Música

Artigo

Os vários Bowies da minha vida

Como ignorei, conheci, me apaixonei e me despeço de David Bowie

11.01.2016, às 11H15.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Já pedindo perdão para o uso da palavra camaleão logo no início do texto, Bowie realmente mudou muito para mim ao longo dos anos e muito por conta dos diversos ambientes em que eu estava. 

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No anos 80/90, quando comecei a desenvolver um pouco de gosto auditivo, ele era o cara pop que tinha suas três ou quatro músicas que se revezavam nas rádios - se minha memória não me trai, acho que eram canções como "Let’s Dance”, “Modern Love”, “China Girl” e “Under Pressure”. Eram as "popices" dos anos 80, sendo três delas do mesmo álbum, Let’s Dance, de 1983, e a última de uma participação em um disco do Queen de 1982. 

Por ignorância minha, passei muito tempo ouvindo as pessoas falando de Bowie sem entender muito bem a sua real importância. Uma coisa ou outra iam chamando minha atenção aqui e ali. Como o dia em que o Nirvana tocou “The Man Who Sold The World” em seu MTV Acústico (1994) ou quando o Wallflowers fez uma versão de “Heroes” que estava na trilha sonora do filme Godzilla (1998). 

Cheguei até mesmo a ir a um show dele quando passou por aqui com sua turnê do álbum  Earthling (1997), tocando ao lado de No Doubt e Erasure no falecido Close-Up Festival, na pista de atletismo do Ibirapuera, em São Paulo. Lembro do palco gigantesco e cheio de luzes, mas não era um disco que havia me fisgado e a pegada eletrônica pela qual ele passava naqueles dias chegava até mesmo a impregnar em seus hits, tornando-os quase irreconhecíveis no início. 

Acho que foi nesta época que ganhei um LP do meu tio. Era uma cópia do Pin Ups, de 1973, que também não me animou muito em conhecer mais aquela figura andrógina que estampava a capa. Sem contar que estava naquela fase da transição do “bolachão” para o CD e quase não ligava mais o toca-discos de casa, dando preferência para os disquinhos digitais e espelhados. 

Londres 

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Em 2002 fui morar em Londres. E por lá peguei os lançamentos de edições comemorativas pelos 30 anos de álbuns como The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars (1972), Aladdin Sane (1973) e Diamond Dogs (1974), além dos lançamentos dos novos Heathen (2002) e Reality (2003). Cada um destes lançamentos ou relançamentos vinham acompanhados de ótimas matérias nas capas de revistas de música como Uncut, Q e Mojo, além do semanário NME. Eram entrevistas com o próprio Bowie, pessoas que trabalharam nos álbuns e músicos que foram influenciados por sua obra.   

Estes cinco discos mudaram de verdade a minha percepção sobre este cara que pouco conhecia e não considerava tanto. Fui descobrindo ali a sua genialidade, suas experimentações, suas jogadas de marketing para aparecer e fazer sua arte mais conhecida a cada dia. Quando já estava apaixonado, fui levado um dia ao Royal Festival Hall, onde acontecia o Meltdown Festival. Cada ano um artista diferente faz a curadoria do evento e naquele ano em que estava morando na capital inglesa, o curador era David Bowie. Ele chamou para tocar por lá bandas como Asian Dub Foundation, Badly Drawn Boy, Coldplay, Fisherspooner, Suede, Supergrass, The Dandy Warhols e várias outras, inclusive os nova-iorquinos do Yeah Yeah Yeahs, que tive o prazer de conhecer naquela noite. Esta era parte da sua genialidade, estar sempre antenado ao que estava acontecendo ao seu redor e usar isso ao seu favor.  

David Bowie nasceu David Robert Jones. Dizem que isso aconteceu em 8 de janeiro de 1947. Mas há relatos de que este seja apenas o dia em que sua nave pousou por aqui. Depois de apresentar ao mundo terráqueo seu amigo Ziggy Stardust, participar da festa de seu funeral, fazer contato com o astronauta Major Tom e viajar por labirintos cinematográficos, ele foi embora neste 10 de janeiro de 2016, depois de dar 69 voltas ao redor do nosso Sol. No caminho, mostrou que podemos ser heróis por um dia, realizar mudanças em nós mesmos e no mundo. 

Obrigado, David Bowie!  

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