Música

Crítica

Bob Dylan - Fallen Angels | Crítica

Uma das maiores vozes da música homenageia outra com autenticidade

20.05.2016, às 12H16.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H34

Fazer um disco gravando músicas do Frank Sinatra não é, necessariamente, uma novidade no mercado fonográfico. Muitos artistas já usaram esta fórmula no passado e, ao que parece, é o tipo de trabalho que sempre vai ter boa aceitação em qualquer época.

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Mas regravar Sinatra é uma responsabilidade e - diferente de muitos outros que já o fizeram de forma irresponsável - Bob Dylan sabe exatamente a linha tênue que separa a homenagem do oportunismo. E, assim, traz Fallen Angels: uma sequência natural de Shadows In The Night, seu disco anterior com regravações que saiu no ano passado.

Antes de entrar nas diferenças entre os dois álbuns é importante notar que, na verdade, não existem músicas DO Frank Sinatra. A maior voz americana nunca compôs uma linha, mas era tão competente que qualquer música gravada por ele ficava imortalizada. Daí o peso de se regravar qualquer título que já tenha sido registrado por sua voz.

Em Fallen Angels, Dylan está ainda mais à vontade em assumir a posição do típico crooner americano, mas com uma diferença considerável em relação à Shadows In The Night: aqui ele se arrisca em canções ainda mais famosas e mais universalmente conhecidas na voz de Sinatra, hits de verdade como "All The Way" e "Young At Heart". Aliás, onde Shadows focava em temas mais obscuros, Fallen Angels muda o tom e privilegia as músicas mais românticas, mais leves e mais familiares de Sinatra.

E aí a aventura fica interessante, porque é tão complicado imaginar essas músicas com outra voz que Dylan se aproveita da expectativa para reinventar tudo e mostrar que fazer diferente é uma grande forma de homenagem e de humildade. E só gigantes como Dylan têm a sensibilidade necessária para fazer isto.

"All Or Nothing At All" e "It Had to Be You" também são dois momentos surpreendentes, nos quais a voz de Dylan tempera os arranjos propositalmente old-school com uma entonação moderna, dando um ar novo para estes grandes clássicos.

Fallen Angels é uma grande homenagem, aliás, a estas canções imortais da cultura americana. São canções que muita gente - muita mesmo - já gravou, que foram eternizadas por Sinatra e que ganham uma vida nova agora na voz de Dylan, também um dos maiores símbolos da música americana.

Por isso o disco soa autêntico. Dylan não precisa provar nada para ninguém e faz o que faz por verdadeiro interesse artístico. E esse é o grande mérito de Fallen Angels (e de Shadows): é um gigante gravando outro, gerando um resultado extraordinário e uma visão romântica de Dylan para os dias de vinho e rosas dos Estados Unidos do século XX.

Nota do Crítico
Ótimo

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