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Crítica

O Gorila | Crítica

José Eduardo Belmonte faz o seu melhor De Palma em historinha romântica perversa

25.06.2015, às 16H58.

Uma vez que as histórias românticas tipo boy-meets-girl no cinema cada vez mais se refugiam na metalinguagem para evitar assumir as cafonices do gênero - vide lançamentos recentes como O Crítico, Deixa Rolar e Virando a Página - não deixa de ser empolgante deparar com um filme como O Gorila, que usa a metalinguagem com a intenção oposta: celebrar o cinema de gênero.

Longe de ser um "garoto-conhece-garota" tradicional, o filme do diretor José Eduardo Belmonte (Meu Mundo em Perigo, Se Nada Mais Der Certo, Alemão) parece mais um cruzamento de Um Tiro na Noite (1981) com Medianeras (2011): uma versão à moda Brian De Palma das nossas fobias modernas de socialização. Na adaptação ao cinema do conto homônimo de Sérgio Sant'Anna (que consta do livro O Voo da Madrugada), nenhum pavor urbano parece maior que o temor de erotizar o outro.

É por isso que Afrânio (Otávio Muller) passa trotes "românticos" e abre seu coração pelo telefone usando o codinome Gorila - o anonimato é o seu refúgio. Profissional de dublagem, conhecido apenas como a voz do detetive McCoy de enlatados americanos, Afrânio nunca teve sua identidade e sua privacidade em jogo. Isso muda quando o ator de McCoy morre, começo de uma espiral delirante que envolve traumas de infância, ameaças misteriosas e outros jogos de espelho.

Além de encontrar em Muller uma expressão perfeita do seu macho em crise - tosco por fora, mole por dentro, uma força natural sempre contida - Belmonte traduz muito bem na imagem as distâncias que hoje separam as pessoas, seja nos reflexos enganosos das janelas (a matriz hitchcockiana que De Palma já havia reinterpretado tão bem) seja na câmera que permanece incomodamente colada a Muller, expondo sua fragilidade, seu medo do toque.

Não fosse essa precisão muito bem estudada com que Belmonte se aproxima da ação, inicialmente, dando ao espectador uma noção muito particular dos espaços de cada personagem, O Gorila se desmancharia na sua segunda metade, quando o delírio dá o tom, marcado por imagens-símbolos de pulsão sexual (o vermelho no balão, no pirulito, no sangue de fato, que estaciona na boca). A montagem de Bruno Lasevicius complementa o rigor formal de Belmonte, com planos curtos mesmo entre fades, que forçam o espectador a entender cada relance como a síntese de um momento, impregnada de significado.

Daí então O Gorila se descobre à vontade para jogar com o suspense de paranoia - o subgênero que, no mais, melhor se adequa à nossa vida na metrópole. E embora Alessandra Negrini não seja a garota-da-vizinhança mais convincente do mundo (muito safa para uma personagem arquetipicamente inocente), De Palma invejaria ter uma femme fatale como Mariana Ximenes. E de mulheres fatais ele sem dúvida entende.

Nota do Crítico
Ótimo
O Gorila (2012)
O Gorila
O Gorila (2012)
O Gorila

Ano: 2012

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 94 min

Direção: José Eduardo Belmonte

Roteiro: Claudia Jouvin

Elenco: Otávio Muller, Alessandra Negrini, Mariana Ximenes

Onde assistir:
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