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O Outro Lado do Paraíso | Premiado no exterior, épico sobre construção de Brasília chega às telas

Prêmio de júri popular em Gramado, O Outro Lado do Paraíso mostra bastidores violentos da gênese do coração da República

30.05.2016, às 18H14.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 16H05

Épico sobre a construção de Brasília, laureado em festivais na Itália e na Espanha, O Outro Lado do Paraíso entra em cartaz nesta sexta-feira, em meio a um turbilhão político nacional, retratando a gênese atribulada da capital do Poder no país. Com direção de André Ristum e DNA pinçado de um livro infanto-juvenil homônimo de Luiz Fernando Emediato, o longa-metragem conquistou elogios em festivais em Guadalajara, Lima, Havana, Chicago e Punta del Este, ao retratar os bastidores da construção da sede da República, nos anos 1960.

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O filme viaja no tempo com uso de imagens documentais pinçadas de cineastas de peso, a começar por Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) e seu Brasília: Contradições de Uma Cidade Nova, de 1967. Reconhecido como um cronista da paternidade nas telas nacionais desde que lançou Meu País (2011), Ristum pilota aqui uma produção de R$ 8,5 milhões sobre os homens que edificaram Brasília, com base no processo de amadurecimento de um menino de 12 anos. O guri, Fernando, vivido por Davi Galdeano, é uma encarnação romanceada do escritor e editor Luiz Fernando Emediato. E ele luta para ter acesso aos livros e à leitura numa cidade do Distrito Federal que começa a nascer sob o respingo do suor dos operários, a começar por Trindade, seu pai, interpretado por Eduardo Moscóvis

De que maneira o mito de um Eldorado nacional fez da construção de Brasília um espaço rico de dramaturgia no resgate daquele tempo?
ANDRÉ RISTUM: 
Acho que no filme misturamos dois conceitos, o de Eldorado nacional, mas também algo mais mítico, ligado a uma visão mais religiosa, mítica, que é o paraíso, ou Evilath. O filme trabalha em cima da expectativa e da quebra dessa mesma expectativa, do sonho e do fim do sonho. Assim, a nova capital é um prato cheio pra tudo isso, um lugar construído para ser a capital perfeita do país, mas que mostra logo no nascedouro vários defeitos, como os enfrentados pelos personagens do filme. Acho que daí vem a maior riqueza dramatúrgica do filme, a busca do sonho e o fracasso na busca desse sonho que se mostra utópico.

O que Brasília simboliza como espaço mítico no imaginário nacional? E qual é o lugar da cidade no teu imaginário de alguém que cresceu e se formou fora do Brasil? 
RISTUM: Brasília representa um pouco um faroeste nacional, um lugar para onde vários heróis foram desbravar um novo território, atrás da realização de um sonho e de riqueza. Acho que Brasília se insere um pouco neste lugar na história recente do país. E também o lugar onde a Modernidade está presente em cada metro, uma vez que a cidade planejada já previa o melhor desenho para uma vida moderna. Durante muitos anos Brasília para mim foi algo distante. Não tinha muita referências estando tão longe. Era apenas a capital do país. Passei a entender melhor a cidade após mudar pro Brasil e passar a frequentar regularmente Brasília.

Qual foi o desafio de fundir memória, arquivo e melodrama ao reconstituir o livro de Luiz Fernando Emediato?
RISTUM: A memória era um elemento presente em tudo. No livro, na pesquisa, nas referências. Foi algo que nos ajudou muito na concepção. Tem um caso específico que me fascinou muito, que é a memória dos pioneiros da cidade, que se lembravam de chegar em Brasília e ver as luzes da cidade de cima, conseguindo enxergar o desenho do avião. Ao desenvolver a cena que iríamos filmar, com composição de efeitos, eu me deparei com um obstáculo objetivo: para ver o desenho do avião teríamos que estar numa altura que não existe ao redor de Brasília, mais de mil metros de altura. Apesar disto, minha opção, na realização desta cena, foi abraçar a poesia impressa na memória dos pioneiros mais do que me apegar a questões mais objetivas. O momento é poético: assim, prevaleceu a poesia e a lembrança fictícia. Junto com isso veio todo o desenvolvimento dramático, em volta da história do menino, já bem delineado no livro do Emediato. Apenas tivemos que desenhar um arco narrativo mais complexo, criar algumas subtramas, mas mantendo o tom poético. Quanto ao arquivo, que não estava previsto em roteiro. Foi algo que sentimos necessidade durante a montagem, e que foi ganhando força conforme fomos experimentando e encontrando grande equilíbrio. A sensação foi que o arquivo, ao invés de afastar o espectador do filme, trazia mais verdade permitindo um mergulho mais profundo na história. A partir daí o usamos sem economia.

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