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Crítica

Todo Poderoso | Crítica

Depois de um começo endiabrado, haja beatice

05.06.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H14

Longe das comédias escrachadas desde 2000, quando protagonizou e coadjuvou em Eu, eu mesmo & Irene (Me, myself & Irene, dos irmãos Farrelly), o histriônico Jim Carrey retorna às piadas em Todo Poderoso (Bruce Almighty, de Tom Shadyac, 2003). Boa notícia para alguns, nem tanto para outros: mais uma vez, Carrey encarna o papel de sempre, exagera nos malabarismos auto-referente e mostra com quantos músculos faciais se faz um comediante careteiro.

Ator competente quando lhe são oferecidos dramas de qualidade, Carrey volta a trabalhar com Shadyac, diretor que o conduziu à fama em Ace Ventura: Um detetive diferente (Ace Ventura: pet detective, 1994) e com quem também fez O Mentiroso (Liar, liar, 1997). Percebe-se, não é um currículo de primeira linha. E Todo Poderoso também não oferece mais do que alguns minutos de boas piadas e outros longos minutos de lições de moral.

Poderes divinos

A trama começa numa confeitaria da cidadezinha de Buffalo, onde o jornalista Bruce Nolan (Carrey) noticia a quebra de um recorde: está sendo assado o maior biscoito do mundo. Especializado nessas matérias de "interesse humano" (e motivo de piada na emissora de TV em que trabalha), Bruce não anda muito feliz. Perde de vez a paciência quando o seu principal rival se torna o âncora do telejornal local. Não bastasse isso, o seu cachorro urina pela casa toda. Bruce ainda destrói o carro em um acidente e briga com a namorada, Grace, vivida pela "friend" Jennifer Aniston - que por si só já seria motivo para um homem jamais entristecer...

Enfim, cansado de ser vítima dos desígnios celestes, Bruce esculhamba Deus. Mas, para sua surpresa, acaba bipado pelo próprio Criador (Morgan Freeman, bem à vontade), que o chama para uma conversa. Curiosidade: o número do telefone de Deus não tem o "555" de praxe, usado em filmes e na televisão, mas sete dígitos quaisquer. Como resultado, meia dúzia de desafortunados nos EUA se viram alvo de milhares de brincadeiras do tipo "Alô, gostaria de falar com Deus!". Depois da estréia do filme, Dawn Jenkins, uma fabricante de vidro da Flórida, passou a receber mais de vinte trotes por hora no celular...

Voltando ao filme... Em seu escritório, Ele decide: Bruce ganhará os poderes divinos por uma semana, só para sentir o gostinho da responsabilidade. As melhores piadas do filme ocorrem durante o "reconhecimento" das novas possibilidades, como toda a seqüência dentro da lanchonete. A partir daí, num esquema previsível, o humano usa e abusa da situação em proveito próprio e para castigar os seus rivais.

Algumas tiradas de Todo Poderoso são realmente inspiradas, como os furos jornalísticos do repórter sabe-tudo. Mas, assim como os poderes de Bruce uma hora acabam, também as piadas se transformam, na metade do filme, em um sermão irritante. Na marra, o protagonista aprende a ouvir as rezas e os pedidos do resto do mundo, a usar os poderes para o Bem comum - e a reconquistar o coração da amada perdida. Depois de um começo endiabrado, haja beatice. Não é bom sinal quando os erros de gravação após os créditos são mais engraçados do que o filme em si.

E não é de se espantar que Todo Poderoso seja sucesso nos EUA governado por republicanos de fé fervorosa. Nada mais conservador do que mensagens como "Que o Céu nos proteja do Armagedon" ou "Cada pessoa é responsável pelo seu próprio milagre". Só faltou o slogan máximo: "Deixe na mão de Deus".

Nota do Crítico
Regular
Todo Poderoso
Bruce Almighty
Todo Poderoso
Bruce Almighty

Ano: 2003

País: EUA

Classificação: LIVRE

Duração: 101 min

Direção: Tom Shadyac

Elenco: P. J. Byrne, Don Dowe, Mary Pat Gleason, Emilio Rivera, Rolando Molina, Noel Gugliemi, Enrique Almeida, Mark Adair-Rios, Jack Jozefson, Christopher Darga, Lillian Adams, Lou Felder, Brian Tahash, Timothy Di Pri, Tony Bennett, Sally Kirkland, Mark Kiely, Paul Satterfield, Eddie Jemison, Nora Dunn, Steve Carell, Lisa Ann Walter, Catherine Bell, Philip Baker Hall, Jennifer Aniston, Morgan Freeman, Jim Carrey

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