Em 1996, a Core Design decidiu investir em um projeto que trabalhava há anos. Inspirada por exploradores e aventuras de tesouros perdidos, a empresa queria fazer um jogo que apresentasse uma nova heroína. A protagonista, Laura Cruz, teria armas e uma atitude digna dos marmanjos que tomavam conta do cinema de ação naquela época. Comprada pela Eidos, a Core então obteve o sinal verde para o projeto, com uma condição: mudar o nome da personagem. Eis que surge o nome de Lara Croft, a protagonista de Tomb Raider.

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Toby Gard é o cara responsável pela criação da heroína. Com uma clara inspiração em Indiana Jones, mas com a ascêndencia inglesa como um diferencial, a personagem caiu no gosto do público imediatamente. O primeiro título vendeu mais de sete milhões de cópias e acrescentou inovações que perduraram por anos em jogos do gênero adventure. O combate, os puzzles e a exploração compassada angariaram fãs rápido e fez com que uma sequência fosse encomendada.

Enquanto a primeira história conta mistérios da civilização americana (América do Sul e América Central, especificamente), o segundo jogo segue para tesouros orientais. A China foi o destino escolhido pela Core, que continuou a desenvolver a franquia. O ínicio da jornada de Lara é feito na Muralha da China, com uma trilha e gráficos bem avançados para a época.  

O escopo da trama e boa parte dos puzzles já estava pronto desde o desenvolvimento do primeiro game, mas com o sucesso do lançamento a Eidos exigiu um jogo maior. Com a saída de Gard da empresa, Stuart Atkinson entrou para liderar o projeto e expandir as inovações do primeiro jogo. Tomb Raider II saiu um ano depois de seu antecessor e vendeu um pouco mais, solidificando Lara Croft como um dos maiores nomes da geração.

Tomb Raider III: The Adventures of Lara Croft é o primeiro game sombrio da série. O segundo jogo aumentou as possibilidades de gameplay e este aqui trouxe uma face mais obscura de Croft, que sai pelo mundo inteiro procurando pedaços de um meteoro que caiu na Terra. O teor mais “dark” de Lara seria resgatado mais a frente quando a Eidos decidiria seguir a onda “realista e sombria” vigente em outras mídias. Matrix e seus seguidores tinham em Tomb Raider mais um agregado.

Em resumo, esta trilogia inicial pode ser considerada um grande pacote de revolução em mecânicas para o gênero de exploração, incluindo aí puzzles e plataforma 3D. As sequências adicionaram melhorias aos elementos apresentados no jogo anterior e estabeleceram um padrão para os jogos de ação que pelos próximos anos e, no mínimo, nas próximas duas gerações de consoles.

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A evolução do primeiro modelo e a ida ao cinema

Depois da trilogia principal, Tomb Raider ganhou dois jogos, The Last Revelations e Chronicles. O teor mais obscuro dos últimos dois games da série continuaram ali e melhorias foram feitas na jogabilidade, mas o avanço veio mesmo com Angel of Darkness.

Lara ganhou traços mais arredondados, um olhar mais penetrante e, de vez, se tornou o símbolo sexual para uma geração de jogadores. Os óculos circulares e o shortinho viraram marca registrada em qualquer evento de cosplayers ou reunião nerd. Em pouco mais de cinco anos, a exploradora passou de uma simples garota da Core para uma força feminina bem incomum dos games -  com voz, corpo e atitude de protagonista nada comuns na indústria naqueles tempos.

Enquanto a popularidade da franquia aumentava, a evolução dos jogos estancava. Os títulos seguintes tentaram melhorar as mecânicas inovadoras do início da série, mas pouco acrescentaram ao gênero. Tomb Raider Legends, primeiro jogo sem as mãos da Core e feito pela Crystal Dynamics, trouxe mais sobre o passado de Lara e foi o único produto a dar certo de verdade em um bom tempo. Isso por que Hollywood decidiu, como previsto, transformar Angelina Jolie na Croft de carne e osso.

O primeiro filme veio em 2001 e de cara agradou aos fãs da série pela protagonista. Parecida com Lara e uma das atrizes mais sensuais da época, Jolie era a atriz perfeita para o papel. O roteiro, porém, desagradou e nem mesmo o admirador mais ardoroso consegue defender muito bem o longa de Simon West. O sucesso comercial foi o suficiente para uma sequência chegar ao cinema, contudo. A tarefa de Tomb Raider - A Origem da Vida era superar seu antecessor, mas o que conseguiu foi enterrar de vez a franquia no cinema.

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Uma nova era

Tomb Raider Underworld, de 2008, melhorou os gráficos e começou a flertar com uma Lara Croft que seria a responsável pela maior virada na curta vida da personagem. Sob a tutela da Square-Enix e da Crystal Dynamics, Tomb Raider entraria em uma nova fase, renegando o passado sensual e explorando a veia batalhadora da heroína. Em 2013, o reboot conhecido simplesmente como Tomb Raider mudou a série de patamar.

Lara Croft deixara de ter a sensualidade como uma característica dominante e agora era uma aventureira em fase de aprendizado. Aclamado por crítica e público, o game coloca o jogador para sobreviver em uma selva impiedosa, onde todos os recursos servem como arma e cura. Os elementos apresentados há cerca de dez anos estavam ali, mais modernos e agora com uma narrativa condizente com a geração atual de consoles - e até mesmo com o novo público.

O sucesso arrebatador trouxe de volta a série aos holofotes. Um novo filme está em pauta e uma sequência do reboot acaba de chegar exclusivamente ao Xbox One. Tomb Raider não é tão popular assim desde o seu lançamento. Mais importante que isso, porém, é que a série não tem jogos tão bons assim desde Tomb Raider II, pode-se dizer.

Desde o seu sucesso, Lara carrega a responsabilidade de levar o gênero de aventura e exploração ao seu limite, ao mesmo tempo que finca a bandeira das mulheres como símbolo de protagonismo e força no entretenimento. Nos últimos anos, ela tem feito isso com loucor, e Rise of The Tomb Raider é mais um atestado desta façanha que esta exploradora inglesa conseguiu alcançar.