Quem nunca assistiu a um filme de terror e pensou: “Nossa, nunca iria atrás desse barulho esquisito que nem aquela moça” ou “Por quê ele está indo atrás disso? Tá na cara que o assassino está ali”? Until Dawn te coloca nessas situações e mostra que, mesmo que o seu instinto e a sua vontade de sobreviver sejam afiados, isso nem sempre é o suficiente para se manter vivo.

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Apoiando-se propositalmente em todos os clichês do gênero de terror, o jogo exclusivo do PlayStation 4 conta a história de oito amigos que vão passar um fim de semana em uma mansão no topo de uma montanha, mas algo dá errado e duas delas - as irmãs Hannah e Beth - desaparecem. Um ano depois, o irmão mais velho das meninas, Josh, convida o grupo a se reunir novamente no local para exorcizar os fantasmas do passado.

Embora a trama foque no grupo, alternando o controle entre os oito personagens, o verdadeiro protagonista é o sistema de “efeito borboleta” bolado pela Supermassive Games, que adapta a famosa teoria de Edward Lorenz como principal engrenagem da trama. O game pede para escolher entre duas opções o tempo todo - qual caminho seguir, que resposta dar, qual comportamento adotar - e todas as suas decisões, até mesmo as mais banais, influenciam o que acontece no futuro, muitas vezes em proporções inesperadas.

Na maioria das vezes, isso é mostrado de forma escancarada, com uma borboletinha batendo no canto da tela toda vez que você sacramentou suas escolhas, ou com flashes que mostram como decisões passadas te ajudaram (ou te atrapalharam), mas o sistema realmente brilha nos detalhes. O que você opta por fazer influencia até mesmo diálogos e cenas relativamente banais.

Logo no começo, por exemplo, o casal Mike e Jessica está doido para chegar em uma cabana afastada da mansão para transar, mas zoei a garota no meio do caminho e, quando os dois ficaram a sós, ela se sentiu desconfortável e negou as investidas do namorado. Jogando pela segunda vez, fui mais amigável com a garota e o resultado foi bem mais agradável para o rapaz.

A Supermassive apostou no sistema do "efeito borboleta" em detrimento de praticamente todos os outros aspectos do game. Isso é bem evidente na história, que empolga mais pelo que você decide do que pelos acontecimentos na tela. Funcionando mais como uma homenagem a filmes slasher como Pânico ou Halloween, a trama tem seus momentos de tensão e susto, mas suas reviravoltas são previsíveis. A decisão consciente da Supermassive fica ainda mais evidente quando se percebe que os dois atores mais famosos do elenco, Brett Dalton (Agents of SHIELD) e Hayden Panettiere (Heroes), interpretam os personagens que tem mais cara de que vão sobreviver.

A jogabilidade também trabalha em função da estrutura narrativa, usando movimentos do analógico e o gatilho do controle para emular gestos dos braços do personagem de forma similar a outros dois exclusivos da Sony, Heavy Rain e Beyond: Two Souls. Embora os controles truncados sejam irritantes nos momentos de exploração, a ideia funciona em momentos tensos, como perseguições.

Não seria exagero dizer que Until Dawn é um primo dos games da Quantic Dream, o estúdio de David Cage. Mas, ao contrário das obras criadas pelo desenvolvedor francês, que não decidem se são filmes ou games, o jogo da Supermassive deixa claro a qual mídia pertence, chegando até a quebrar a quarta parede para afirmar isso ao jogador, em intrigantes cenas com o psicólogo Dr. Hill (Peter Stormare).

O jogo também abusa de colecionáveis que ajudam a desvendar os mistérios por trás da montanha e do desaparecimento das duas irmãs, o que já adiciona uma camada de exploração do cenário que é tão envolvente quanto as decisões da história. Meus itens favoritos acabaram sendo os totens, que dão visões do futuro dependendo da cor - preto significa morte, marrom significa a perda de alguém próximo, e por aí vai.

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Until Dawn é o tipo de jogo que pede para ser jogado mais de uma vez, para que você volte e veja como os eventos poderiam ter se desenrolado dependendo de suas escolhas - até mesmo as mais insignificantes. Fico na expectativa de ver o que a Supermassive pode fazer com esse sistema, mas com um roteiro melhor elaborado.

Until Dawn é exclusivo de PlayStation 4.

Nota do crítico