Depois da decepção de Assassin's Creed III, é ótimo ver como a Ubisoft conseguiu recuperar a mão em Assassin's Creed IV: Black Flag, criando novas mecânicas sem perder a essência da série.

Criticado pela estratégia do "um jogo por ano", que tem arruinado a qualidade de outras propriedades dos games, o embate entre templários e assassinos fez uma aposta certeira na ambientação caribenha na era de ouro dos corsários. Controlando o pirata Edward Kenway, o jogador tem acesso a tudo o que já fazia a série divertida - o "free running", a exploração e miríade de missões paralelas - e agora muito mais, com a adição maciça da navegação.

A mecânica do controle de barcos, que já havia surgido como a grande novidade da parte III da série, aqui é refinada e realmente aproveitada. A bordo do Gralha (Jackdaw), o pirata deve desbravar todo o Caribe, que é repleto de possibilidades viciantes. Há poucos games de mundo aberto com tantas coisas interessantes e divertidas a fazer como Assassin's Creed IV: Black Flag. A missão principal, mais simplista que capítulos anteriores, funciona como um reinício plenamente satisfatório à série e traz missões variadas, que misturam aventuras em terra, mar e fora do Animus.

Mas o entretenimento verdadeiro está nas atividades paralelas. Se nos jogos anteriores reconstruir as vilas, bairros ou mansões era algo que passava o tempo, aqui o foco é todo no Gralha. As melhorias requerem um investimento considerável de tempo - e o dinheiro falta constantemente (especialmente se você não joga online, onde há recursos mais abundantes). É necessário planejar muito para obter o último upgrade de canhões, casco ou aríete frontal - e eles envolvem não apenas recursos saqueados (tecido, madeira e metal) e muito dinheiro, mas também plantas de melhorias, encontradas em tesouros enterrados ou naufragados.

Como se obter esses mapas não fosse desafio suficiente, já que você deve explorar grandes áreas para achá-los em horas e horas de conteúdo - 100% do game deve levar aproximadamente umas 60~70 horas -, que incluem caçadas e localização de variados animais, missões de mercenário (assassinatos e contratos navais) e colaboração com a facção dos assassinos para destravar um segredo templário. Os "reales" são escassos e usá-los estrategicamente é parte do negócio (esqueça as melhorias estéticas ou as melhorias na cidade de Nassau a princípio).

Por ser um pirata - e não um assassino -, Edward, protagonista muito mais interessante do que Connor (AC III) desde o princípio, desfruta de uma liberdade pouco explorada na série. Sua jornada é muito menos centrada na salvação da humanidade e mais focada no ganho pessoal. O resultado agrada, já que é menos sisudo do que o normal. A intenção deste game (excetuando as partes fora do Animus, que só vão agradar de verdade os fãs de longa data) é mesmo dar uma sensação de escala e possibilidades divertidas.

A sensação de jogar Assassin's Creed IV: Black Flag é semelhante à gerada pelo antológico clássico Sid Meyer´s Pirates. Encarar um forte de frente, escalá-lo e depois torná-lo aliado está entre os momentos mais satisfatórios nos games deste ano. O mesmo com as batalhas épicas, como as abordagens dos grandes navios em meio a tempestades e a gritaria das tripulações - ambientação das melhores que os games já produziram! Difícil não celebrar ao lado dos seus aliados quando começam os urros da vitória.

Ao optar por ser um tremendo jogo de piratas primeiro e um Assassin´s Creed depois, Black Flag - cuja localização para o Brasil é de primeira, em dublagem e legendas - torna-se um dos melhores games da série e injeta novo ânimo e possibilidades à mais lucrativa franquia da Ubisoft. Afinal, se o game teve suas possibilidades cerciadas pela atual geração de consoles, o que a empresa conseguirá fazer na próxima?

Veja a nossa entrevista com Corey May, criador da série:

Nota do crítico