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Entrevista

O Hobbit - Uma Jornada Inesperada | Omelete entrevista Ian McKellen

"Eu nunca gostei muito do Branco", revela o ator, que prefere o lado humano de Gandalf, o Cinzento

03.12.2012, às 13H03.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

O retorno ao universo de O Senhor dos Anéis em O Hobbit não seria completo sem a presença de sir Ian McKellen. Felizmente o ator aceitou viver novamente Gandalf, o Cinzento, o mago amigo dos hobbits, sua versão favorita do personagem ("eu nunca gostei muito do Branco", revela). Sempre extremamente solícito e gentil, McKellen conversou conosco durante nossa visita ao set de O Hobbit no início de 2012, na Nova Zelândia. Enquanto a maioria das entrevistas nos sets duram entre 10 e 15 minutos, McKellen falou por mais ou menos meia-hora - sempre disposto a discutir tudo. Falamos sobre os primeiros dias de volta à Terra-média, o porquê de Gandalf estar ajudando os anões, filmar em 3D, a relação entre Gandalf e Thorin e muito mais. Confira:

O Hobbit - Uma Jornada Inesperada gandalf

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Como foi chegar no set e descobrir que você estaria de volta no universo do Senhor dos Anéis? Que a experiência continuaria n'O Hobbit?

Não foi uma experiência muito parecida. Depois que terminamos de ensaiar uma cena em que eu estava com os 13 anões e um hobbit, eu tive que ser movido para outra locação. Como meu personagem é mais alto que eles, tive que atuar em outro ambiente por causa das câmeras de movimento simultâneo. Como tinha mais atores do lado deles, o técnico de operação da câmera ficou lá, me deixando sozinho. Eu não via as pessoas com quem estava interagindo, elas eram representadas apenas por fotos em bastões que acendiam quando elas falavam e eu as ouvia através de um fone. Então não senti como se estivesse de volta. Eu queria ir embora, foi bem triste e miserável. Mas felizmente não tive que fazer isso por muito tempo. Talvez pelo fato da minha reação ter sido tão intensa, Peter encontrou uma maneira de diminuir o número de vezes que tive que fazer isso.

Mas de uma maneira um pouco mais generalizada, foi o mesmo sentimento de quando estávamos rodando O Retorno do Rei. Dois filmes de muito sucesso já haviam sido lançados, o que dá um sentimento de que este é um trabalho que o público quer ver. Sabemos que teremos um público grande com O Hobbit, o que acaba transformando a experiência de se trabalhar em um filme como esse bem mais agradável em vez de parecer uma perda de tempo. Mas voltar à franquia significou reencontrar velhos amigos.

O livro não deixa claro o motivo de Gandalf ajudar os anões a recuperar o ouro, assim como também não é explicado porque ele escolhe Bilbo como o ladrão. Como o ator que vai viver o personagem, mesmo que não haja resposta para essas perguntas, você tenta respondê-las para si mesmo?

Se você está interpretando o papel ou escrevendo o roteiro do filme, essa pergunta é inevitável. Uma vez que a decisão de transformar o breve livro em três filmes foi tomada, a resposta acabou sendo encaixada em meio à trama. Então, quando Gandalf deixa os anões para que eles sigam sozinhos com o trabalho, acabamos descobrindo porque ele os apoia - e isso acaba envolvendo a Terra-média como um todo, inclusive os magos e elfos.

As filmagens d'O Hobbit foram meio inconstantes. Você teve tempo de participar de outras produções durante os intervalos?

Como todos os outros do elenco, eu tirei alguns dias de folga entre as filmagens. Pra você ter uma ideia, consegui estrelar uma peça na Inglaterra entre dois blocos de filmagem d'O Hobbit. Durante o último bloco eu não tinha muitas cenas, então consegui desenvolver um monólogo, o qual apresentava pela Nova Zelândia durante os finais de semana para me manter ativo.

Você atuou sozinho praticamente todo o filme, interagindo com bolas de tênis em uma tela verde. Sua mente não acaba criando cenários imaginários para você?

Sim. Não fico preocupado quando tenho que fingir estar no meio do nada e, na verdade, estou no meio de um estúdio. É só usar a imaginação. A dificuldade aqui foi usar a imaginação sozinho enquanto todos os seus colegas de elenco estavam interagindo entre si em um lugar de verdade, sem ter que fingir.

Peter [Jackson] é conhecido por sempre tentar usar novas tecnologias. Vocês usaram as câmeras Red Epic neste filme, além de terem rodado tudo em 48 quadros por segundo e em 3D. O que você achou dos formatos?

Ainda não vi como ficaram os 48 quadros por segundo, então não posso dizer. Já o 3D... A primeira coisa que vem à minha cabeça quando se pensa em 3D são os filmes de Fernando Lamas. Aquelas coisas dos anos 1950, que tinha espadas, balas e todo tipo de coisa saindo da tela. O Hobbit não tem esse tipo de coisa. Para mim, o 3D ideal é como o usado aqui: sutil. Em vez das coisas saírem da tela em direção a audiência, ela que é transportada ao nosso mundo.

Acho engraçado que a questão da necessidade do 3D no cinema ainda exista. Desde que a primeira câmera foi inventada as pessoas estão tentando criar imagens em 3D por ser assim que o olho humano enxerga as coisas. Finalmente descobrimos como fazer direito o que estão tentanto fazer desde o início. Neste caso, o 3D ajuda na imersão da audiência ao mundo fictício, o que é ideal. Quanto à clareza dos 48 quadros por segundo, ouvi dizer que algumas pessoas acharam estranho por conter muita informação. Deve-se lembrar que essas opiniões foram expressas com base em um material que não foi propriamente finalizado. Quando Peter diz que a audiência vai adorar o formato, tenho certeza que ele está certo. Ainda assim, o público pode tomar a decisão do formato que quer ver o filme - eles não precisam necessariamente assistir em 3D e 48 quadros por segundo.

No livro d'O Hobbit, Gandalf parece ser um personagem bem mais dissimulado do que nas outras histórias. Ele parece saber mais sobre a história do que os outros personagens, ou até mesmo os leitores, sabem. Você acha que ele só foi descrito de forma mais simples ou...

É um dilema. Um pouco de cada, depende da situação. No geral, ele só quer ficar de olho nos anões. Especialmente Thorin, que está um pouco fora de controle e não é facilmente controlado. A questão é se Thorin vai ceder e fazer as coisas da maneira de Gandalf ou se Gandalf vai ter de... Ele chega a perder a paciência com Thorin em um ponto.

Então quer dizer que veremos mais da relação de Gandalf e Thorin no filme do que vemos no livro?

Não sei dizer isso. Uma vez que recebo o roteiro, mesmo que ajude voltar ao livro, eu não os comparo. Mas posso dizer que existe uma constância na relação deles durante o filme. Peter me disse logo no começo das filmagens que haveria uma cena no Bolsão em que os anões bebiam e comiam de monte. Ele achou que seria divertido ver Gandalf meio embriagado. Eu fiquei horrorizado com isso. Gandalf não fica bêbado! Mas agora, um ano depois, eu entendi qual era a intenção de Peter: dar leveza. Ele conseguiu contratar ótimos comediantes e Gandalf acaba sendo parte disso, mas a pressão sai um pouco de mim quando Billy Connolly, Barry Humphries, Stephen Fry e Martin Freeman estão no elenco.

Você se lembra de alguma cena que está nos livros e não está no filme, ou vice-versa?

Sim, existem cenas que não estão nos livros, mas isso não quer dizer que elas não estão na cabeça de Tolkien. Philippa [Boyens], com quem eu mais falei sobre o roteiro, sempre fazia referências a partes do livro que eu acabei ignorando. Ao contrário do Senhor dos Anéis, que teve de ser cortado para caber em três filmes, O Hobbit teve de ser ampliado. Logo no início eu tive uma ideia: achei que seria legal não fazer um filme sobre O Hobbit, mas sim uma série de TV. Fazer tudo que está no livro com extremo detalhamento, talvez levasse 13 episódios de uma hora de duração cada, não sei. Mas não sou produtor nem roteirista.

Gandalf muda de personalidade com bastante facilidade durante a história - uma hora ele é todo amigável e no minuto seguinte já fica sério. Isso é algo que vem naturalmente para você ou existe um estudo prévio?

Não sei ao certo, mas estou trabalhando mais com base na memória que tenho do personagem. É o mesmo Gandalf. No entanto, foram três filmes e em dois deles eu era Gandalf, o Branco. Eles não são parecidos entre si e eu nunca gostei muito do Branco. Ele é um homem que tem uma missão, é um comandante que trabalha no limite de suas forças. Já o Cinza, e Peter concorda comigo, é uma pessoa muito mais agradável, mais humano, cheio de vida - principalmente quando ele está com os hobbits. Como só existe um hobbit nessa história, acho que quando Gandalf está com ele acaba ficando mais como o cinza. Ele não gosta muito dos anões.

Você assistiu aos filmes do Senhor dos Anéis pra refrescar sua memória sobre o Cinza?

Não, não sou esse tipo de profissional. Eu até pensei em fazer isso, mas é doloroso assistir a si mesmo atuando porque não há nada que você possa fazer pra mudar qualquer coisa. Mas eu cheguei a assistir uns pedaços dos filmes e cheguei a me perguntar se estava fazendo aquilo tudo de novo. Só acho que o Gandalf d'O Hobbit deveria ser um pouco mais novo - mas também, quando se tem 67 mil anos as coisas não mudam muito em apenas 60 anos.

Parece que a dinâmica e a energia entre Gandalf e esse novo grupo é bem diferente. Como você lidou com isso?

As relações de Gandalf são mais com Bilbo e Thorin do que com os outros anões. Então vejo todos mais como um grupo do que como indivíduos, assim como é no livro. Acho que o filme deixou Gandalf um pouco menos mandão do que ele é no romance. Mas ele apoia a jornada com muito mais entusiasmo do que o resgate do anel. Por isso ajuda bastante que sempre fique claro o que está acontecendo em outras partes da Terra-média, o que os anões tem feito, quem está atraindo a atenção de inimigos antigos e recentes, ameaçando acordar o dragão - que agora está crescido. Se eles vão mexer com esse tipo de coisa, Gandalf acha importante estar por perto. E ele está certo.

O que você já viu do filme finalizado?

Eu já vi a cena finalizada, aquela em que Gandalf e Saruman aparecem juntos. É bem peculiar. Já vi boa parte do filme, bastante da primeira parte, e está ficando lindo. Mas devo dizer que ainda não vi nada em 48 quadros por segundo e estou bem animado com o formato.

Alguns atores preferem trabalhar com o método de filmagem de Clint Eastwood, que exige apenas duas tomadas de cada cena; enquanto outros preferem o de David Fincher, que faz 50 tomadas. Qual é o seu preferido e qual foi o escolhido para O Hobbit?

Eu gosto de saber o que está acontecendo. Então se por algum motivo o diretor não gostar do que está acontecendo, ele só precisa me dizer o que é que eu dou um jeito. As vezes é apenas um problema técnico, mas alguns diretores não dizem que não é sua culpa, o que acaba tornando a experiência muito mais deprimente. Se me pedissem para fazer 50 tomadas de uma cena, eu assumiria que o diretor não sabe ao certo o que está fazendo. Com tantas tomadas ele eventualmente toparia com algo que o satisfaria. Você ficaria surpreso a quantidade de diretores que tem por aí que não tem a menor ideia do que querem. Mas se você acredita em um diretor como eu acredito em Peter, se ele me pedisse para fazer 27 tomadas, eu as faria. No entanto, é bem melhor quando a meta é atingida após duas, três tentativas.

Mas o diretor sabe o que está fazendo e Peter gosta de ter opções. Ele sempre fica em dúvida sobre qual das tomadas vai usar, mas ele gosta de ter a opção de mudar o tom de uma cena, tornando o filme melhor. No final das contas, você tem que fazer da maneira que o diretor pedir, o filme é dele. Não simplesmente porque o nome dele vai no topo, mas porque ele tem uma visão geral incrível de seu próprio trabalho. Ian Holm me ensinou uma incrível lição enquanto ele interpretava Bilbo. A cada nova tomada que tínhamos de fazer ele dava uma entonação diferente à sua performance. E ele sempre ficava perguntando: "Peter, posso fazer de outra maneira agora? Posso fazer um pouco mais bravo? Posso fazer um pouco mais sutil? Posso fazer mais engraçado? Posso fazer mais baixo? Posso fazer mais alto?" E logo ali na minha frente, eu vi vários Bilbos diferentes. Uma pessoa incrível de se trabalhar, pois a resposta dada era de acordo com a emoção recebida. Ian me disse que, dessa forma, ele poderia apresentar absolutamente tudo que ele podia para seu personagem e depois o diretor editaria tudo da maneira que preferisse. Eu não tenho experiência suficiente ou certeza suficiente de achar um diretor jovem e dizer que minha maneira é melhor.

O Hobbit - Uma Jornada Inesperada estreia em 14 de dezembro.

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