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Muito já foi produzido sobre Adolf Hitler. Documentários e filmes nos ajudaram a tentar entender o que se passava em sua mente. Mas e sobre os seus asseclas? Em O Experimento de Goebbels (Das Goebbels-experiment, 2005) temos contato com as idéias do ministro da propaganda nazista e braço direito do Führer.
O ótimo documentário do cineasta Lutz Hachmeister apresenta um perfil definitivo da personalidade de Joseph Goebbels. O seu conteúdo é uma coleção de imagens de arquivo pontuadas com a sensacional narração do ator Kenneth Branagh. Suas falas são tiradas diretamente do diário de Goebbels. O ministro alemão mantinha um relato preciso de suas idéias e acontecimentos desde 1920 até a sua morte, em 1945. Branagh as lê de forma tão convincente que, depois de algum tempo, acreditamos ser o próprio Goebbels quem está nos revelando suas idéias.
Suas crises de depressão estão lá, como também está a sua obsessão por dinheiro. Ele fala até de sua dificuldade em arrumar uma namorada durante a sua juventude e vemos como ele praticamente santifica sua mãe. O mais irônico é que ele não acreditava em nenhuma religião que não fosse o partido. Percebemos no texto paranóia, oportunismo e suas jogadas políticas.
No começo, Goebbels achava que o seu cargo no regime alemão era uma manobra para limitar o seu poder. Conforme vai passando, ele percebe o quanto o seu departamento foi importante para a ascensão do nazismo. No filme, temos contato também com a sua lista de desafetos. O chefe da SS Heinrich Himmler o odiava. Ele não consegue se decidir sobre Hermann Goering. Primeiro é um viciado em morfina, depois um cara bacana. Mais tarde muda de opinião e diz que ele é uma vergonha para o partido. Fora essas picuinhas, no diário descobrimos sua opinião sobe propaganda e cinema. Ele reconhece no cinema russo um belo discurso do regime comunista.
Um fator que merecia ser lembrado era o brilhante documentário O triunfo da vontade (1935), da diretora Leni Riefenstahl, considerado até hoje o maior exemplo de como se fazer propaganda. Ignorar essa obra-prima num documentário sobre o Goebbels é um equívoco. Pelo menos ele mostra Leni recebendo uma premiação do próprio Goebbels por Olympiad, dirigido por ela em 1936.
Sua arrogância a cada vitória do exército alemão é descrita com um ar de superioridade que talvez nem Freud conseguiria explicar. Sua segunda paixão avassaladora é por sua esposa Magda. Mas sua devoção por Hitler é doentia. Ele via em seu governante uma espécie de Messias. No filme, ficamos sabendo como ele ficava triste toda vez que não estava perto de Hitler ou era obrigado a se despedir dele. Ele chega colocar o Führer e o partido acima de qualquer outro sentimento, inclusive de sua família. Tanto que ele não hesitou em matar seus filhos, sua esposa e a si mesmo logo depois do suicído de Hitler.
Suas idéias sobre os judeus são tão estapafúrdias que chegam a provocar gargalhadas, tamanhos são os absurdos. Talvez o diretor devesse ter intercalado nesse momento cenas da barbárie cometidas pelos nazistas, para que a reação fosse outra. Por trás de toda a insanidade notamos um talento para enganar as massas. Infelizmente temos que dar a mão à palmatória, pois ele foi um dos alicerces do regime. Os filmes produzidos pelo governo enganaram o povo alemão. E suas manobras e táticas, até hoje iludem os menos esclarecidos. Uma pena que seu lado brilhante não foi usado para o bem da humanidade.
Ano: 2005
País: Alemanha
Classificação: 16 anos
Duração: 108 min