinema questiona a exploração do homem pelo capital. E o morro é um local de solidariedade, que suplanta a exploração”.

Tiradentes segue até o dia 27, quando será exibido A Moça do Calendário, de Helena Ignez, com um desempenho radical de Djin Sganzerla. No mesmo dia serão conhecidos os premiados da competição Aurora, que começa nesta segunda. Os concorrentes são: Ara Pyau – A Primavera Guarani (SP), de Carlos Eduardo Magalhães; Imo (MG), de Bruna Scheld Corrêa; Dias Vazios (GO), de Robney Bruno Almeida; Baixo Centro (MG), de Ewerton Belico e Samuel Marotta; Rebento (PB), de André Morais; Lembro Mais Dos Corvos (SP), de Gustavo Vinagre; e Madrigal Para Um Poeta Vivo (SP), de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho. Nas programações paralelas à competição, os títulos de maior destaque no evento até agora foram o drama Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans, a deliciosa comédia Pontos Corridos, de Júlio Bezerra; e a sci-fi Era Uma Vez Brasília, de Adirley Queirós, cuja sessão foi marcada por uma debandada popular, como consequência do radicalismo de sua narrativa.

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