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Crítica

Crítica: Tire Minha Foto

Faltou coragem e maturidade à modelo Sara Ziff para expor os abusos da indústria da moda

21.10.2010, às 01H00.
Atualizada em 13.11.2016, ÀS 18H03

Em Tire Minha Foto (Picture Me, 2009) a modelo Sara Ziff e seu então namorado Ole Schell, que assinam a direção, se propõem a mostrar o outro lado - menos glamuroso e sem escrúpulos - do mundo da moda. O experimento que começou como um diário em vídeo do dia-a-dia da modelo acabou transformando-se em documentário sobre a indústria, contado sob o ponto-de-vista das modelos. Durante cinco anos, Schell acompanhou Ziff e sua ascensão de new face à top model que chegou a estampar as campanhas publicitárias de Calvin Klein, Tommy Hilfiger, Dolce & Gabbana e The Gap.

O filme começa em tom ingênuo, mostrando a alegria das primeiras conquistas de Ziff, como ser contratada para desfilar para o disputado estilista Marc Jacobs. É interessante perceber que o encanto que a moda exerce sobre seus espectadores - as leitoras das revistas de moda, por exemplo - também funciona naqueles que estão nos bastidores. Assim, nem as próprias modelos escapam ao feitiço dos flashes e da beleza criada por horas sob os cuidados de cabeleireiros e maquiadores. Adicione ainda quantias exorbitantes de dinheiro - um dia de sessão de fotos pode render mais de US$ 100 mil - e estaremos próximos de compreender a bolha alienante de uma vida de modelo. Em certo momento do longa, Ziff fala sobre o simplismo de seu trabalho: "Estou apenas encarando a realidade de nossa profissão. Nós temos apenas uma passarela reta para andar, e hoje nem isso eu fiz direito".

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No entanto, apesar da intenção de revelar esqueletos escondidos nos armário da alta costura, Tire Minha Foto apenas pincela as questões críticas da profissão de modelo, sem ir além daquilo que já se sabia no senso comum: a competitividade entre as modelos leva a magreza excessiva e perigosa; existe abuso sexual por parte de fotográfos e outros profissionais com poder de decisão; a profissão de modelo vem acompanhada de um sentimento de vazio e descartabilidade, já que a próxima temporada trará uma nova safra de meninas, mais magras e mais jovens, e são poucas as que chegam ao patamar de unicidade de uma Gisele Bündchen, Kate Moss ou Naomi Campbell.

Outro fator que prejudica a produção é o amadorismo com que foi filmado, que vai de equipamentos a escolhas na montagem, como opção por usar animações infantilizadas de caderninho de adolescente, que não condizem com o tom sério que o filme ganha da metade para o fim. Além disso, faltou a frieza de alguém de fora da indústria para tocar nas feridas da moda - o medo das próprias modelos de lesar suas carreiras dizendo a verdade prejudica o potencial de denúncia do longa  -  e a maturidade de um cineasta experiente para transformar confissões medrosas e imagens de bastidor em um documentário de alguma consistência.

Observação: Na exibição para a imprensa, o filme apresentava problemas de áudio e foi mostrado sem nenhuma trilha sonora ou efeito de sonoplastia, trazendo longos períodos mudos, que claramente seriam preenchidos por música. Não se sabe se o problema será retificado a tempo das exibições para público na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Nota do Crítico
Regular
Tire Minha Foto
Picture Me: A Model's Diary
Tire Minha Foto
Picture Me: A Model's Diary

Ano: 2009

País: EUA

Classificação: LIVRE

Duração: 82 min

Direção: Ole Schell, Sara Ziff

Onde assistir:
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