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PR.5 - O novo projeto de Paulo Ricardo

PR.5 - O novo projeto de Paulo Ricardo

10.06.2004, às 00H00.
Atualizada em 23.11.2016, ÀS 14H05
Zum Zum - PR.5
3 ovos

Que o RPM acabou você já deve saber. Foi de forma barulhenta na imprensa que Paulo Ricardo contra Fernando Deluqui (guitarrista) e Luiz Schiavon (teclado) lavaram roupa suja e esfacelaram mais uma vez a banda que havia retornado após 12 anos. O racha aconteceu no momento em que o RPM se preparava para gravar seu novo disco de estúdio, que sucederia o álbum ao vivo lançado em parceria com a MTV em 2002.

O primeiro fruto da separação é o surgimento do grupo PR.5 (pronuncia-se "pê érre ponto cinco") e do CD independente Zum Zum, que aponta os novos rumos de Paulo Ricardo e seu colega de Repemê, o baterista Paulo (P.A) Pagni. "A gente é uma banda nova e que está propondo uma sonoridade nova, uma mistura nova. Estamos muito felizes por ter equacionado todos esses elementos de música eletrônica, pegada pop rock, melodias pop, ritmos brasileiros, percussão e conseguimos amarrar tudo isso num álbum coerente", conceitua Paulo Ricardo.

Zum Zum, que acabou de chegar às lojas, foi produzido pelo cantor e baixista em conjunto junto com a dupla Sonic Jr., formada por Juninho e Paulinho Pessoa. Além de Paulo (baixo, voz, violão), P.A (bateria), Juninho (programação e percussão) e Paulinho (guitarra e violão), o PR.5 é composto ainda por Jax Molina (ex-Defalla) na guitarra e Yann (ex-Metrô) no teclado. A sonoridade do disco vai por um caminho bem pop e mistura vários elementos do rock, MPB e música eletrônica. Se você procurar, vai encontrar reminiscências de várias fases da carreira de Paulo Ricardo, desde o RPM até sua chamada fase romântica, só que sem certos excessos que caracterizavam ambas. Os teclados de Schiavon, sempre muito presentes - para o bem e para o mal - dão espaço a um som mais orgânico e balanceado, timbres que por vezes se perdiam anteriormente. O resultado dessa mistura toda é que Zum Zum tem realmente unidade do começo ao fim. "No estúdio, depois que completamos essa formação, o som começou a rolar de uma forma natural. Tanto que já temos umas quatro ou cinco músicas para o próximo disco, que tem uma sonoridade totalmente criada pela banda", diz P.A.

O título deste álbum de estréia ajuda a dar a cara que o PR.5 quer que o disco tenha. "Esse nome é parte da idéia de brasilidade orgulhosa, com suas raízes afro-religiosas, de sua dança e luta. É ao mesmo tempo referência a uma tradicional casa de espetáculos do Rio de Janeiro que foi palco da Bossa Nova. Também é uma onomatopéia pra buxixo, uma conversinha, um ruído, um rumor", revela Paulo.

O álbum

O primeiro single de Zum Zum é "Música Comercial" e sintetiza bem o que é esse trabalho. Baixo e bateria dão o tom aqui, aliados à percussão, e com teclado e guitarra apenas escorando tudo. Na tentativa de soar mais moderno que o som, Paulo Ricardo peca um pouco na letra na qual coloca muitas palavras do vocabulário "internético" como "iTune", "MP3", "download", "baixar", entre outras. Mas no geral, "Música Comercial" realmente serve bem para mostrar a cara do PR.5.

Por falar em letras, nelas Paulo volta a usar um olhar mais crítico e urbano sobre o mundo, coisa que havia deixado um pouco de lado em sua fase romântica e que no MTV RPM 2002 também não apareceu com grande destaque porque as canções novas ficaram eclipsadas pelas músicas antigas. "Pela crise atual em que todos vivemos, foi inevitável abordar assuntos ligados à grana. Essa visão do dinheiro e a culpa católica do brasileiro de fazer sucesso, ganhar dinheiro e perceber a música comercial como algo pejorativo, me fez brincar e questionar tudo isso. De uma maneira rocknroll, irônica e desencanada", fala Paulo. Esse conceito aparece principalmente em canções como "Crédito" e "King of the Marketing" (com participação do publicitário Washington Olivetto) que, apesar do nome, tem letra em português. Um lado mais leve e onde se fala de amor aparece em "Sorte (Ter Você)", "Raios X", "O Amor em Si" e "Vida". E se você é daqueles que não ouviu e não gostou da fase em que o vocalista posava de galã, fique sossegado. Os arranjos dessas quatro canções seguem o mesmo padrão das outras desse trabalho e o toque dos rapazes do Sonic Jr. e do produtor Apollo 9 (apenas em algumas faixas) não deixam a unidade do disco se perder.

Outros destaques do CD são "Miss Ness" e "Zum Zum". As duas ajudam a dar a cara ao conceito perseguido pela banda. A primeira é uma inédita de Jorge Benjor com todos os elementos malemolentes que uma música dele pode ter. Já a trilha que dá nome ao disco (composta por Kao Rosman) é um tema de roda de capoeira e que mistura berimbau com programação eletrônica, guitarra e bateria.

"Onde Há Fumaça, Há Fogo" é um rock com um climão vigoroso cuja letra viajandona usa elementos do caos urbano, ficção e literatura. "Terra Brasilis" é o tipo de música recorrente na carreira de Paulo Ricardo - como "Juvenília", "Alvorada Voraz", "O Teu Futuro Espelha Essa Grandeza", "Falsos Oásis", etc. - e mostra a visão dele do Brasil, um tanto ufanista e decepcionada. O CD traz também as versões remix de "Música Comercial", "Terra Brasilis" e "Zum Zum".

O resultado final é que o disco soa leve, no bom sentido da palavra. Ao mesmo tempo em que afasta a marca do som do RPM, também não descamba para uma sonoridade mais, digamos, popular quando o assunto são as baladas. A nova banda de Paulo Ricardo consegue soar coesa mesmo misturando todos os elementos, dos loops ao berimbau. Com o PR.5 o cantor parece ter conseguido conciliar sua vontade de fazer um trabalho comercial e ao mesmo tempo inovador com relação ao som que vinha fazendo tanto em carreira solo quanto no RPM. E Zum Zum tem sim algumas canções com vocação para hit como a própria "Música Comercial", "King of the Marketing" e "Vida", por exemplo.

A grande questão é como o público vai receber o novo trabalho. Paulo Ricardo conseguiu criar um trabalho com alguma novidade para sua carreira, mas que corre o sério risco de não ser ouvido da maneira certa, principalmente por causa das várias metamorfoses de sua vida profissional. Praticamente a cada novo disco - tirando os três românticos - o vocalista muda seus rumos e não mantém uma constância. Mas se Zum Zum for ouvido com atenção, periga vingar.

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