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<b>Tim Festival 2004</b>: Brian Wilson promove catarse <i>surf music </i>

<b>Tim Festival 2004</b>: Brian Wilson promove catarse <i>surf music </i>

10.11.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H17
Foto: Marcelo Forlani

Se há uma alma no rock and roll, ela estava mais do que personificada no palco do Tim Festival, neste domingo. O grande show do dia pertenceu a Brian Wilson, ex-Beach Boys e atual mito do mundo da música.

O Tim Stage, transformado em sala de concertos com mesas e cadeiras a pedido do cantor, estava lotado. A apreensão do público era visível, quase palpável.

Brian Wilson foi recebido de pé pelas duas mil pessoas que lotaram o lugar e arriscou um "obrigado for you, São Paulo", antes de começar.

O show vinha sendo vendido pela organização do festival como a mega-apresentação de três horas com todo o repertório do recém-lançado Smile, mítico álbum dos Beach Boys que ficou 37 anos na gaveta.

A maior parte do show, porém, deu atenção aos maiores clássicos da ex-banda de Wilson.

A abertura foi com "Sloop John B", do disco Pet sounds, de 1966. Já nos primeiros acordes, Brian Wilson tinha o público nas mãos.

Em seguida vieram hits da surf music como "California girls", "Imagination", "Catch a wave", "In my room" e "I get around". Ao final, mais Pet Sounds, com "Wouldnt it be nice" e "God only knows", anunciada pelo cantor como "a música preferida de Paul McCartney". A canção marcou um dos momentos mais lindos da noite.

Brian falou pouco durante o show. Limitou-se a algumas dezenas de "obrigados" e ao anúncio de uma canção aqui, outra ali. Sentado quase tímido atrás de um teclado raramente tocado, ele se dedicou às suas músicas, com a ajuda de dois monitores com as letras, e a reger feliz sua big band de dez músicos.

O trecho seguinte da apresentação foi dedicado, agora sim, ao Smile. Mas nada de repertório completo. O disco foi reduzido à metade, com oito músicas.

Mas foi aí que sua banda, que já vinha competentíssima, mostrou mais o seu valor. Os arranjos de Smile foram reproduzidos à perfeição. Da ótima "Heroes and villains" à guitarrenta "Marcella". A clássica "Good Vibrations", que encerra o disco, fechou também a primeira parte do show.

Acabasse por aí, a apresentação de Brian Wilson já teria entrado de sola na história dos shows internacionais no Brasil. O público, entregue e emocionado, não parou de aplaudir de pé. Era uma noite de devoção: dos fãs a Brian, da banda ao seu maestro e, principalmente, devoção irrestrita do criador à sua música.

Mas o bis não tardou a vir e o senhor Brian, com a ajuda de sua banda, transformou o lugar num clássico baile dos anos 60. Convidando todo mundo para dançar, mandou mais hits dos Beach Boys. O ponto alto foi a trinca "Barbara Ann", "Surfin USA" e "Fun, fun fun", quando Wilson levantou-se do banquinho, pegou seu baixo e começou a tocar. O fato de ninguém ter ouvido direito o som do seu instrumento não importou. Afinal, o mito estava ali.

Aplaudido novamente de pé, Wilson voltou correndo ao palco para o segundo bis. "Chega de rock and roll", disse, ao cantar a tristonha "Love and mercy", faixa do seu primeiro álbum solo, de 1988.

E foi assim, com uma tristeza quase melancólica, que se encerrou a histórica apresentação de duas horas de Brian Wilson no Brasil. Ele acenou à platéia, agradecendo emocionado e sumiu atrás da coxia.

Se há uma alma no rock and roll, ela saiu lavada do último domingo. E vai ser preciso muito fôlego para se superar o que aconteceu ali.

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