Séries e TV

Artigo

House | O fim da série

Cuidado! O texto a seguir tem SPOILERS sobre o final do programa

23.05.2012, às 17H54.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

Foram oito anos. No início, a paixão foi imediata - do jeito que tem que ser -, com amor e (um pouco de) ódio se alternando a cada demonstração de sua genialidade, e ojeriza pelo jeito desumano com que tratava as pessoas. Mas daí chegou o final da primeira temporada e a série House (House M.D. - 2004-2012) atingiu o seu primeiro pico. No genial episódio "Three Stories" (com participação da Carmen Elektra), o Dr. Gregory House (Hugh Laurie) dá uma aula na faculdade de medicina em que trabalha e expõe três casos médicos, que na verdade eram um só: ele próprio. E assim descobrimos mais sobre a dor que sentia na perna e o levava a se entorpecer de Vicodin, o seu constante mau humor e um pouco de sua vida pregressa.

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Nos sete anos seguintes, fomos vendo a equipe amadurecer, mudar com as saídas da Dra. Cameron (Jennifer Morrison), Dr. Chase (Jesse Spencer) e Dr. Foreman (Omar Epps), para um demasiadamente longo "reality" que escolheu a nova equipe, formada por Dr. Taub (Peter Jacobson), Dr. Kutner (Kal Penn) e Dra. Treze (Olivia Wilde), as voltas de Foreman e Chase à equipe e as brigas constantes de House com a Dra. Cuddy (Lisa Edelstein).

A cada doença diferente, a cada paciente da semana, íamos aprendendo também um pouco mais sobre cada um dos personagens, sempre com casos que levavam a essas novas descobertas e que, assim, iam desenvolvendo a trama do episódio em si e a série como um todo. Vimos Chase e a Dra. Cameron se casarem e depois se separarem. Vimos Foreman saindo para depois voltar como chefe. E também presenciamos as mortes de Kutner e da Dra. Amber Volakis (Anne Dudek), em um outro ponto alto da série, com os episódios "House's Head" e "Wilson's Heart", que elevavam a um novo ponto o grande prazer de House: resolver quebra-cabeças.

Esta característica, aliás, vem do outro lado do Atlântico, terra natal tanto do ator Hugh Laurie quanto de sua maior inspiração: Sherlock Holmes. Holmes, que pode ser lido como "homes", "house"... Dr. Watson, Dr. Wilson... House mora no apartamento 221B, mesmo número em que Holmes habitava, na Baker Street de Londres... tudo isso sem contar a enorme indiferença dos dois com as pessoas e fascinação única pelos casos, que ganha mais atenção à medida que se torna mais difícil. Sir Arthur Conan Doyle deve estar orgulhoso.

Oito anos depois...

Quando foi anunciado que a oitava temporada seria também a última, deu para ouvir o alívio dos fãs, que já estavam desgastados com a fórmula, mas também não queriam abandonar House depois de tanto tempo ao seu lado. Pelo menos comigo foi assim. Mas este desfecho já começou com problemas. Lisa Edelstein não chegou a um acordo financeiro para renovar seu contrato e anunciou que não voltaria para encerrar sua participação na trama. Problemão nas mãos do criador da série, David Shore, principalmente porque a sétima temporada terminou com a Dra. Cuddy no centro das atenções. Depois que ela e House romperam seu breve relacionamento, o médico resolve se vingar entrando com carro e tudo na sala de jantar da sua chefe.

A saída foi mandar House para a prisão, colocar Foreman como o novo diretor do hospital e formar uma nova equipe. Entraram então a nerd oriental Dra. Park (Charlyne Yi) e a terceira nova médica bonitona da série, a altruísta Dra. Jessica Adams (Odette Annable). Enquanto Dr. Taub pouco se desenvolve nesta temporada, dando ênfase apenas em sua vida pessoal e suas duas filhas recém-nascidas, os episódios finais serviram para mostrar o tanto que Chase havia amadurecido e estava preparado para liderar sua própria equipe de diagnósticos, sem ter se tornado um novo House no caminho.

Altos e baixos

Oscilando tanto quanto os batimentos cardíacos de um paciente internado, a oitava temporada foi claudicando sem grandes acontecimentos... até o seu arco final. O episódio de número 19, "The C Word", foi dirigido pelo próprio Hugh Laurie e serviu para nos lembrar porque acompanhamos a série por tanto tempo: nós passamos a nos importar com os personagens. Quando Wilson (Robert Sean Leonard) fala para o House que está com câncer terminal e tem no máximo mais cinco meses de vida, vemos o mundo dos dois desmoronar e sofremos juntos. House sabe da importância de Wilson em sua vida e Wilson quer tentar aproveitar o que resta de sua vida da melhor forma possível, de preferência ao lado de seu melhor amigo, mas como fazer isso quando ele é um parasita?

Os episódios seguintes, "Post Mortem" e "Holding On", servem principalmente para mostrar como Wilson e House vão lidar com a doença. Os dois discutem, argumentam, brigam, se aventuram pelas estradas a bordo de um conversível e não chegam a um acordo. Numa incoerência de roteiro, o episódio 20 termina com Wilson mostrando que não vai conseguir viver uma vida inconsequente de aventuras, para na semana seguinte mostrá-lo cada vez mais reticente ao tratamento, querendo apenas passar seus últimos dias com o mínimo de sofrimento possível. Ao ver a grande constante de sua vida prestes a desaparecer, House se desespera e o nível de atos inconsequentes chegam a patamares jamais vistos. E assim termina o capítulo 21 da oitava temporada com o último gancho: sua condicional será suspensa e ele terá de voltar à prisão e cumprir os seis meses restantes de sua pena - deixando seu amigo na mão mais uma vez.

E assim chegamos ao episódio final. O capítulo é mais uma vez ambientado na mente de House - gancho perfeito para trazer de volta velhos personagens (faltou apenas a Dra. Cuddy) - e começa com o médico caído no chão, ao lado de um homem morto por overdose, enquanto o prédio em que estão arde em chamas. O título, "Everybody Dies" (todo mundo morre), é uma referência a um dos grandes chavões da série, "everybody lies" (todo mundo mente), e já deixa bem claro que a série vai acabar em morte.

Sem querer entregar - e estragar - para quem ainda não viu, foi um final com apenas um momento chocante e certamente abaixo de tantos outros episódios da série. A forma como House trata Foreman e o próprio Wilson para que eles assumam os atos de vandalismo cometidos por ele é agressiva, e embora mostrem o seu grau de desespero, trazem também um desdém que não precisava ser mostrado no adeus da série. E daí vem o epílogo e a linda música "Enjoy Yourself (It's Later Than You Think)", que prega dias melhores àqueles que decidirem aproveitar a vida enquanto ainda não estão sete palmos abaixo da terra.

Concordo que deve ser difícil agradar a todos os fãs que tornaram a série a mais assistida do mundo por vários anos seguidos, mas acho que faltou ao desfecho um pouco mais do bom humor que também foi responsável por tamanho sucesso. Embora seja um encerramento que não deixa margens a interpretações e carrega uma mensagem positiva de Carpe Diem (lembrando que Robert Sean Leonard é um dos protagonistas de Sociedade dos Poetas Mortos), fico pensando se não seria mais irônico ver House morrendo de lúpus ou algo do tipo.

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