Filmes

Entrevista

Omelete entrevista Brad Bird, o diretor de Missão Impossível: Protocolo Fantasma

"Foi estressante ver Tom Cruise pendurado no alto do prédio mais alto do mundo, sem dublê"

29.11.2011, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Entrevistamos por telefone um dos cineastas favoritos aqui do Omelete, Brad Bird, diretor conhecido por animações como Ratatouille, Os Incríveis e Gigante de Ferro. No ano passado, Bird lançou-se ao seu primeiro filme fora do universo animado, Missão: Impossível  - Protocolo Fantasma (Mission: Impossible - Ghost Protocol). Na conversa, discutimos as razões pela opção pelo formato IMAX, o trabalho com Tom Cruise, a experiência com o live-action, seu projeto futuro e as emoções que os filmes dele produzem.

Missão Impossível 4

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Tom Cruise em ação

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Brad Bird

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Cruise e Bird em Dubai

Como você decidiu que rodaria Missão: Impossível: Protocolo Fantasma em IMAX? Foi por causa da cena do Burj Khalifa?

Aquela cena ficaria bem melhor se rodada em IMAX, mas esse não foi o único motivo pelo qual escolhi o formato. Acho que a pressa de se fazer filmes em 3D fez com que o poder que aquela tela gigante e as imagens cristalinas fosse esquecido. Ainda assim, a grande maioria das coisas que o IMAX exibe são ampliações de filmes que foram rodados no formato comum, diferente do que fizemos em Missão: Impossível. Nós rodamos por volta de 1/4 do filme em IMAX, que é um sistema de câmeras com negativos bem maiores do que os normais. Isso faz com que a nitidez e os detalhes da imagem fiquem bem mais vívidos nas telas gigantescas na qual serão exibidas. Eu achei que seria somente exibicionismo se decidisse gravar o filme em IMAX. Fui inspirado por Chris Nolan, que rodou partes de O Cavaleiro das Trevas no formato.

J.J. Abrams também rodou Super 8 em IMAX, não?

Não, Super 8 foi ampliado. São muito poucos os filmes que realmente são rodados em IMAX. Esse foi um dos motivos que nos deixou interessados em fazer isso com Missão: Impossível. Pensamos que o formato talvez fizesse o filme ser mais especial.

Foi muito difícil levar os equipamentos IMAX para o topo do Burj Khalifa?

Não foi nada fácil. Eles são equipamentos bem pesados e barulhentos, mas nós tivemos uma colaboração incrível das pessoas de Dubai. Pudemos subir sem problemas no prédio, colocar todo nosso equipamento para fora das janelas e até pudemos chegar com os helicópteros bem perto do prédio, talvez mais perto do que a lei permite. Tom [Cruise] ficou pendurado pro lado de fora durante vários dias.

Tenho certeza que ele não tem medo de altura. Mas e você?

Ele definitivamente não tem, mas eu não estava pendurado do lado de fora. Não diria que tenho medo de altura, mas não sou tão corajoso quanto Tom.

Mas você teve dar umas olhadinhas e colocar a cabeça pra fora do prédio, não?

Eu fiz isso sim, mas não era fácil. [risos] Mas eu tinha um cinto de segurança.

E como foi trabalhar com Tom Cruise, um ator disposto a se colocar em situações de risco para o bem do filme?

Para esse tipo de filme foi incrível, mas foi estressante vê-lo pendurado no alto do prédio mais alto do mundo, sem dublê. Cenas como aquela são desenvolvidas para serem espetaculares, mas acabam deixando todos bem assustados na hora de filmar. [risos] Mas ele sobreviveu a todo o processo e saiu intacto, então eu não vou ficar conhecido como o diretor que "quebrou Tom Cruise". [risos] O devolvi sem nenhum dano e quero que isso seja anotado!

Durante algum tempo circulou a informação de que o estúdio queria substituí-lo por alguém mais novo, pra manter a franquia futuramente. O que você acha sobre isso?

As pessoas inventam muitas coisas. A Internet é um lugar repleto de falsas informações, então é um bem perigoso acreditar nesse tipo de coisa. Tudo o que eu sei é que Tom está incrível neste filme e está cercado de pessoas tão incríveis quanto ele - Jeremy Renner, Simon Pegg, Paula Patton... Foi ótimo trabalhar com ele.

Falando sobre sua transição entre animação e live action, teve alguma coisa na experiência de deixar as animações que te deixou surpreso?

Acho que o desgaste do live action foi uma grande surpresa. É tudo bem fisicamente exaustivo quando se está fazendo um filme grande como esse em uma agenda tão apertada. Se alguma coisa dá errado, o problema tem que ser resolvido imediatamente porque há muitas pessoas e equipamentos envolvidos em uma só cena, além do tempo gasto em qualquer filmagem ser muito caro. Mas fiquei bem feliz com o resultado do filme.

Eu vi duas cenas do filme; a do Burj Khalifa e a da perseguição na tempestade de areia no deserto. Preciso dizer que fiquei bem impressionado.

Que bom!

Já fazia algum tempo que não sentia frio na barriga enquanto assistia a um filme.

Fico bem feliz em saber isso. Acho que o IMAX realmente aprimora a sequência do prédio. Quando você é forçado a se sentar perto de uma tela tão grande como aquela, que preenche todo seu campo de visão, quase te dá vertigem.

Eu senti um pouco de vertigem, sim.

[risos]

Ouvi dizer que o filme passou por algumas refilmagens, é verdade? Quanto você pode mudar em um filme live action na ilha de edição em comparação a uma animação?

Sim. Em animações, tentamos várias ideias diferentes durante o planejamento. Mas quando chega a hora de fazermos a fotografia principal, e começamos a realmente criar a animação, já sabemos basicamente como todo o filme vai ser. Não fazemos a cena várias vezes e depois escolhemos a melhor. Em filmes live action, nós coletamos a maior quantidade possível de momentos e tentar juntá-los da melhor forma possível. Em animações, nós visualizamos tudo aquilo que precisamos e depois vamos montando todos os momentos necessários aos poucos.

Mas você gostou da experiência de trabalhar em um filme live action?

Gostei, sim. É um desafio muito grande, mas é ótimo trabalhar com atores talentosos e uma equipe tão brilhanto como a que tivemos no filme. Vê-los resolvendo problemas é bem incrível.

Acho que você já disse que esse Missão: Impossível é o mais divertido da franquia. O que você quis dizer com isso?

Acho que há um certo humor nas situações tensas. Na grande maioria das vezes, quando pessoas ficam sob pressão, elas tendem a responder a isso de uma forma engraçada. Então eu levei um pouco dessa sensibilidade ao filme. Não quero ser o cara que tira a intensidade de uma sequência de ação, mas eu realmente gosto de filmes como Os Caçadores da Arca Perdida, que tem um ritmo rápido, muitas cenas de ação, mas que também tenha bastante humor que não tire o foco da ação, mas adicione outra dimensão a elas.

O engraçado sobre a franquia Missão: Impossível é que nunca teve um vilão forte - com exceção do terceiro filme, que teve Philip Seymoure Hoffman. Por que você acha que isso aconteceu?

Eu não sei. No primeiro filme não se sabe quem é o vilão até o final. Eles tentam manter o suspense e te deixar tentando adivinhar quem é o vilão, sempre se apoiando na intriga. Não é como nos filmes do James Bond, em que o vilão é apresentado logo de cara e ele é mantido ao longo do resto do filme. Dito isso, acho que há várias maneiras diferentes de fazer filmes como esses e Missão: Impossível 4 encontrou sua própria maneira de lidar com o papel do vilão. O mais interessante sobre este filme é o fato de que Ethan não escolhe o time com o qual ele terá que trabalhar, eles meio que são reunidos através de várias circunstâncias e depois tem que agir fora da IMF, sem nenhuma ajuda da organização. O fato de que o grupo é formado por pessoas que não se conhecem tão bem e depois colocá-los sob muita pressão, para mim, é o foco real da história neste filme.

Este é o primeiro filme que você não é creditado como roteirista. Mas você chegou a mudar alguma coisa no roteiro?

Claro, eu escrevi algumas coisinhas. Falas, pequenas sequências, alguns detalhes, mas nada que colocasse meu nome nos créditos de roteirista. É bom não ter a pressão de ser um roteirista, mas fica um pouco mais difícil de dirigir... porque quando você escreve um filme, é como se você já tivesse passado por ele em sua mente muito antes de realmente começar a dirigi-lo. Então se alguém te questiona sobre qualquer coisa, você já tem ótimas respostas prontas. Quando o material é de outra pessoa, leva um pouco mais de tempo para o diretor realmente entender tudo o que está acontecendo ali. O roteiro de Missão: Impossível foi mudando muito ao longo das filmagens, o que deixou tudo ainda mais desafiador.

J.J. Abrams disse que este é o melhor filme de toda a série. Como você se sente sobre isso, sobre toda essa expectativa neste momento em sua carreira?

Fiquei bem feliz em ter a oportunidade de fazer este filme e espero poder fazer outros filmes e contar outras histórias. Se você para pra pensar em expectativas acaba ficando paranóico e não curte todo o processo. Quero continuar aprendendo e tentando coisas novas, sempre progredindo. Espero que todos gostem do filme.

Mudando um pouco de assunto, como está o andamento de 1906? Ele será o seu próximo projeto?

Eu continuo pensando que ele será. [risos] Eu estava começando a trabalhando nele quando a Pixar me chamou para fazer Ratatouille, então tive que dar uma pausa e depois voltei. Quando percebi, já tinha passado dois anos e eu passei esse tempo todo sem trabalhar em nenhum outro filme. Como eu não queria continuar "cozinhando" 1906, passei para Missão: Impossível. 1906 tem uma história bem complicada, mas que pode ser muito boa se conseguirmos ultrapassar todos os seus desafios. Uma roteirista trabalhou no filme enquanto eu fazia Missão: Impossível. Quando ela terminar, eu vou dar uma olhada e veremos em que estágio 1906 vai estar. Mas é um pojeto no qual eu permaneço bem interessado.

Falando sobre Ratatouille, você chegou a assistir o filme depois de pronto? Você chorou na cena do flashback? Todo mundo que eu conheço chorou...

[risos] As pessoas ou choram ou riem. É engraçado ver como as reações são diferentes para aquela cena. Quando o filme estreou, eu ia a algumas sessões-teste só pra ver como eram as reações e fazer mudanças. Mas na cena do flashback, metade das pessoas se comove enquanto a outra metade ri.

Eu continuo chorando em quase todos os seus filmes. Aquela fala do "Superman" em Gigante de Ferro me pega toda vez. Você não vai me fazer chorar em Missão: Impossível também, certo? [risos]

[risos] Eu não sei, mas não me parece o filme que você choraria. [risos] Espero que, se você chorar, é porque nós queremos que você chore, não porque você ficou desapontado. [risos] Mas acho que você vai se divertir muito com Missão: Impossível. E tente assisti-lo em IMAX!

A estreia de Missão: Impossível 4 - Protocolo Fantasma acontece em 16 de dezembro.

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