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Jogos Vorazes | Produtora explica o processo de adaptação do livro ao cinema

Omelete entrevista Nina Jacobson

26.03.2012, às 20H28.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

A produtora Nina Jacobson comprou os direitos do livro Jogos Vorazes em 2009, pouco tempo depois de sua publicação, em setembro de 2008. Agora, a trilogia de Suzanne Collins se tornou um fenômeno e já vendeu mais de 26 milhões de unidades apenas nos EUA e chegou aos cinemas com sucesso, batendo um recorde de pré-venda de ingressos, com 2.500 sessões esgotadas antecipadamente, e com excepcional bilheteria de abertura.

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Nina Jacobson

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Nina Jacobson

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Em entrevista aos nossos parceiros do Collider, a produtora contou detalhadamente todo o processo de adaptação de The Hunger Games, os motivos para fazer mudanças entre a versão do livro e do filme, a abordagem da violência com personagens tão jovens, o que é necessário para que um filme se torne uma franquia e mais.

O que te levou a Jogos Vorazes e a querer adaptá-lo ao cinema?

Tem um rapaz jovem que trabalha comigo, chamado Brian Unkeless, que é muito esperto. Somos uma empresa muito pequena, formada por Brian, duas assistentes e eu, mas agora estamos começando a crescer. Ele tinha lido o livro e amado e disse que eu deveria ler. Então li e não conseguia largá-lo, não conseguia parar de pensar nisso. Eu realmente fiquei obcecada com a ideia de produzi-lo, e fiquei incomodada em pensar que outra pessoa além de mim poderia produzir. Sentia que tantas coisas podiam dar errado na adaptação, e eu tinha uma vontade muito forte de proteger o livro que ela tinha escrito. Na época, li o segundo livro, ainda um manuscrito, e vi onde ela estava indo com a série. Consegui ganhar a confiança da Suzanne [Collins] para adaptar os livros.

Como você se tornou fã do livro, você teve alguma influência sobre o design do filme?

Sim e não. Como produtora, foco muito no cineasta. Acho que o mais importante é escolher a equipe com cuidado. Era muito importante para mim escolher um diretor como Gary Ross, cujos instintos vêm do personagem, que é voltado para a história, que coloca os personagens em primeiro lugar. Visualmente, sinto que em cada filme, Gary adota um estilo diferente. Ele não tem um visual que é o "visual Gary Ross" e achei que isso era muito importante. Precisávamos de alguém que se basearia nos personagens e aí encontraria o visual para o filme. Além disso, contratar Phil Messina, o designer de produção, foi uma grande decisão. Ele é muito talentoso e suas ideias são sempre muito inteligentes e baseadas na história dos Estados Unidos e na arquitetura. Mas na evolução do filme, Gary e eu conversamos muito sobre o espectro tonal dos personagens para nos certificar que o visual e as escolhas de estilo seriam consistentes com isso.

Quais foram os parâmetros para decidir o espectro tonal?

Quando você lê um livro, você cria esse espectro tonal. Você define um tom para você mesmo, enquanto está lendo, em que tudo existe dentro do mundo da sua imaginação. No livro, é ótimo quando ela consegue apertar um botão e a comida aparece. Mas nós não fizemos isso no filme porque pareceria muito chique, muito parecido com Oz, e a Capital tinha que ser ameaçadora. Tinha que ser impressionante, mas ameaçadora. Outra pequena decisão foi quando, no livro, Haymitch [Woody Harrelson] vomita nos sapatos da Katniss [Jennifer Lawrence]. Se você faz isso num filme, a cena toda passa a se concentrar na pessoa vomitando. Há tanto trabalho de personagem nessa cena, e nós ainda queríamos que ele fosse um bêbado, mas que também tivesse algum perigo nele. Então você não faz a cena exatamente igual ao livro, mas a intenção da cena ainda está lá.

Pequenas decisões como essa são feitas todos os dias. Neste filme, nos concentramos no Cinna [Lenny Kravitz] e não tivemos tempo de nos concentrar no outro figurinista. Parte disso ficaria apenas na cabeça de Katniss. Adoro aqueles outros figurinistas nos livros, e espero que consigamos dar mais foco a esses personagens, no próximo filme. Mas neste, decidimos que precisávamos focar na experiência de Cinna e Katniss. Tínhamos que estar na posição dela. Ela foi obrigada a ir para a Capital, e isso não poderia ser divertido. Nos livros, você está mesmo dentro da cabeça dela. Ela está com medo e intimidada, mas também consegue se divertir com os estilistas. No filme, decidimos focar no relacionamento com Cinna e no medo e ansiedade dela. No próximo, se tivermos sorte, vamos mostrar os figurinistas, depois de termos montado a base neste filme.

Este é uma produção de grande orçamento, com uma continuação já prevista. Qual foi o maior desafio em trazer este material para as telas?

Acho que é uma questão de equilíbrio, já que o livro tem muitos fãs. No entanto, de certa maneira, isso foi fácil porque eu sou uma fã. Tudo que precisava fazer era prestar atenção nisso. Deb Zane, nossa diretora de elenco, foi muito fria desde o início, bloqueando a opinião das outras pessoas. No fim das contas, quando os fãs defendem muito um filme, eles apenas querem que você faça direito. Não querem que estrague tudo. A ideia deles de fazer direito pode ser diferente da sua, mas no fim das contas eles apenas não querem que você estrague uma coisa que eles amam. Então foi um grande desafio. Seguimos nossos instintos, tentamos honrar os livros e encontrar o caminho para tomar as melhores decisões criativamente, como faríamos em qualquer filme, sem nos distrair. Foi o melhor desafio que eu poderia pedir, mas foi um grande desafio.

Foi difícil decidir como abordar a violência da história e quão gráficas essas cenas seriam no filme?

Sim, essa obviamente foi uma decisão enorme. Desde a primeira vez que conversei com Suzanne sobre adaptar os livros, nós já sabíamos algumas coisas. Sabíamos que queríamos que a censura fosse baixa, porque ela escreveu os livros para um público de 12 anos para cima, e nós queríamos que eles assistissem ao filme. É um filme feito para ser relevante para pessoas jovens, e não queríamos excluí-los de maneira alguma. Por outro lado, também não queríamos diluir muito ou suavizar o material. Os livros são muito intensos e o filme deveria ser também.

Nós duas achávamos que não deveríamos aumentar a idade dos personagens competidores, independente da idade dos atores que pegassem o papel. Seria decepcionar as pessoas se você decidisse, "Bem, ao invés de 12 a 18 anos, vamos fazer como 18 a 25, ou 16 a 21?". Se você não se mantém fiel ao horror do fato de que eles têm de 12 a 18 anos, não está fazendo justiça ao livro. Então sabíamos que não queríamos diminuir a intensidade do assunto, mas tínhamos que fazer isso de alguma maneira que não explorasse ou culpasse a Capital pelos seus crimes, de maneira alguma. Se a violência fosse estilizada e bonita e descolada, como em 300 ou Matrix, estaria fora de sintonia com o fato de que eles são adolescentes. Então resolvemos que a violência tinha que parecer real e urgente, tinha que parecer que você estava vendo pelos olhos de Katniss, mas não podia parecer sensacionalista ou divertido, porque o livro tem uma enorme gravidade.

Você pensou muito na continuação, ao fazer esse filme?

Bem, eu sou muito supersticiosa. Sou do tipo de família que não pinta o quarto do bebê até ele nascer. Tentei me concentrar realmente neste filme, sabendo que, sim, são livros incríveis e eu me sentiria uma fracassada se não adaptasse todos eles. Adoro os livros. E certamente, os fãs estão aí e já cresceram muito desde o começo. Quando eu levei o projeto para a Lionsgate, tinham sido vendidas 150 mil cópias, um bom resultado para um livro na categoria infanto-juvenil. Eles ficaram muito empolgados em fazer o filme, desde o começo. Com 150 mil cópias, já estavam tão animados quanto quando começamos a filmar, cerca de 8 milhões de cópias depois. Agora, já vendeu três vezes isso.

Foi uma coisa louca que foi crescendo enquanto fazíamos o filme. Mas enquanto fazíamos, tentamos apenas não ser ambiciosos demais e sim fazer um filme que merecesse uma continuação. No fim das contas, é a plateia que decide qual filme vira uma franquia, só a plateia decide o que será um sucesso. Sempre tive em mente que não deveria me antecipar. Ninguém torce por alguém que presume que será bem-sucedido. Você precisa merecer o sucesso e ele será merecido fazendo um filme que as pessoas vão gostar e vão querer ver mais daquilo. Realmente não tem outro jeito, está na mão do público. Fui uma executiva em Hollywood antes de ser uma produtora e vi a mania por franquias crescer, durante a minha carreira. E a única coisa que Hollywood sempre esquece é que só será uma franquia se as pessoas quiserem ver mais daquilo. Na verdade não está na nossa mão. Então, foquei nesse filme com meu diretor, com o estúdio, com o elenco e com a equipe. Nos concentramos em fazer o melhor filme que podíamos fazer, para conquistar o direito de fazer mais.

Como foi o envolvimento de Suzanne Collins durante o processo?

Suzanne ficou muito envolvida no desenvolvimento do roteiro. Ela escreveu a primeira versão e esteve muito envolvida com Billy Ray, quando ele escreveu a versão dele. E depois, ela se deu tão bem com Gary, quando ele estava escrevendo a versão dele, que eles depois se juntaram para escrever uma nova versão juntos. Tivemos conversas muito importantes sobre o roteiro desde o começo até o início das filmagens. Ela veio nos visitar durante a pré-produção e viu alguns dos designs e para onde estávamos indo, falamos muito sobre a escolha do elenco. Queríamos que ela estivesse confortável e confiante com as nossas escolhas, especialmente do elenco. Na filmagem, ela só nos visitou uma vez, não se envolveu no processo de filmagem. Ela já assistiu ao filme duas vezes, durante o processo de pós-produção. Viu o primeiro corte e o filme terminado.

Foi escolha dela não estar no set de filmagem?

Sim.

Você acha que com o sucesso de Harry Potter e Crepúsculo, se tornou mais fácil trazer histórias infanto-juvenis para o cinema?

Essa é uma boa pergunta. Acho que esses livros genuinamente conseguiram ir além. Eles são realmente envolventes e encontraram um público que migrou junto com eles. Os livros e o público dos livros viabilizaram essas oportunidades, assim como o fato das pessoas perceberem que têm uma experiência que as une, apesar desses livros não terem sido escritos para um público tão amplo, mas que têm o apelo para se expandir para todas as idades, não apenas para a faixa etária para a qual foram originalmente escritos.

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