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O Pacto | Crítica

O pacto

23.11.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H21

O pacto
The Covenant
EUA, 2006, 97 min
Suspense

Direção: Renny Harlin
Roteiro: J.S. Cardone

Elenco: Steven Strait, Sebastian Stan, Toby Hemingway, Chace Crawford, Taylor Kitsch, Laura Ramsey, Robert Crooks, Wendy Crewson, Stephen McHattie

Um exemplo de HQ ruim é aquela que, dentre outras coisas, não consegue imprimir ação entre um quadro e outro. Não há uma sensação de movimento, são como poses num ensaio fotográfico. O Pacto (The Covenant, 2006) - o pior lançamento do gênero ação/sobrenatural saído de Hollywood em 2006 - é como uma HQ ruim, e esse julgamento independe do fato de o filme ser uma adaptação de quadrinhos.

A base da história é o gibi The Covenant, da Top Cow, inédito no Brasil, escrito por Aron Coleite (Crossing Jordan) e ilustrado por Tone Rodriguez. Enquanto a HQ conta a origem dos quatro jovens estudantes da Colônia de Ipswich que herdam os poderes de bruxaria e misticismo de seus ancestrais, linhagem longínqua que remonta à Caça às Bruxas de Salem no século XVII, o filme dá um curto preâmbulo e parte de um estágio adiante, quando esses jovens, no fim da adolescência, estão alcançando o ápice do tal poder.

É politicamente correta a premissa, metaforizando os abusos narcóticos e etílicos da juventude na forma de magia. No filme, o uso dos poderes vicia e envelhece antes do tempo quem os usa demais. O corpo sucumbe aos desejos - é como contar a história de um viciado em heroína de forma harrypotteriana. Legal, bons exemplos, boa lição de moral, bom ponto de partida. Mas e depois?

O longa apresenta os quatro jovens, liderados pelo mais consciente e mais velho, prestes a completar 18 e ascender, Caleb (Steven Strait). O pai dele não conseguiu domar a ambição e foi soterrado pelo vício do poder. Caleb não quer seguir esse caminho. Mas quando surge um estranho em Ipswich, sedento por poder, descendente da quinta família de bruxos, que todos julgavam extinta, Caleb precisará se defender.

Ordenando assim, em forma de sinopse, parece que O Pacto faz todo o sentido do mundo. Mas na prática o diretor Renny Harlin (cujo currículo recente, Do Fundo do Mar, Alta Velocidade e Exorcista: O início, por si fala melhor que mil argumentos desfavoráveis) não consegue juntar 2 com 2 em termos narrativos. Situações brotam por acaso, personagens somem e aparecem em outros lugares sem respeitar tempo ou espaço. Não há, tecnicamente falando, tempos mortos, aqueles momentos que servem de ligação a pontos fortes, cruciais da trama. O Pacto pula de um evento a outro sem se prender a nada - daí a comparação com uma HQ ruim. Nos dois casos ficamos com a sensação de acompanhar uma encenação episódica, estática.

Contribui para essa percepção o esforço do diretor em estetizar em excesso a obra. É o tal ensaio fotográfico. Durante as filmagens, após um primeiro take, Harlin pedia ao elenco OK, faremos de novo, agora mais sexy. Steven Strait é um canastra fotogênico, esforçado; deu azar, em início de carreira, de pegar uma direção de atores equivocada. Faz beicinho e tudo. Não dá para não rir quando ele espreme os olho dizendo Os poderes são uma sedução!.

Quando digo estetizar em excesso, isso tem a ver também com o abuso de clichês da moda. Tem coisa que precisa ser usada com parcimônia, senão vulgariza. Aquela mistura de trilha sonora metaleira, com cortes rápidos e planos acelerados, por exemplo, serve bem em uma corrida de carros, não em uma corrida de piscina de colégio. Já o recurso dos relâmpagos na janela para iluminar um espaço interno escuro, típico dos terrores, descamba em O Pacto para o ridículo. Quer dizer que tem trovoada todo dia em Ipswich? E porque casarões tão bem iluminados na fachada não têm uma bendita luz de corredor funcionando? Licença poética tem limite.

Não se salva nem a luta do clímax - efeitos especiais inclassificáveis, wire-fu de circo de bairro - mesmo porque não há identificação com os personagens. Não tivemos condição de nos aproximar deles, com tanta pose e tanto drama mal construído sobre uma gelatina de chavões. Mesmo quando saiu-se bem em sua carreira, em Duro de Matar 2 e Risco Total, Harlin sempre foi um reciclador de idéias. A diferença aqui é que ele recicla as piores fórmulas disponíveis hoje no mercado.

Nota do Crítico
Ruim
O Pacto (2006)
The Covenant
O Pacto (2006)
The Covenant

Ano: 2006

País: EUA

Classificação: LIVRE

Onde assistir:
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