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O Último Cine Drive-in | Filme de Iberê Carvalho derrete corações em Gramado

Comédia dramática deve levar prêmios nas melhores categorias

11.08.2015, às 16H23.

Disfarçada de fábula, no esforço de abordar uma reconstrução familiar, uma crítica ao sucateamento das salas de exibição de rua pelo Brasil afora derreteu corações no 43º Festival de Gramado, na noite de segunda-feira, sem deixar de alfinetar os desgovernos da Cultura no país. O alfinete estocado na atmosfera abafada da Serra Gaúcha chama-se O Último Cine Drive-in, um drama brasiliense de sopro cômico (e muita leveza) dirigido com uma contundência invejável pelo estreante Iberê Carvalho. Prevista para estrear na semana que vem em diferentes praças nacionais, a produção de R$ 1,4 milhão concorre ao Kikito de melhor longa-metragem e a mais uma penca de troféus com fortes chances de papar láureas nas categorias melhor ator (para uma entidade chamada Othon Bastos), atriz coadjuvante (Fernanda Rocha) e trilha sonora. Num momento em que Gramado discute a carência de um tipo de filme ao mesmo tempo intimista e comunicativo (ou seja, à moda argentina) da linha de montagem de longas made in Brazil, o trabalho de Iberê aponta uma solução possível...e doce.

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Estamos vivendo um momento em que o ódio está cada vez mais exacerbado. Este filme, pelo contrário, fala de amor. Nele, os personagens não medem esforços para defender aquilo que amam”, disse Iberê Carvalho no palco, antes da projeção.

No filme, um parque de projeção dito O Último Cine Drive-in de Brasília, mantido há décadas pelo exibidor Almeida (defendido com garra por Othon) está com os dias contados por escassez de público. Neste momento, o filho de Almeida, Marlombrando (Breno Nino), há muito sumido, volta ao convívio do pai. O motivo: a mãe do rapaz, Fátima (Rita Assemany) tem uma doença grave e sonha rever o drive-in no auge de sua beleza. Eis que Almeida e seu rebento terão de acertar suas diferenças, com a ajuda do zelador Zé (Chico Sant’Anna, um dos mais prolíficos atores brasilienses) e de uma projecionista grávida, Paula, interpretada por Fernanda. O papel deu a ela o Troféu Redentor no Festival do Rio de 2014. Foi uma vitória merecida frente à sutileza com que a atriz cria uma figura de feições masculinizadas, mas de acolhimento maternal.

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A ideia deste filme é abordar uma construção familiar substituta possível partindo de tipos exóticos. A trilha dos personagens parte de uma observação da realidade quase naturalista até chegar à fabulação”, diz Iberê, escudado pelo talento de Othon. 

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Famoso por filmes icônicos como Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), o ator baiano conduz o longa de Iberê à fronteira do trágico com uma interpretação explosiva, resmungona, que vai do fastio ao carinho num piscar de olhos e num tremular de bochechas. Seu desempenho só teve um adversário à altura, neste festival, no trabalho de Ney Latorraca em Introdução à Música do Sangue, exibido no sábado. Porém, este longa foi cercado de controvérsias. O filme de Iberê foi acolhido de modo mais unânime, jogando uma luz sobre a nova geração de talentos do Distrito Federal nas telonas.

Brasília está presente na memória afetiva da minha geração. Vimos muita gente de fora passar pela nossa cidade atrás de Poder e indo embora sem deixar nada. Eu, não. Tenho uma relação de afeto com aquele lugar”, diz Iberê.

Seu longa foi exibido minutos antes da projeção do melhor filme de todo o Festival de Gramado de 2015 até agora: um drama em preto e branco vindo da Colômbia e chamado Ella, com direção de Libia Stella Gómez Díaz. Nele, um carroceiro passa por toda a sorte de problemas para conseguir meios de enterrar sua mulher. 

Nesta terça-feira, Gramado recebe o premiadíssimo Ausência, produção paulistana de Chico Teixeira, elogiada em sua passagem pelo Festival de Berlim, em fevereiro. Na trama, um adolescente às voltas com uma mãe alcoólatra (uma atuação memorável de Gilda Nomacce) e com a ausência paterna tenta domar as intempéries do amadurecimento enquanto se aproxima afetivamente de um explicador, vivido por Irandhir Santos. Na quarta, o certame gaúcho segue com o drama O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum. Os vencedores serão conhecidos neste sábado.

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