A Sony têm vivido numa rara contramão neste período de crise econômica. Enquanto diversas publishers têm aumentado os preços dos jogos e a própria Microsoft anunciou uma elevação no valor do Xbox One, a fabricante japonesa cortou o preço do PlayStation 4 após o início da fabricação local no Brasil. Isso, claro, sem esquecer que o PS4 chegou a R$ 4 mil por aqui, em 2013.

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Em entrevista ao Omelete durante a Brasil Game Show 2015, o chefe de PlayStation no Brasil, Anderson Gracias, admite que, sem a fabricação local, a venda do console seria inviável por aqui, especialmente após a alta do dólar. O executivo ainda falou que a empresa está “no limite” com o valor atual, sugerindo um possível aumento caso o dólar continue em alta. Leia:

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O PlayStation 4 fabricado no Brasil começou a ser vendido recentemente, com um grande corte de preço em relação aos R$ 4 mil que o console custava quando chegou ao Brasil. Que fatores vocês leveram em conta ao decidir esse preço, já considerando a crise econômica?

Primeiro, quando formamos esse preço, já estávamos em um cenário de crise econômica. Claro, estamos nela há muito tempo, mas o dólar estava diferente. A disparada da moeda americana nas últimas semanas não estava nos nossos planos, e aí o que aconteceu é que anunciamos no dia 3 de setembro e vimos aumentos de preços sendo anunciados, não só em consoles, mas também em jogos, e sabemos que é pura e simplesmente por causa do dólar. Nao tem ninguém aumentando preço por outra razão.

Estamos segurando esse valor de R$ 2.599, mas estamos no limite. Temos esperança de que o dólar vai recuar, e que o estrago não seja maior, não apenas para nós, mas para todo mundo. Mas o que posso dizer é que o produto (com preço reduzido) chegou na loja no dia 1º de outubro. Monitoramos as vendas com o varejo e está indo super bem. Para nós, o novo valor está funcionando. Nossos planos são otimistas, temos essa coisa da aposta no país, sempre tivemos. Mas estamos olhando, apesar do otimismo, estamos vivendo a crise assim como todos os segmentos. Vi no jornal ontem à noite uma matéria que falava de “segmentos que passaram longe da crise”. É injusto falar isso.

Você acha que os games estão entre os segmentos mais afetados pela crise? Ou menos?

Tanto quanto (os outros), porque, em todas as frentes, se você olhar: desemprego, supérfluo e necessário, dólar… Não tem como não estarmos sofrendo. Hoje você pode ter um consumidor que está segurando um pouco. Ele quer comprar, até tem o recurso, mas está esperando. Tem essa questão da insegurança que a situaçao econômica gera nas pessoas. O que causa uma diferença nesse momento, ao menos para nós, é o começo da produção local de um produto novo: estamos investindo em fábricas, infraestrutura, logística, estamos gerando empregos. Enquanto muitos estão se segurando até passar o furacão, estamos indo no caminho inverso, e isso deixa o clima diferente dentro da empresa. Estamos mais animados, mas isso não quer dizer que estamos fora do movimento de crise.

Como a Sony global vê a crise no Brasil? Pergunto isso pelo fato de a fabricação local ter começado agora. São poucos os países que fabricam o PS4...

A Sony global também monitora diariamente a situação econômica do Brasil, que é um mercado super importante no contexto mundial. Se a pergunta é: “ah, os caras estão em dúvida, se arrependeram?” Absolutamente não. O momento é transitório. O país já passou por muitas crises, e essa está sendo pesada, até por ter um contexto político, mas nós vamos continuar apostando aqui.

Globalmente, a Sony diz que a decisão de colocar o produto fabricado no Brasil foi certa. Até porque, se não tivesse… Quando anunciamos o PS4 aqui a R$ 4 mil, o dólar estava a R$ 2,27. Imagine como seria esse produto importado hoje. Seria inviável. Se os R$ 4 mil já eram inviáveis, imagine hoje. A decisão de fabricar aqui foi acertadíssima.

Você mencionou a questão do aumento no preço dos jogos, que têm ocorrido em diversas publishers. Como a Sony vê isso?

Com preocupação. Você pode até pensar: “Ah, algumas third-parties tem (jogos) concorrentes de um (jogo) first-party meu”. Não olhamos dessa forma porque é ruim para o mercado como um todo. Eu não quero ver um jogo de outra publisher com um preço mais alto do que o meu. Não é saudável, não é bom, nao faz bem para o mercado e para a indústria. Quem teve que aumentar preço o fez por causa do dólar, e sabemos disso. É uma pena. Não estamos felizes com a situação.

O PlayStation 4 está quase fechando seu segundo ano no mercado. Como você vê o desempenho do console no Brasil e lá fora?

No Brasil, temos esses poucos dias, mas já são resultados bem positivos. Está acima da nossa expectativa. Globalmente, estamos indo muito bem. Estamos com liderança absoluta nessa nova geração, e estamos extremamente felizes com o resultado. O que queremos é replicar a mesma realidade global no Brasil.

E sobre o line-up do PS4 para o futuro? Tivemos muitos lançamentos previstos para este ano que acabaram sendo adiados.

O começo de geração tem um pouco disso, mas já lançamos muita coisa boa, franquias consagradas que chegaram ao PS4 e novidades. Destiny, por exemplo, explodiu de vendas. E o line-up para o futuro é promissor. Tem muita coisa em desenvolvimento. Estamos super confiantes no futuro do console, que é a menina dos olhos da Sony. Tenho certeza que, daqui pra frente, os line-ups serão cada vez melhores.