A última sexta-feira, dia 22 de março, marcou os 17 anos de lançamento do primeiro game da franquia Resident Evil, criado originalmente para o PSOne, logo sendo adaptado para Sega Saturn e PCs. Na mesma data, celebrou-se também o aniversário de todo um gênero dos videogames, o do Survival Horror. Não que inexistisse o terror nos jogos antes de Resident Evil, mas foi esse título o responsável pela reunião de todas as melhores ideias que trouxeram o medo aos jogos eletrônicos, dando vazão a uma estrutura que perdura até hoje.

Sweet Home

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Sweet Home

Resident Evil 2

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Resident Evil 2

Resident Evil

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Resident Evil

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Alone in the Dark

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Alone in the Dark

Resident Evil

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zumbis e

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cães infernais.

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Resident Evil: Quebra-cabeças,

Em termos de mecânica, dois títulos em particular influenciaram a visão da Capcom para dar origem à sua série de zumbis. O primeiro foi Sweet Home, game de 1989 para o Nintendinho, que contava com uma mansão abandonada e habitada por fantasmas atormentados. Aqui, o jogador encarnava cinco tipos diferentes de personagens, que depois de mortos não podiam ser ressuscitados, e devia escolher entre lutar ou fugir de batalhas aleatórias.

Não somente a mansão ficou associada a Resident Evil, mas também a questão da escolha entre enfrentar ou não seus oponentes. Mais tarde na franquia, isto seria modificado no modo como os zumbis devem ser exterminados, com o jogador nunca encontrando recursos abundantes e vendo, muitas vezes, na fuga a melhor solução.

Outra referência importante é Alone in the Dark, lançado para PCs em 1992. Depois de escolher entre um protagonista masculino ou feminino, o jogador podia explorar uma mansão em que a maioria dos combates poderia ser evitada por meio de resolução de quebra-cabeças ou na procura por pistas. Era necessário também revisitar áreas para conseguir desvendar os segredos da narrativa.

Na trama, estavam incidentes com o oculto e com rituais de magia negra. A questão não-linear da exploração de um cenário limitado e o bom uso de quebra-cabeças se tornaram duas questões fundamentais para o primeiro game de Resident Evil.

A mansão cheia de zumbis

O primeiro título da saga Resident Evil, lançado em 1996, apresentou dois protagonistas que ainda são favoritos dos fãs: Chris Redfield, membro durão da força tática STARS; e Jill Valentine, habilidosa soldado que deveria ser atraente para os garotos e um exemplo de bravura para garotas.

Outro personagem carismático é o vilão manipulador Albert Wesker, que é introduzido na narrativa como um agente duplo. Ainda em termos de narrativa, o primeiro jogo também apresenta o universo que seria utilizado em toda a franquia, em que a megacorporação Umbrella passa a realizar testes com um vírus desconhecido, cuja consequência é a "zumbificação" de suas cobaias, entre outros efeitos, como a criação de variadas armas biológicas.

Claro, isto seria desmembrado, estendido e ampliado em jogos futuros. No primeiro Resident Evil, toda a ação se passa quase em sua totalidade dentro de uma mansão e seus túneis subterrâneos, em que os heróis devem enfrentar cachorros mortos-vivos, aranhas gigantes, zumbis, e criaturas como o Hunter, a Chimera ou o Tyrant, todas manipuladas para se tornarem super guerreiros. Na parte jogável, o game concentrou todas as características hoje conhecidas por mecânicas de um Survival Horror.

A perspectiva mais essencial é simples: o jogador deve sobreviver. Isto é, o cenário em que os personagens estão inseridos é tão extremo que sair com vida já é uma grande vitória. Para tanto, é necessário resolver quebra-cabeças e decifrar documentos. Para avançar, o jogador busca por itens importantes podem dar acesso a novas áreas ou indicar onde estão novos itens, bem como explorar novamente salas pelas quais já havia passado – exatamente a estrutura de uma caça ao tesouro, mas com cães do inferno para completar o quadro.

Outro ponto constituinte de um Survival Horror é colocar à disposição do jogador recursos escassos, além de incluir uma capacidade limite para carregar itens de cura ou balas. É importante que exista confronto e combate, mas eles devem ser balanceados com outros tipos de jogabilidade, como exploração. Além disso, adicionaram-se zumbis à equação, e um esmero na hora de criar momentos tensos e cheios de suspense, com a finalidade de incluir elementos de terror e medo. O sistema de inventário também foi reaproveitado em jogos seguintes.

No caso de Resident Evil, todos os elementos se encaixaram. O primeiro título, porém, é o único da série a incluir finais diferentes. São quatro possibilidades. No pior cenário, o jogador consegue sobreviver, mas a mansão segue intacta. Já no melhor, é possível salvar seus parceiros e destruir a casa.

O nascimento e as variantes do horror

Por conta do sucesso de Resident Evil, a indústria de games lançou alguns games considerados seus “clones”, como Clock Tower e Corpse Party (que contava com 20 finais diferentes), ambos lançados ainda em 1996. No mesmo ano, ainda vale destacar os ambientes 3D de Overblood. Mais tarde, games como The Note (1997) e Hellnight (1998) foram os primeiros Survival Horror a utilizar de perspectiva em primeira pessoa.

Dois anos depois do game original chegar às lojas, a Capcom apresentava Resident Evil 2, protagonizado por Leon S. Kennedy e Claire Redfield (além do queijo Tofu, que deveria sobreviver somente com uma faca). Mesmo sofrendo com críticas aos controles duros e inventário que deixava o jogo muito fácil, o segundo título da série trazia a mesma mescla de mecânicas (combate, exploração, puzzles), poucos recursos e terror. No roteiro, o universo da Umbrella foi expandido para toda a cidade, o vírus ganhou novos desdobramentos com a mutação G e Ada Wong fez sua primeira aparição.

Resident Evil ajudou a popularizar ainda mais o gênero e, ainda em 1998, a franquia Parasite Eve ganhou seu primeiro título, para PlayStation. O jogo da Square Enix misturou Survival Horror e RPG, já que era possível viajar a destinos predestinados no mapa e o título contava com batalhas randômicas. Na trama, Aya Brea, uma novata nas forças policiais, deve entender seu passado e descobrir uma conspiração que lida com mutação das mitocôndrias. Já o segundo game da saga, liberado para o mesmo console em 1999, modificou o uso de armas e o tempo de recarregamento, que deixava a protagonista vulnerável.

Também foi em 1999 que Silent Hill chegou às lojas, game que é considerado uma obra-prima do terror psicológico. Sua base é a mesma de Resident Evil: poucos recursos para o combate e uma mecânica que impulsiona o jogador a explorar cenários e resolver quebra-cabeças.

A diferença aqui foi a profundidade em que a narrativa e jogabilidade se misturavam, sem contar a história e a misteriosa e terrível cidade, que se apresentava em versões normal, escura e alternativa. Como o protagonista Harry Mason não era versado em armas ou combate, ele não pode sofrer muitos golpes, a mira não é firme e ele geralmente fica sem ar depois de correr algumas quadras.

Em Silent Hill, o que importava eram as simbologias, utilizadas para contar a história, mas também para desenvolver a cidade e seus monstros. Outro pilar era a parapsicologia, e os desenvolvedores partiram do princípio de que a energia do pensamento poderia se manifestar em ambientes e outras pessoas.

Assim, muitas vezes, personagens e vilões são reflexos do mundo interno do protagonista, e a questão do terror é tratada desta mesma maneira íntima: colocamos para fora aquilo que mais tememos. Assim como no primeiro Resident Evil, o jogador podia completar o jogo com quatro diferentes finais - e mais um quinto, zombeteiro, em que o protagonista era abduzido por extraterrestres.

Pra completar a solidifcação desse gênero, se Resident Evil é o Survival Horror inicial, Parasite Eve é a mescla com elementos de RPG, e Silent Hill é o horror psicológico, Fatal Frame, de 2001 para o PlayStation 2, pode ser considerado o horror fantasmagórico. A capa até continha a frase “Baseado em uma história real”.

Na verdade, o game foi inspirado em duas histórias do folclore japonês, mas a sua criadora, a Tecmo, queria adicionar uma nova camada ao gênero. No roteiro, Mafuyu Hinasaki é um aspirante jornalista que pesquisa três assassinados, todos ocorridos na mesma mansão. O garoto ainda tem uma premonição, de que seu irmão sofreria o mesmo destino, e, por conta disso, decide explorar a mansão e desaparece. A partir daí, a história seu Miku, seu irmão, que o procura. O grande trunfo da série é levar a máxima de poucos recursos ao extremo, sendo que a principal arma do protagonista é uma câmera fotográfica, que ele deve usar para tirar retratos dos fantasmas.

17 anos depois, o Survival Horror está em baixa nos games mainstream, com todas as franquias que ajudaram a construir o gênero tomadas por críticas negativas. Mesmo as novidades desse estilo de jogo, como Dead Space, parecem preocupar-se mais com o grande público - que não é comprador maciço desse gênero - do que com a manutenção do "terror de sobrevivência" nos games. O retorno é esperado, porém, já que a Capcom deve realizar um reboot de Resident Evil, de olho justamente no que foi deixado para trás. Estaremos aguardando debaixo da cama...