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Crítica

Mastodon - The Hunter | Crítica

Livre dos limites do metal, banda produz seu melhor disco

17.10.2014, às 14H58.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Em 2004, o Mastodon lançava seu segundo disco, Leviathan, obra conceitual inspirada no clássico literário Moby Dick, e ganhava, pela primeira vez, a alcunha de "salvadores do metal", por parte de alguns entusiastas do gênero.

Sete anos e duas obras conceituais depois, metade dessa imagem pertinente à "salvação" continua relevante, mas o mesmo não se pode dizer quando ao "metal". Tão influenciados por Metallica quanto por Rush e The Melvins, evoluíram sem se afixar a qualquer gênero específico dentro do metal. Agora, com The Hunter, seu quinto álbum (e primeiro não-conceitual), decidem exibir ainda mais essa amplitude de estilos musicais, no seu maior e mais eclético trabalho até aqui.

O lançamento anterior do Mastodon, Crack the Skye, estava mais inserido no rock progressivo, contendo somente sete faixas, a maioria delas bem acima dos cinco minutos de duração. À primeira vista, The Hunter parece ir na direção oposta do seu antecessor, com treze faixas, de duração bem mais modesta. "Black Tongue" e "Curl of the Burl", que abrem o disco, condizem com essa impressão, rápidas, precisas, sem qualquer enrolação. Entretanto, esta última já exibe um lado relativamente novo do grupo: o seu riff pegajoso e sua batida quase dançante lembram o som de bandas mais mainstream, como Foo Fighters e Queens of the Stone Age, ao invés de qualquer artista do metal.

"Dry Bone Valley" e "Thickening" também acrescentam à sonoridade rock, porém de forma original, deixando semelhanças com outros artistas a um nível meramente superficial. Essa faceta do Mastodon já havia se manifestado anteriormente, no single "Colony of Birchmen" (2007) - seu primeiro sucesso na rádio, por nenhuma coincidência -, e traz novas possibilidades à banda, uma indicação que sua fonte criativa está longe de se esgotar. A ausência de um conceito geral por trás do álbum também demonstra uma maior liberdade, onde os músicos decidiram gravar e incluir quaisquer canções que achassem cabíveis no momento. Prolongaram a duração das músicas só quando absolutamente necessário, dando uma sensação de urgência e relevância a cada uma.

Ainda assim, para aqueles que foram atraídos ao grupo somente pelas suas influências de rock progressivo, ainda há muito o que se aproveitar em The Hunter. As duas únicas canções com mais de cinco minutos de duração fecham cada metade do álbum: "The Hunter" e "The Sparrow", ambas lentas, com solos de guitarra emotivos, servem de consolo para os fãs do som etéreo de Crack The Skye. Outros dos elementos daquele disco, como vocais harmonizados e diversas seções instrumentais, também estão presentes em canções mais pesadas, porém igualmente bonitas, como "Stargasm" e "All the Heavy Lifting". Também merece menção "Creature Lives", que, graças à sua estrutura lírica, não há outra melhor palavra para descrevê-la senão "épica".

Felizmente, todos esses estilos musicais são apresentados por meio de um excelente equilíbrio entre as faixas pesadas e as (relativamente) leves. A ordem do tracklist causa a constante impressão de que estamos ouvindo algo novo, graças à variedade sonora apresentada. Há talvez um único deslize nesse sentido, no fim do disco: entre "Spectrelight" - a mais agressiva do grupo desde Leviathan - e a já-citada "The Sparrow", encontra-se "Bedazzled Fingernails", sem qualquer característica que a faça especial, tornando-a quase redundante no meio de duas canções ótimas. No entanto, isso é apenas um pormenor, tendo em vista todas as qualidades de The Hunter.

A colaboração entre os quatro integrantes do Mastodon também está maior do que nunca, cada um mostrando-se tão importante quanto o próximo. O guitarrista Brent Hinds, o baixista Troy Sanders, e o baterista Brann Dailor alternam-se igualmente nos vocais por todo o álbum, e até o guitarrista Bill Kelliher faz algumas raras aparições de backing vocal. O efeito óbvio disso é que o ouvinte dificilmente irá se cansar de uma voz particular. Essa proficiência e dedicação aos vocais não deve obscurecer o fato de que toda a seção instrumental é impressionante, e tão perfeitamente executada quanto se deve esperar desses músicos.

Dizer que The Hunter é uma combinação dos quatro trabalhos anteriores do Mastodon seria impreciso. Elementos do passado são aproveitados, mas combinados com outros novos, com o objetivo de construir um disco melhor do que tudo aquilo que veio antes. O que iniciou-se como o projeto menos ambicioso da banda, tornou-se o seu mais bem realizado. Pode não salvar nenhum gênero musical, mas isso se dá tão-somente pelo fato de que a banda tem recusado, a cada novo lançamento, qualquer tipo de rótulo. Na atualidade, é, basicamente, o melhor disco de metal que pode ser recomendado a uma pessoa que nunca gostou de metal.

Assista ao clipe do novo single do Mastodon, "Curl of the Burl"

Nota do Crítico
Excelente!

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