Eram oito botões. A, B, Select, Start e o tradicional D-Pad com quadro direções. A tela verde era rodeada por um plástico acinzentado que ia amarelando com o tempo. Não parece, mas o Game Boy completa 25 anos hoje. O portátil da Nintendo foi lançado em 21 de abril de 1989 no Japão. Saiba mais sobre a história do aparelho que mudou a história dos games - e as historias de pessoas que tiveram suas vidas mudadas por ele.

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Diversão em qualquer lugar

Gunpei Yokoi, criador do Game Boy, trabalhava na Nintendo desde os anos 1960, quando a empresa ainda fazia brinquedos e jogos de cartas. Ele foi o criador da Ultra Hand, acessório que simulava um braço biônico e foi um grande sucesso infantil no Japão. Depois que o NES foi lançado, o japonês teve a ideia de fazer um sistema portátil com jogos simples e divertidos.

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A ideia surgiu quando Yokoi viu um trabalhador entediado no trem de volta para casa. Ele apertava os botões de uma calculadora comum para se entreter.  Foi assim que surgiu em 1980 a linha Game & Watch, com diversos aparelhos de tela LCD. Elas já eram pré-impressas, então os primeiros games não podiam ter gráficos que variassem muito.

Os aparelhinhos Game & Watch foram produzidos entre 1980 e 1991. Eles se tornaram a principal influência para que Yokoi criasse, quase uma década depois, o portátil que mudou o mercado de games.

A revolução de bolso

Já existiam consoles portáteis. Em 1979, O Microvision, da Smith Engineering, foi o primeiro a permitir a troca de cartuchos. O Atari Lynx, lançado seis meses após a chegada do Game Boy ao Japão, já tinha gráficos coloridos. Enquanto isso, a criação de Gunpei Yokoi apresentava uma tela de LCD esverdeada, sem variação de cores.

As limitações gráficas eram um desafio para os desenvolvedores. A Nintendo tentou usar a mesma estratégua do NES e começar com jogos básicos: Baseball, Yakuman e Alleyway. O lançamento mais inovador era Super Mario Land, o primeiro jogo do encanador sem a participação do criador, Shigeru Miyamoto. Mesmo assim, o resultado foi ótimo - Land ultrapassou Super Mario Bros. 3 em vendas.

Empilhando os bloquinhos

Criado pelo soviético Alexey Pajitnov em 1984, o título já tinha uma popularidade razoável, mas explodiu mesmo com o lançamento do Game Boy nos Estados Unidos. Para tornar mais poderosa a chegada do Game Boy ao país, a Nintendo incluiu o game no pacote.

Cada comprador do portátil teria acesso ao título, continuando a popularização de jogos casuais começada pelo Game & Watch. Uma partida rápida de Tetris era o ideal para uma viagem de metrô ou a espera por uma consulta médica. Quem não se lembra da música-tema do game? Ela foi composta por Hirokazu Tanaka, com inspiração em canções russas tradicionais:

Amigos conectados

O que ajudou na popularização do Game Boy foi o uso do cabo Game Link, que permitia conectar dois portáteis de maneira simples. Com isso, o jogador podia acessar modos cooperativos ou competitivos de determinados títulos.

Tetris, o primeiro game compatível com o acessório, fazia duas pessoas disputarem - quem permanecesse mais tempo sem preencher a tela com pecinhas ganhava. Alguns títulos permitiam multiplayer com até quatro participantes, mas era necessário ter um adaptador especial.

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Quando os primeiros jogos Pokémon foram lançados, o Game Link ganhou mais importância ainda. As versões Blue e Red eram essencialmente iguais, mas alguns dos monstrinhos só podiam ser encontradas em uma ou outra. Alguns dos pokémons só evoluiam durante trocas. Tudo isso incentivava grupos de amigos a usar o cabo. Foi um sucesso: a primeira geração do game criado por Satoshi Tajiri teve mais de 20 milhões de unidades vendidas. Só perdeu para Tetris, que já vinha com o portátil e atingiu os 30 milhões.

Em qualquer lugar mesmo

Por ser portátil, o Game Boy não saía do lado de seu dono em momento algum. Ele levava essa vantagem sobre os outros consoles e, por isso, chegou aonde nenhum deles conseguiu. O cosmonauta Aleksandr Serebrov levou o seu exemplar na 17ª expedição russa à estação espacial Mir, entre 1993 e 1994. O jogo escolhido, é claro, foi o soviético Tetris.

Um exemplo um pouco mais antigo (e deste planeta) é a Guerra do Golfo, entre 1990 e 1991. Alguns soldados estadunidenses levaram consigo seus Game Boys como passatempo. O que ninguém imaginaria era que o portátil resistiria até a bombardeios. A Nintendo World Store, em Nova York, o deixou em exposição. O console funciona até hoje:

Entre 1989, foi exibido pela NBC o desenho animado Captain N: The Game Master, que abordava temas populares nos games da Nintendo. A equipe do protagonista, Kevin Keene, tinha personagens como Simon Belmont (Castlevania) e Mega Man. O Game Boy estreou como personagem na segunda temporada. Além de rodar diversos cartuchos, o herói eletrônico tinha um corpo elástico e uma tela que materializava praticamente qualquer coisa.

Legado e evolução

Com o sucesso do primeiro modelo, o Game Boy teve diversos sucessores. A primeira mudança foi com o Game Boy Pocket, que era menor e mais leve, além de possuir uma tela maior, sem o tom verde original. O Game Boy Light, disponível apenas no Japão, foi o primeiro a oferecer luz de fundo para a tela.

O Game Boy Color, lançado em 1998, tinha a tela colorida e garantia maior liberdade ao criar novos os games passaram a ser feitos em cores. A compatibilidade com a versão original já dava aos jogadores acesso a uma biblioteca extensa. Desta maneira, a Nintendo sempre saía à frente da concorrência - pelo menos na quantidade de bons games disponíveis no lançamento.

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A mesma tática foi usada com o Game Boy Advance, em 2001. O console rodava todos os cartuchos já lançados para Game Boy ou Game Boy Color, além de ser conectável a um Nintendo GameCube. Houve duas versões posteriores. O Game Boy Advance SP era dobrável e tinha iluminação da tela. Enquanto isso, o Game Boy Micro era incrivelmente pequeno - cabia na palma da mão. A desvantagem era que essa versão não rodava cartuchos mais antigos.

Foi com o Game Boy Micro que a Nintendo encerrou a linha responsável pela revolução nos jogos de bolso. O reinado do Game Boy durou entre 1989 e 2005. Seu fim foi necessário para o surgimento do sucessor Nintendo DS. Com 153 milhões de unidades vendidas, o novo aparelho se tornou o portátil mais vendido no mundo - ultrapassando os 118 milhões de Game Boy e Game Boy Color somados.

Histórias do Game Boy

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Pedimos aos leitores que contassem suas experiências com o portátil mais famoso da história. Confira algumas das histórias enviadas:

"Quando começou a febre Pokémon, meu único recurso era apelar para o emulador. O tempo passou e, em 2008, já adulto, consegui comprar um Game Boy Color. Meu time tomou uma goleada histórica e eu, na fúria, arrebentei o Game Boy na parede. Até hoje isso me corta o coração." - Felipe Lopes dos Santos

"Tenho uma história triste sobre o Game Boy. Minha história triste é que nunca tive um :(" - @SuperiorSenses

"Minha irmã e eu perdemos a tampa das pilhas daquele tijolão cinza. Então, uma segurava as pilhas no lugar enquanto a outra jogava" - @paulitcha

"Minha mesada era toda para comprar pilhas =')" - Ronald Souza

"A tampinha quebrava na parte de encaixar e eu tinha que colar com figurinha de chiclete depois" - @ferlrs

"Poder jogar Tetris deitado na cama antes de dormir (aí era só desligar, esticar o braço para o interruptor  e virar para o lado). Acho que entreguei minha idade..." - Chris Humph