Os jogos de luta já foram considerados os mais importantes dentro de um cenário mundial do divertimento eletrônico. A forma como o conhecemos hoje nasceu timidamente no final dos anos 80, com o lançamento de Street Fighter. Mas foi seu seu sucessor, Street Fighter II, de 1991 que transformou os jogos de luta em verdadeiras estrelas do mundo dos videogames.

Todas as empresas queriam uma fatia daquele sucesso. E as pessoas abraçavam cada um dos lançamentos como se fossem ouro puro. Uma geração estava sendo formada, de jogadores especializados em técnicas de combate virtuais, hadokens, shoryukens, power geisers, hishokens, tudo do lado direito da tela. Uma geração que seria esquecida ao final da década de 90, com o desaparecimento dos jogos de luta do mercado.

Agora, em 2016, Street Fighter V retorna com a proposta de ser um game acessível, até para quem nunca deu um soco digital. Mesmo tão acessível quanto ele se apresenta, SFV é uma continuidade do gênero, por isso baseia-se em certas normas e estratégias que cresceram junto do gênero e são, de certa maneira, novidade aos jogadores pós-Crash das lutinhas.

Técnicas que até então não tinham um nome próprio definido, mas que nasceram nas ruas, da mesma forma que no resto do planeta. Hoje, com o advento da internet e da aproximação com outras “culturas dominadoras”, acabamos cultivando o hábito de utilizar nomenclaturas estranhas que dão outra dimensão a simplicidades, como por exemplo "wake up techs", "blockstrings" e "crossups". E isso só atrapalha na hora de aprender algo sobre o jogo.

Mas não vamos nos apressar. A ideia deste tutorial é apresentar aos futuros mestres dos jogos de luta, algumas dicas que servem não só para Street Fighter, como também para todos os jogos de luta do mercado. Todos mesmo (desde que sejam baseados em combates 2D).

1 - Não faça do seu controle um sabonete

Dica de ouro para todo mundo que acha bacana jogar um jogo de luta esfregando o controle de qualquer jeito e rezando para a execução de um golpe, qualquer um. Qual a graça disso? Imagine-se jogando qualquer carta na mesa em uma partida de Truco ou Pôquer, é divertido? Jogue Mario Bros. de olhos vendados, é quase a mesma coisa, você não saberá o que está fazendo e qualquer avanço vira lucro. Não seria muito mais legal utilizarmos nossa capacidade de criar estratégias e vencer os oponentes conscientes dos nossos próprios atos? Vai deixar seu lado Hollow te dominar toda vez? Resista a esta tentação, só lhe fará bem.

Seja calmo e paciente, seu dedão agradecerá a longo prazo

2 - Utilize seus botões normais

Ou como gosto de chamar, a “Síndrome do 'Olha, sem as mãos!'”. Quando estamos com a auto estima lá em cima, gostamos de nos exibir. Aí vem aquela vontade de usar o golpe mais bonito (porém inútil) do seu arsenal apenas para impressionar a namorada que está na plateia. Muitas vezes, um simples soco ou chute bem colocado resolve muito bem o serviço, o deixa na vantagem e estressa seu adversário. Tenha sempre à mão seus golpes especiais, mas não dependa somente deles. Rock Lee nunca precisou de jutsus para vencer uma luta.

3 - Conheça seu personagem

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Tire um tempo para experimentar o elenco de lutadores. Escolha aquele que mais satisfaça as suas necessidades. Prefere personagens de carregamento? Tem um estilo mais ofensivo? Pesquise, aprenda os seus movimentos e o mais importante, tenha em mente suas fraquezas.

Esqueça aquelas histórias de pessoas que analisam os frames de animação de cada personagem do jogo. Não se impressione com isso. Vai chegar uma hora, que de tanto jogar com personagem X ou Y, você também será capaz de saber quanto tempo ele demora para soltar um golpe, quanto tempo leva para se recuperar e começar a se defender. Não inverta a ordem desse aprendizado. Chegará um momento em que não será preciso estudar números como se estivesse prestando um vestibular. É preciso entender antes a razão das coisas via experimentação. #empirismorlz

4 - Jogos de luta não são difíceis, mas requerem experiência

Quando você começa a treinar Judô, o sensei lhe dá a faixa preta logo de cara? Então por que imitar o combo do Daigo Umehara assim que pega o controle em mãos para uma partida de SF? Não se decepcione com sua própria falta de habilidade. Isso vem com a prática. Já a experiência vem com o tempo, enfrentando situações diversas com adversários variados.

Essa experiência será a única vantagem que os jogadores mais antigos terão em relação aos mais novos. Uma experiência mais ou menos de 20 anos jogando em bares, fliperamas de rua ou shopping centers, situações verdadeiras de combate e muitos adversários. Muito trabalho de office boy (essa carreira existe ainda?) acelerado para ganhar aqueles minutos extras do almoço e gastá-los em algum fliperama (não era legal esquecer a pasta em cima da máquina). Não dá para acelerar esse processo e tudo vai depender da sua própria vontade de correr atrás.

Uma das situações mais comuns que a experiência lhe ensina: Como fazer com que seu adversário pule para cima de você? E se ele pular, o que você vai fazer a respeito? Nunca ouviu aquele ditado, “Pulou, é róris!”?. Crie sua própria situação de combate, seja rápido e preciso na resposta. Imagine-se na pele do seu adversário e pense como ele. Transforme-o em sua marionete, faça-o sucumbir à sua vontade, aprenda as mais variadas formas de armadilhas e nunca se desespere. Essa é a tal da “sharingada” que a galera mais nova comenta no rolê, uma habilidade nascida da experiência.

5 - BNBs

Tá aí um termo estrangeiro que não há mal algum em aprender. BNB quer dizer “bread and butter” ou seja, seus combos básicos. Tenha a certeza de decorar pelo menos um combo básico do jogo. Normalmente ele consiste em três movimentos: um ataque aéreo, um ataque no chão e um comando especial. Todos cancelados e encaixados de uma só vez, sem a quebra de continuidade.

Quer facilitar os comandos do seu BNB? Depois da voadora, deixe a alavanca posicionada para baixo, assim você pode começar o movimento do hadoken logo em seguida. Voadora, gancho e magia, funciona basicamente em tudo quanto é jogo 2D.

Meça o tempo correto da sua voadora, de modo que ao acertar o movimento, seu personagem já esteja quase no chão para continuar a sequência, caso contrário não haverá combo.

“Voadora, gancho e magia” era o combo básico que todo mundo aprendia quando começava a jogar The King of Fighters’ 94. Ele era tão forte na época que tonteava o oponente de primeira. Era bizarro!

6 - Não tenha medo de perder

Às vezes não jogamos uma partida por nos sentirmos intimidados, seja pelo adversário, pelo público (afinal, jogos de luta também são incríveis agregadores de plateia) ou pela derrota iminente. Ponha na sua mente que um bom adversário é um adversário melhor que você. Mas não tome essa afirmação como uma desculpa para não se esforçar. Fingir que não se importa com o resultado é o pior tipo de insulto para o seu oponente.

Não tome essa dica como uma daquelas metáforas de rompimento das nossas próprias barreiras. É legal enfrentar um cara mais experiente porque podemos aprender sempre alguma coisa nova. Mesmo que ao custo da nossa derrota.

7 - Footsies

Sabe aquele joguinho bobo em que o objetivo é bater nas costas da mão do amiguinho? E para isso você precisava ameaçar algumas vezes, esperar ele relaxar e então, dar o golpe final? Transporte esse pensamento para dentro de um jogo de luta e você terá aprendido o conceito básico de footsies.

É praticando essa técnica que você se tornará um jogador melhor. Controlar o espaço do cenário, fintar, vencer no erro do oponente, deixá-lo com os nervos à flor da pele. O jogador que melhor controlar esse tipo de situação será o vencedor.

Exercício: fique no chão durante uma luta o máximo que conseguir. Faça com que seu adversário saia do chão primeiro (mas esteja preparado para contra atacar). Normalmente, jogadores que pulam demais se colocam em um estado de vulnerabilidade maior.

8 - Aproveite certos momentos

Sabe quando você vai aplicar o pilão do Zangief, mas na hora de fazer o movimento ele acaba simplesmente pulando? No lugar de realizar o movimento sozinho, experimente pular  para cima do inimigo, mas não aperte nenhum botão. Ao invés disso, realize o movimento do pilão para que, no exato momento em que tocar o chão, o comando esteja completo e você consiga agarrá-lo sem maiores problemas.

Só nessa jogada você conseguiu aplicar uma finta (voadora sem voadora) e um golpe surpresa. A tática é uma jogada bem recorrente e bastante antiga, principalmente dentro de jogos em que personagens que agarram com comando são mais fortes (a série KOF é mestre nisso), por isso ela não vai funcionar 100% das vezes (funciona melhor contra jogadores experientes, já que os inexperientes geralmente chacoalham o controle loucamente e são imprevisíveis, o que pode parecer bom, mas o caos total nunca é).

Outra jogada bastante utilizada por todos os jogadores é aproveitar o seu tempo o chão quando derrubado por uma rasteira. O tal do “wake up move” é exatamente isso, deixar um golpe na manga para quando se levantar e causar um dano surpresa ao adversário.

Essa tática é mais batida que abrir doce escondido na prateleira do mercado, e ela tem uma porcentagem de acerto de menos de 50%. É uma das apostas mais arriscadas em uma partida, e é usada em quantidade proporcional ao aumento do seu desespero. Por isso, fique de olho no no seu oponente e jogue uma isca gorda em sua direção. Assim que ele levantar usando um golpe não muito seguro, seja cruel em sua punição com o melhor BNB que conseguir lembrar.

E os profissionais também dão a letra:

Robson “Patoz Robinho”, jogador profissional do time Patoz “OG”

“É bom o pessoal treinar bastante, tirar mais ou menos uma hora de treino por dia para pode se adaptar ao jogo. Eu procuro sempre ficar no chão, pular pouco, principalmente porque, como jogo com Ken, é fácil punir as pessoas que pulam para cima de mim”

Alexis Nothenberg, competidor “OG”

“Além de você ter um controle emocional muito bom, é preciso sentir o estado emocional em que seu oponente se encontra. Ver se ele está com muita liberdade para te atacar ou ficando muito na defensiva, prestar atenção no que ele quer fazer naquele momento. Fique de olho na sua energia, no tempo da partida, no round em que você se encontra… É sempre bom tentar se colocar no lugar da pessoa para entendê-la e prever seus movimentos”

Danilo Salmon, competidor e streamer do Calibre Lordal “OG”

“Escolha um personagem que combine com o seu estilo de jogo.Se é muito agressivo, escolha um personagem mais ofensivo, se é mais calmo, tente escolher algum que funcione melhor na defesa, mas jogue do jeito que achar melhor. Teste todo o elenco, veja quais são as suas características e trabalhe em cima disso”

Dennys Michelassi, Gerente de Comunidades da Capcom Brasil “OG”

“Seja confiante. Não chegue nos campeonatos pensando ‘Puxa, tem um monte de campeões, vou perder’. Tente conhecer o seu limite para entender como superá-lo. E treine bastante. Se você eventualmente perder para uma jogada específica que você não sabe, vá para o training mode e ensaie aquela mesma jogada, tente achar soluções para ela”

Adson Okubo, CNB Saka, jogador profissional pela CNB “OG”

“Minha dica para quem está começando é pegar personagens mais fáceis, como Ryu, para que você possa aprender os fundamentos do jogo. Assim você começa a aprender a controlar o espaço e tenha na mente o seguinte: controle seu espaço com seus botões médios e magias, para quando o adversário pular, você aplica um shoryuken. E se ele ficar no chão, faça pressão com chute médio e hadoken”