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Selvagens | Crítica

Liberdade, igualdade, fraternidade e pupilas dilatadas

04.10.2012, às 19H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

Cada um faz o filme de recessão que lhe convém. Jason Reitman aplica suas lições em Amor sem Escalas, Sam Raimi exorciza a crise em Arraste-me para o Inferno e Steven Soderbergh tenta fazer o iconoclasta em Magic Mike. Oliver Stone, que nunca foi de medir a dose, mistura os três em Selvagens (Savages, 2012).

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Se Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme era um registro comportado da crise financeira, neste seu novo filme, que adapta o livro homônimo de Don Winslow, Stone retoma as cores exageradas e a vocação screwball de Reviravolta, sua comédia de ação de 1997, para levar a recessão à terra sem lei da fronteira com o México, e lá desconstruir e defender a imagem liberal dos self-made men que está na base do capitalismo nos EUA.

Os empreendedores da vez são dois amigos de Laguna Beach, o sossegado Ben (Aaron Johnson) e o veterano de guerra Chon (Taylor Kitsch), que dividem a mesma namorada, Ophelia (Blake Lively), narradora da história. Ela diz logo de cara que é conhecida apenas como O. (de Ophelia e de "orgasmo") e explica com didatismo toda a premissa do filme. Conta que a maconha comercializada por Ben e Chon é a melhor do mundo - "e não é plantada no Afeganistão nem no México, mas aqui: California, USA" - como se estivesse naquele comercial de Clint Eastwood em defesa da indústria de carros de Detroit.

Quando a parte da geração-de-empregos fica bem entendida, o roteiro dedica ainda uns bons minutos para mostrar - na cama, na banheira - que o triângulo amoroso em questão não fica só na conversa (Blake, a californiana por excelência, poderia até ser uma doce Namoradinha da América se não fosse tão gostosa). É importante para Oliver Stone não só estabelecer a indústria semilegalizada da maconha na Califórnia como uma estrutura justa de trabalho, como também associar o sexo desse triângulo amoroso com uma ideia de igualitarismo.

Essa é a lição liberal-socialista sobre a recessão que Selvagens tenta passar, goste-se dela ou não. O que vem a seguir é mais catártico, quando os cartéis mexicanos chegam para separar o trio. E aí Stone passa para o exorcismo da crise, via violência, e para a iconoclastia da fronteira, do cenário de Velho Oeste que parece sempre ter uma terra a mais a desbravar. O chefão do tráfico não é um homem, mas uma mãe preocupada. O cenário da guerra lembra o Iraque, mas é o Texas. Ben & Chon se atiram ao duelo como Butch Cassidy & Sundance Kid, mas têm a seu favor a simpatia do cinema americano por histórias de segundas chances.

Se há um ruído mais saliente em Selvagens, é a mania de botar na narração em off todas essas suas pequenas sacadas de desconstrução de imagem que já estão bem marcadas visualmente (a referência a Butch Cassidy, por exemplo, é textual). Como é no discurso, de qualquer forma, que Oliver Stone busca se firmar - e qualquer discurso fica bem na voz de Blake Lively - seu novo filme termina sendo até que bastante coerente, embora transcorra como um tiroteio entre chapados e loucos com as pupilas dilatadas.

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Nota do Crítico
Bom
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Savages
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Savages

Ano: 2012

País: EUA

Classificação: 18 anos

Duração: 131 minutos min

Direção: Oliver Stone

Elenco: Blake Lively, Taylor Kitsch, Aaron Taylor-Johnson, Benicio del Toro, Salma Hayek, John Travolta, Demián Bichir, Emile Hirsch, Mía Maestro, Diego Cataño, Joaquín Cosio, Sandra Echeverría, Antonio Jaramillo, Ali Wong, Trevor Donovan

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