Em Fanboys (2009), o roteirista Ernest Cline criou a premissa perfeita do road-movie nerd: três fanáticos por Star Wars decidem cruzar os Estados Unidos e invadir o Rancho Skywalker para serem os primeiros a assistir ao Episódio I. Em Jogador Número 1 (Ready Player One), seu romance de estreia (recentemente lançado no Brasil pela Editora Leya), Cline segue o mesmo conceito para chegar a um ideal dentro da literatura nerd, misturando videogames e cultura pop oitentista para chegar a história de um futuro onde o virtual supera a realidade e encontrar o easter egg de um jogo pode salvar a vida de um garoto.

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Situado no ano de 2044, o livro começa com a notícia da morte de James Halliday, criador da utopia virtual OASIS - uma espécie de Matrix consciente onde a humanidade passa a maior parte do seu tempo. Sem herdeiros, o bilionário excêntrico, na linha de Howard Hughes e Richard Garriott, deixa apenas um vídeo e um desafio: quem encontrar no jogo, por meio de uma série de enigmas, o seu easter egg (traduzido no livro como "ovo de Páscoa"), leva sua fortuna. O vídeo, construído sobre uma série de referências aos anos 1980 (década pela qual Halliday era obcecado), transforma em moda a cultura pop oitentista e cria uma nova profissão, o "caça-ovo".

Wade Watts é um desses novos profissionais. O adolescente órfão é um dos milhões a encontrar sua salvação no desafio e redescobrir jogos como Pac-Man e séries como Caras & Caretas (Family Ties, seriado que tinha Michael J. Fox no elenco). A busca dura anos, sem qualquer progresso, e se torna um mito. Isso até que Wade, como seu avatar Parzival (uma das muitas grafias de Percival, o cavaleiro da Távola Redonda que encontrou o Santo Graal), desvenda o primeiro enigma. O mundo passa então a acompanhar seus passos, com competidores e jogadores poderosos dispostos a tudo para impedir que o garoto se torne o único herdeiro de Halliday.

A experiência no cinema rendeu a Cline a habilidade de criar uma narrativa extremamente visual e seu extenso conhecimento na cultura pop, de todas as décadas, entrega um prato cheio para quem gosta de encontrar referências ou para os curiosos que procuram uma espécia de guia. A lista, que mereceria uma edição com índice remissivo, é grande. Games como Black Tiger (uma das obsessões do autor), Dungeons of Daggorath, Joust, Tempest e Zork são colocados dentro da trama, assim como detalhes de filmes como De Volta Para o Futuro (outra obsessão de Cline), Blade Runner, Laranja Mecânica, Os Caça-Fantasmas, Goonies, O Feitiço de Áquila, Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, A Vingança dos Nerds e Negócio Arriscado.

O livro não deve demorar a ser transformado em filme. Em junho de 2010, um dia depois de garantir a publicação pela Crown Publishing Group (uma divisão da Random House), Cline vendeu os direitos de adaptação ao cinema de Jogador Número 1 para a Warner Bros. O próprio autor deve escrever o roteiro, que terá produção de Donald De Line (Lanterna Verde) e Dan Farah (Assalto ao Carro Blindado).

Assista à Videodica: Jogador Nº 1: