Na última sexta-feira (4), Tim Sweeney, o cofundador da Epic Games, partiu para o ataque contra a Microsoft, de uma forma poucas vezes vista na indústria de games. Em um artigo publicado no jornal inglês The Guardian, o executivo acusou a dona do Xbox de querer monopolizar a distribuição e o desenvolvimento de games no PC após anunciar a unificação do Windows 10 com o Xbox One, o que inclui o lançamento de games exclusivos do console em ambas as plataformas.

None

Tim Sweeney, cofundador da Epic Games

O texto, extremamente direto, vai direto na jugular da dona do Xbox, de quem a Epic é parceira histórica, ao contribuir com o sucesso do console desenvolvendo os primeiros Gears of War. Nele, Sweeney diz que a recém-anunciada Plataforma Universal do Windows (ou UWP), é um "movimento contra a toda a indústria de PCs, incluindo consumidores (e gamers), desenvolvedores como a Epic, produtoras como a EA e a Activision, e distribuidores como a Valve a Good Old Games".

Resumindo a parte técnica, Sweeney alega que a UWP é uma forma de a Microsoft fechar o sistema do PC em torno de uma loja de aplicativos unificada, como a Apple faz com a App Store ou o Google com o Google Play. Nenhum aplicativo da UWP pode ser comercializado fora da loja do Windows, e, caso a empresa torne esta plataforma o padrão para seu sistema operacional, eliminando o suporte a atual plataforma, o Win32, essa manobra pode eliminar, de uma vez só, a concorrência de todas as outras lojas digitais de games.

Muito embora a problematização exposta por Sweeney esteja focada em uma nova situação criada pela Microsoft, este é apenas mais um capítulo em uma das mais longas disputas comerciais da última década, que se acirra a cada ano: o domínio do bilionário mercado das vendas digitais de games.

Apenas no PC, as vendas digitais de games chegaram a US$ 32 bilhões em 2015 - mais da metade do total de todas as plataformas, um recorde de US$ 61 bilhões, de acordo com a consultoria SuperData. Só o Steam, da Valve, possívelmente o principal serviço de vendas digitais de games no PC, pode ter sido responsável por 10% deste valor. Embora a empresa não divulgue seus dados financeiros por ser uma empresa de capital fechado, o site de estatísticas SteamSpy diz que a loja movimentou cerca de US$ 3,5 bilhões no ano passado.

None

Interface do Steam

É com o Steam que começa a disputa pelo controle das vendas digitais no PC, já que o serviço de distribuição tornou-se o principal justamente por ter chegado cedo ao mercado, Lançado em 2003 como uma maneira da Valve controlar a atualização de seus jogos, o Steam virou uma loja no ano seguinte, e ganhou força em 2005 com a chegada de games de produtoras third-party, como a Eidos, a Capcom e a id Software. Seu crescimento não passou despercebido por concorrentes, sendo a mais notável a Electronic Arts, que criou sua própria loja, a Origin, onde vende seus games com exclusividade.

Embora a Epic Games não tenha um serviço de distribuição próprio, é fácil entender porque o ataque veio de lá: a empresa é responsável pela criação do motor Unreal Engine 4, disponibilizado gratuitamente desde o ano passado e utilizado amplamente, de desenvolvedores independentes a grandes empresas como a Capcom e a Square Enix. Vale lembrar que, embora o uso da UE4 seja gratuito, a empresa fica com uma porcentagem de 5% caso o game arrecada pelo menos US$ 3 mil por trimestre - fora os acordos com grandes produtoras.

Muito embora o domínio deste mercado ainda esteja provavelmente com o Steam, é possível dizer que há concorrência e, mais importante, uma grande lista de opções para o consumidor, o que ajuda, inclusive, a baixar o preço dos jogos. Essa concorrência é o que está em jogo desde o começo e, embora esteja ameaçada pela nova plataforma do Windows, faz parte de uma disputa que está longe de acabar.