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Snowden | Crítica

Cinebiografia de Oliver Stone narra a jornada do delator mais famoso do nosso tempo

11.09.2016, às 11H06.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Para ganhar as telas, fatos com a magnitude dos ocorridos em 2013 - quando Edward Snowden revelou ao mundo a extensão sombria da vigilância eletrônica global dos EUA - precisavam de um diretor relevante. E foi Oliver Stone, apagado havia vários anos, mas grande nome do cinema contestador dos anos 90, que encontrou aqui a centelha que precisava para reavivar seu cinema.

Stone cercou-se de cuidados para dirigir o filme, garantindo os direitos de adaptação dos livros de todos os que ajudaram Snowden a delatar o governo dos EUA. Também contou com a ajuda do próprio ex-espião em nome da riqueza de detalhes de sua história, que busca um registro mais documental dos fatos - ainda que o documentário Citizenfour já tenha feito isso (e levado um Oscar em 2015).

Joseph Gordon-Levitt vive Snowden no filme. Na época administrador de sistemas da CIA e contratado da Agência de Segurança Nacional, a NSA, Snowden decide, depois de uma década nas companhias de inteligência, expôr ao mundo técnicas e práticas dessas agências, causando um baque na administração Obama e nas relações internacionais dos EUA.

A história acompanha o brilhante Snowden, franzino e pálido, do fracassado treinamento militar até o coração do campo de batalha do futuro, a guerra digital em curso entre hackers de diversos países. Nesse mundo conectado, em que todos possuem uma câmera no bolso, ninguém está a salvo da vigilância... E Stone sabe se virar como ninguém em um clima de paranoia desses. A cinebiografia alterna momentos de suspense, com Snowden reunindo-se pela primeira vez com os jornalistas e a documentarista que vão expôr seu caso (vividos por Zachary Quinto, Tom Wilkinson e Melissa Leo) e seu cotidiano passado na NSA. A relação com a esposa, interpretada por Shailene Woodley, também é explorada, mas é o ponto fraco do filme e parece forçada, calculada demais para dar um clima mais humano à história.

Não há muito espaço também para que o espectador tenha suas próprias opiniões. O longa se esquiva da controvérsia se Snowden seria um patriota ou um traidor e o canoniza em definitivo, com aura de herói. Talvez este resultasse um projeto mais poderoso - no estilo de Aaron Sorkin - se acompanhasse a cisão do público dos EUA... Mas ao menos há a crítica bastante incisiva tanto a republicanos como democratas, deixando algumas farpas em tempo das eleições para presidente por lá. O Brasil também dá as caras, com direito a Dilma Rousseff e Petrobras em cenas de arquivo, já que é um dos países que tinham (ou têm) maior atenção da agência de segurança dos EUA.

O projeto reaviva a chama do cinema de Stone, mas não se transforma em uma fogueira. Ele poderia ter buscado uma certa atualização de sua linguagem devido ao tema. Os segmentos mais "biográficos" (as montagens de treinamento, os primeiros encontros com a futura esposa, as discussões com o professor vivido por Nicolas Cage...) são bastante convencionais e pouco inspirados, não acompanhando a qualidade das sequências de suspense e as descobertas na NSA, que têm montagens e tom mais interessantes. De qualquer maneira, Stone sempre pôde contar com o talento de Gordon-Levitt. Com uma voz irreconhecível, extraída de um encontro secreto com o retratado - atualmente refugiado na Rússia sob a proteção de Putin -, o ator é a grande força de Snowden. Desnecessário então o final, que coloca a figura real na tela, numa estranha busca por validação e um certo otimismo. De qualquer forma, a mensagem é passada e está na tela ao final - e se você leu este texto provavelmente já está na lista da NSA pelas palavras-chave contidas nele.

Nota do Crítico
Bom
Snowden - Herói ou Traidor
Snowden
Snowden - Herói ou Traidor
Snowden

Ano: 2016

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 134 min

Onde assistir:
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