Música

Crítica

Cavalo - Rodrigo Amarante | Crítica

Em seu primeiro disco solo, o músico carioca dilacera o sentimento do exilado

22.10.2013, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 15H08

A estreia solo de Rodrigo Amarante, ex-Los Hermanos e Little Joy, engloba diversas expectativas - sejam elas positivas ou negativas. Independente do teor desta espera, há de se concordar que Cavalo é um disco sincero. O cantor imprime sua essência em onze faixas suaves, que não surpreendem em relação ao seu estilo de composição e arranjo, mas podem agradar pela mensagem que transmitem.

"Acredito que todo mundo em alguma medida também se sente estrangeiro, na forma como os outros os vêem, em seu corpo, em seu destino talvez, e por isso sonho que esse meu veículo, espelho imprevisível que preencho, que me serve e que me move, possa também mover a ti, servir ainda a outros, com sorte". O trecho citado, retirado de uma carta ao público que o próprio Amarante divulgou, comprova de fato que a intenção de Cavalo realmente se vale do transporte do ouvinte a um universo particular, no qual o músico repensou vida e amores a partir de diversas influências sonoras.

"Nada em Vão" abre o álbum numa melodia soturna, com um vocal leve e instrumentação rebuscada com sopro e teclado. "Hourglass" parte para uma pegada mais dançante - com direito a letra em inglês, o que antecipa um outro típico estrangeirismo de Amarante, o francês, que dá as caras na seguinte "Mon Nom".

O gingado de Cavalo desce em "Irene", canção de violão angustiado que entre tantos versos se destaca pela sequência "milagre seria não ter, o amor, essa rima breve". Ela trata do exílio em sua pior perspectiva, a da saudade, que passa (ou melhora) com a agitada "Maná", ponto alto de todo o disco. Mistura de samba com pop, a faixa remonta um lado mais ensolarado de Amarante, boa para quem achava que isso não vingaria após a fase Little Joy.

"Fall Asleep" abaixa o tom num piano melancólico, induzindo a um clima tranquilo para "The Ribbon", que apresenta uma introdução soturna com uma melodia doce no violão e adornos de piano. "O Cometa" lembra o vocal contador de história que Amarante emplacou enquanto Los Hermanos, e "Cavalo" vai na mesma linha. Com um piano delicado e um clima introspectivo, a letra abre interpretações com: "no olho do cavalo, espelho imaculado, o duplo eu".

A faixa seguinte, "I’m Ready", continua numa toada suave, que facilmente poderia entrar no disco Little Joy (Rough Trade, 2008). Lembra Caetano Veloso em sua fase de exílio – Transa (1972) – onde inglês e português se casam numa mesma canção. O fim ocorre com "Tardei", música de melodia mais triste com vocal cansado de Amarante. Amor e desprendimento encerram um álbum agarrado a influências, mas solto de expectativas. O compositor dança sozinho e deixa o convite para quem quiser o seguir, num disco onde a unidade do eu-lírico perdido cria uma maneira honesta de se reencontrar.

Nota do Crítico
Bom

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