“Excesso” é a palavra mais apropriada para descrever Assassin’s Creed. Para uma série relativamente recente, há games demais: um por ano desde 2009, com dois só no ano passado - sendo que um deles, Unity, provavelmente foi o maior fiasco de 2014, por apresentar, veja você, bugs demais. Acha que é pouco? Não se esqueça que o deste ano, Victory, já é conhecido do público desde dezembro.

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Como toda boa franquia que está saturada, a Ubisoft tomou o caminho de criar derivados com jogabilidade diferente, para atrair quem já está cansado de games que, na essência, são mais do mesmo. É o caso de Assassin’s Creed Chronicles: China, o primeiro de uma trilogia de derivados que saem este ano cuja principal proposta é a simplicidade. Aqui, os gigantescos mundos abertos dão lugar ao gênero de plataforma, com cenários em 2.5D.

O primeiro capítulo é estrelado por Shao Jun, a última aprendiz de Ezio Auditore que aparece no curta Assassin’s Creed Embers. No game, vemos o que acontece com Jun depois do filme: após receber as lições de seu mentor italiano (que, aqui, faz uma pontinha nos tutoriais), ela retorna à China, agora comandada pelos Tigres, a organização templária que dizimou os assassinos e fez a protagonista fugir para a Itália.

Para começar, o cenário ajuda muito. Não são poucos os fãs que pedem um Assassin’s Creed oriental e o primeiro Chronicles dá o gostinho perfeito de como seria um jogo da série principal situado por lá. Além de ter as habilidades convencionais dos assassinos, Jun se move e se veste quase como uma ninja, priorizando invasões silenciosas e movimentando-se pelos cantos e por locais sombrios, que estão em vários pontos do cenário.

Ainda que o jogo te encoraje a se esconder, você também pode encarar os oponentes abertamente. O combate, assim como nos games principais, é baseado em contra-ataque - você deve se defender do inimigo para então atacá-lo até que ele esteja enfraquecido o bastante para receber o golpe final. Dependendo de como você passa por cada cenário, o jogo te pontua por estilo: Sombra para quem passa sem ser notado, Briguento para quem encara os soldados de frente e Assassino para quem não faz barulho, mas mata os inimigos. Os pontos vão evoluindo Jun a cada fase, garantindo novas habilidades e aprimorando as que ela já tem.

Plataforma é sempre uma boa opção, por ser familiar a muitos jogadores, e, por isso, é o gênero no qual os desenvolvedores têm mais espaço para experimentar. Nesse caso, o que mais impressiona é como a britânica Climax Studios, desenvolvedora do game, incorporou todos os aspectos dos Assassin’s Creed convencionais a um mundo 2.5D. Das modalidades de assassinato aos saltos de fé, nada parece forçado nem fora do lugar - no máximo, a visão de águia é o único elemento que ficou sobrando, servindo apenas para mostrar o caminho dos inimigos.

A Climax também merece méritos na construção dos cenários, que quase sempre tem mais de um caminho para chegar ao ponto final e, em alguns casos, também tem objetivos secundários. Sabe aquela sensação de terminar uma fase sem ter visto metade dela? É a impressão deixada pelas fortalezas e portos chineses do primeiro Chronicles.

Além de bem arquitetados, os cenários, bem como as cenas de corte, também são um dos pontos altos. A Ubisoft já havia adiantado que cada parte da trilogia teria um visual inspirado na estética de seus respectivos países e períodos históricos, e na aventura de Jun tudo é estilizado como uma pintura chinesa em movimento, em um resultado belíssimo.

A estratégia da Ubisoft com Chronicles foi manjada, mas nem por isso deixa de ser efetiva. O primeiro título dessa trilogia é tudo o que Assassin's Creed não tem sido ultimamente: simples, focado e sem excessos. Tomara que estas lições sejam aplicadas a série como um todo. Caso contrário, AC corre o risco de se tornar mais uma daquelas franquias nas quais os derivados são mais legais do que os games principais.

Assassin’s Creed Chronicles: China está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC. A versão testada foi a de PlayStation 4.

Nota do crítico