Fazer um disco gravando músicas do Frank Sinatra não é, necessariamente, uma novidade no mercado fonográfico. Muitos artistas já usaram esta fórmula no passado e, ao que parece, é o tipo de trabalho que sempre vai ter boa aceitação em qualquer época.
Mas regravar Sinatra é uma responsabilidade e - diferente de muitos outros que já o fizeram de forma irresponsável - Bob Dylan sabe exatamente a linha tênue que separa a homenagem do oportunismo. E, assim, traz Fallen Angels: uma sequência natural de Shadows In The Night, seu disco anterior com regravações que saiu no ano passado.
Antes de entrar nas diferenças entre os dois álbuns é importante notar que, na verdade, não existem músicas DO Frank Sinatra. A maior voz americana nunca compôs uma linha, mas era tão competente que qualquer música gravada por ele ficava imortalizada. Daí o peso de se regravar qualquer título que já tenha sido registrado por sua voz.
Em Fallen Angels, Dylan está ainda mais à vontade em assumir a posição do típico crooner americano, mas com uma diferença considerável em relação à Shadows In The Night: aqui ele se arrisca em canções ainda mais famosas e mais universalmente conhecidas na voz de Sinatra, hits de verdade como "All The Way" e "Young At Heart". Aliás, onde Shadows focava em temas mais obscuros, Fallen Angels muda o tom e privilegia as músicas mais românticas, mais leves e mais familiares de Sinatra.
E aí a aventura fica interessante, porque é tão complicado imaginar essas músicas com outra voz que Dylan se aproveita da expectativa para reinventar tudo e mostrar que fazer diferente é uma grande forma de homenagem e de humildade. E só gigantes como Dylan têm a sensibilidade necessária para fazer isto.
"All Or Nothing At All" e "It Had to Be You" também são dois momentos surpreendentes, nos quais a voz de Dylan tempera os arranjos propositalmente old-school com uma entonação moderna, dando um ar novo para estes grandes clássicos.
Fallen Angels é uma grande homenagem, aliás, a estas canções imortais da cultura americana. São canções que muita gente - muita mesmo - já gravou, que foram eternizadas por Sinatra e que ganham uma vida nova agora na voz de Dylan, também um dos maiores símbolos da música americana.
Por isso o disco soa autêntico. Dylan não precisa provar nada para ninguém e faz o que faz por verdadeiro interesse artístico. E esse é o grande mérito de Fallen Angels (e de Shadows): é um gigante gravando outro, gerando um resultado extraordinário e uma visão romântica de Dylan para os dias de vinho e rosas dos Estados Unidos do século XX.