Embora fosse visualmente deslumbrante, com animações à altura do que os fãs da série esperavam da capacidade dos consoles da atual geração, Final Fantasy XIII, lançado em 2009 depois de cinco anos em desenvolvimento, era irritantemente linear, tanto na exploração de mundos quanto na evolução dos personagens.

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A Square Enix faz com Final Fantasy XIII-2, basicamente, uma correção de rumo apressada. Criado em pouco mais de um ano, o game corrige as falhas do anterior - mas, em contrapartida, não tem o mesmo refinamento visual e a mesma homogeneidade, e a trama é um verdadeiro samba do Chocobo doido.

Como trata-se de uma continuação direta, vários personagens retornam (mesmo que como coadjuvantes) e as situações fazem referências constantes a eventos passados. É preferível que você tenha jogado FFXIII, portanto. Se não jogou, logo na tela de início FFXIII-2 oferece aos jogadores a oportunidade de ler tudo o que se passou até então.

A trama começa com a heroína Lightning em Valhalla, um limbo no espaço-tempo onde ela agora - depois de ajudar a salvar a sua irmã caçula Serah e todo o continente Cocoon em FFXIII - defende a deusa Etro de uma nova ameaça, o misterioso Caius, guardião da linha do tempo. Sozinha, embora tenha os poderes de uma deusa-guerreira, Lightning é incapaz de derrotá-lo. Sua esperança é trazer Serah do passado, para que possam combater Caius juntas, salvar Etro e, por extensão, todo o continuum.

Resumindo assim, parece uma premissa relativamente simples, mas em suas viagens no tempo o game se embola em conceitos como a retrocausalidade (eventos no futuro podem alterar o passado) e, quando menos se espera, todos os personagens de FFXIII já estão reaparecendo 200, 400 e 500 anos depois de sua história original (a queda de Cocoon no jogo anterior representa o ano zero na linha do tempo deste game, então os anos são contados "after fall", A.F.).

No fundo, é até bom que a trama seja tão rocambolesca: o jogador padrão, que não domina física quântica, pode simplesmente desistir de entendê-la e curtir a jogabilidade. Porque, no fim das contas, FFXIII-2 só recorreu à ideia das viagens no tempo para permitir que o jogador vá e volte por fases aleatoriamente - a solução mágica contra a tão odiada linearidade de FFXIII.

Ao mesmo tempo em que a exploração dos territórios deixa de ser restritiva, os upgrades também ficam mais livres. O sistema de evolução de personagens em forma de constelação, o crystarium, agora permite que o jogador se concentre em uma ou duas funções (como tornar Serah uma sinergista ou sabotadora, por exemplo), enquanto o crystarium engessado de FFXIII na prática forçava o jogador a espalhar os pontos de experiência em todas as funções disponíveis.

Essa liberdade é muito bem-vinda, aliada a outras melhorias (como trocar de líder no meio do combate) que parecem devolver ao jogador o controle da ação. Só não são mudanças perfeitas porque - com exceção do chefão e de um ou outro monstro mais cascudo - elas deixaram o jogo muito fácil...

E aí não precisa ser físico ou matemático pra entender o porquê. Como a taxa de encontro com monstros é alta (em Academia 400AF é impossível dar dois passos sem arrumar briga) e a quantidade de pontos dados a cada luta não varia (aqueles monstros fracos do começo continuam rendendo bons pontos de experiência sempre que você volta lá), fica muito fácil evoluir além da conta. Eu tive dificuldades para matar Caius no primeiro embate em Oerba 200AF, por exemplo. Daí bastou explorar um pouco outra área, voltar ao vilão, e consegui derrotá-lo já no primeiro stagger.

É visível que FFXIII-2 foi pensado para não ser tão difícil quanto seu antecessor: agora há a opção "normal" ou "fácil" no menu (que pode ser trocada a todo momento) e os save points inexistem (dá pra salvar só dando pausa, em qualquer lugar). Acontece que essa tentativa de tornar o game mais "amigável", por assim dizer, basicamente acabou com o desafio. Com todos os seus problemas, pelo menos FFXIII era um game homogêneo, porque difícil do começo ao fim. Já FFXIII-2, embora corrija falhas, deixou de ser desafiador.

E sem uma recompensa à altura da expectativa, resta ao jogador colecionar monstros (tentar domar um Behemoth tem lá sua graça), reparar na verdadeira salada de gêneros que é a trilha sonora (outro sinal de jogo feito às pressas) e, por fim, decepcionar-se com o final inconclusivo do game. Fica óbvio ao fim de vinte e tantas horas de jogo - é um dos Final Fantasy mais curtos - que em breve a Square Enix vai anunciar o XIII-3. Quem sabe então acerte a mão de vez.

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Final Fantasy: The Spirits Within
  • Gênero

    Ficção Científica

Nota do crítico