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Ponto Zero | Juventude conectada e solitária é tema do novo filme de José Pedro Goulart

Ochentaisiete, de Anahí Hoeneisen, é outro destaque da programação do evento

14.08.2015, às 15H22.
Atualizada em 14.08.2015, ÀS 15H41

Rumo ao coração da América Latina, num esforço de congregar sotaques hispânicos, o 43º Festival de Gramado chegou ao Equador e tirou de lá um dos filmes mais tocantes de toda a sua competição em 2015: Ochentaisiete. Dirigida por Anahí Hoeneisen em parceria com Daniel Andrade, a produção trafega por duas épocas distintas: de um lado, aparece a década de 1980 com seu visual estilizado e seus jogos de Atari; do outro, vem o contemporâneo, com suas cicatrizes. Na trama, que foi projetada na noite de quinta e recebida com quilos de aplausos, três garotos da Era Ploc têm uma lição de companheirismo que pode ser interrompida de modo trágico. Só sabemos que tragédia é esse nas cenas em que a cineasta reencontra seus personagens no nosso presente, com estes já adultos e cheio de dilemas. O argentino Michel Noher encarna um deles, Pablo.  

Foi um filme muito trabalhoso, pois chegamos a filmar até 15 horas por dia. Mas foi um processo de descoberta muito rico”, disse Noher, cuja atuação no longa é uma aula de concisão de sentimentos.

Com um trabalho de edição primoroso, capaz de equilibrar riso e pranto em igual medida, sem descuidar da sensualidade, Ochentaisiete atesta o vigor da seleção latina de Gramado deste ano. Filmes de Cuba (Venecia), do Uruguai (Zanahoria) e da Colômbia (o magistral Ella) oxigenaram o evento no momento em que o cinema hispânico, nos moldes do que fez a Argentina, volta-se para o âmago existencial, fazendo longas menos políticos e mais dedicados ao mal-estar dos indivíduos.  

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E o Brasil, como anda nestas telas?

Bom... quinta foi noite de revisão para a estética do Rio Grande do Sul. A produção gaúcha Ponto Zero, único filme de DNA gaúcho na disputa de longas-metragens, começou como uma grande surpresa – por sua requintada fotografia e por sua narrativa de silêncios sufocantes -, mas se afogou, lá pelo meio, em sua fome de mesclar referências e em buscar uma voz crítica em relação a desajustes sociais. Foi uma das projeções mais aplaudidas, não por bairrismo, mas pela lufada pop ventilada pela direção de José Pedro Goulart, em seu olhar sobre uma adolescência nova, alienada em celulares, mas acossada pela solidão, como sempre. O requinte não abafa os traços de desgoverno na narrativa, que mesmo se perdendo, conseguiu comover e fazer pensar. O que se vê na telona é uma espécie de episódio do Snoopy, com um Charlie Brown gauchesco numa vida de cachorro. E a comparação não é um desdém: a HQ de Charles M. Schulz é filosofia pura, embalada para menores e maiores. Goulart tentou algo nessa linha e teve acertos. 

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Na trama pilotada por Goulart, um adolescente de 14 anos, Ênio (o ótimo Sandro Aliprandini), tenta buscar uma saída para sua angústia e seu desejo ao ser oprimido diante dos conflitos amorosos entre seus pais, interpretados por Patricia Selonk e Eucir de Souza. Este tem um desempenho vigoroso e levou Gramado a gargarejar ódio por seu personagem: um radialista grosseirão e adúltero. Mesmo com boas atuações, o longa se desvia de sua rota inicial e acaba desperdiçando uma fauna de tipos cheios de inquietações. Mesmo assim, o trabalho de seu fotógrafo, Rodrigo Graciosa, merece um Kikito.

O resultado do Festival de Gramado sai na noite de sábado e o longa brasiliense O Último Cine Drive-Inque estreia no dia 20, segue sendo o alvo das apostas.

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