Bravely Default não é um Final Fantasy, mas provavelmente é um dos melhores Final Fantasy lançados nos últimos anos. Em um momento em que os RPGs japoneses abandonam suas convenções para abordagens lineares cheias de ação, a parceria da Silicon Studio com a Square-Enix é um oásis para os fãs.

Tudo lembra um JRPG do NES ou do SNES. Batalhas por turnos e encontros aleatórios marcam presença. Até o enredo é fortemente inspirado na história que todos já ouvimos: quatro cristais elementais foram corrompidos e cabe aos Guerreiros da Luz recuperá-los para evitar o apocalipse. O primeiro Final Fantasy já tinha essa trama, e Final Fantasy IX a recuperou na virada do milênio.

Mas Bravely Default consegue pegar estas convenções e transformá-las em algo novo e saboroso. O sistema de batalhas é dinâmico sem deixar de lado a profundidade. Ao mesmo tempo, o enredo ganha novidades o suficiente para refrescar a premissa. Tiz, Agnés, Ringabel e Edea têm personalidade. É interessante ver como os quatro ganham intimidade ao longo da história. Agnés tem uma ingenuidade irritante em alguns momentos, mas é algo de se esperar de alguém que passou a vida trancada em um santuário.

O caráter razoavelmente forte dos personagens não é refletido em batalha - e isso é algo ótimo. Toda a equipe é customizável pelo grandioso sistema de classes do jogo. São 24 delas, umas opcionais, outras não. A inspiração veio de Final Fantasy V.

Um lutador pode mudar de classe a qualquer momento, mas precisa ganhar níveis antes de aprender novas habilidades permanentemente. A partir daí, mesmo se mudar de profissão, pode equipar magias pertencentes a outra classe. Essa possibilidade de misturar capacidades torna as batalhas muito mais interessantes.

Existem classes indispensáveis, como White Mage, Black Mage e Knight. Elas podem ser acompanhadas por escolhas menos óbvias: o interessante Spell Fencer, por exemplo, combina bom ataque físico e dano elemental. O Merchant pode gastar milhões de pg (moeda do game) para subornar os inimigos e terminar a batalha mais cedo.

Para conseguir cada profissão, é preciso antes enfrentar um chefe. Alguns deles só podem ser encontrados cumprindo certos requisitos, ou em certo horário do dia. Fazer essas missões paralelas e adquirir novas habilidades e roupas (cada personagem tem um design diferente por classe) vira uma maneira divertida de gastar tempo dentro do jogo.

Outra faceta do sistema de batalha é o que dá nome ao game. Além das opções clássicas de um RPG, há no menu os modos Brave e Default. Semelhante a um modo de defesa, o Default diminui o dano tomado, mas também armazena BP  - Brave Points. Esses pontos podem ser usados para atacar várias vezes por turno usando o modo Brave.

Também dá para investir no Brave logo no começo da batalha e atacar até quatro vezes seguidas. Isso pode acabar uma luta em apenas um turno. No entanto, se o inimigo não for eliminado nessa investida, seus lutadores ficam indefesos por vários turnos até poderem atacar novamente. Saber balancear Brave e Default é essencial para vencer batalhas contra chefes, já que eles também abusam destes modos.

Bravely Default também nada contra a maré dos games recentes ao ser mais difícil que a média. Não é impossível terminá-lo, mas alguns chefes exigirão que o jogador pare para evoluir seus personagens um pouco. Quem não for um fã hardcore não tem o que temer, no entanto. Há maneiras de reduzir a dificuldade a qualquer momento, e é possível até diminuir a taxa de batalhas aleatórias nos mapas mais difíceis - mesmo que isso atrase a escalada de níveis depois.

Microtransações estão presentes, mas a Square-Enix as inseriu de um modo não-invasivo. Em qualquer batalha, o recurso Bravely Second congela o tempo e permite um movimento a mais. Os pontos gastos a cada vez que isso é usado podem ser comprados, mas também dá para recuperá-los colocando o jogo em modo de espera por algumas horas. De qualquer maneira, nunca é necessário usar o Bravely Second - para fazer esta crítica, ele só foi usado no tutorial do game.

Sistema de batalha e história à parte, Bravely Default é um jogo lindo. Os cenários, com câmeras que se aproximam e distanciam de maneira inesperada, surpreendem a cada momento. E a trilha sonora é exuberante, com melodias que ficam na cabeça - é só escutar algumas das músicas espalhadas por esta crítica.

O novo game da Square-Enix pode não ser um Final Fantasy em nome. Porém, contém tudo o que fazia um game da série ser apaixonante em seus tempos áureos. Mesmo que a franquia criada por Hironobu Sakaguchi tenha tomado outro rumo há certo tempo, é reconfortante ver que o JRPG ainda tem lugar em meio aos games modernos.

Bravely Default é exclusivo do Nintendo 3DS.

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Final Fantasy: The Spirits Within
  • Gênero

    Ficção Científica

Nota do crítico