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Drake - Views | Crítica

Álbum sem unidade mostra um artista desfocado

17.05.2016, às 12H59.

O novo álbum de Drake, Views, é uma coletânea de faixas que poderia durar menos. Quando vi que esse trabalho teria 20 faixas, fiquei animado. Isso se deve, principalmente, as camadas e a forma como o artista realizou "Hotline Bling", que me fez esperar um projeto com pop açucarado e graves trabalhados, perfeito pra dançar por um bom tempo. Ledo engano.

Logo de cara, "Keep the Family Close" quebra todas as expectativas, com um andamento lento, mas que deixa em evidencia uma produção interessante. Mistura, na medida, de sonoridades orgânicas, com violinos, órgão entre outros instrumentos que garantem uma proposta completa, mas não tão distante das performances mais comerciais do rapper. Em seguida, sem acelerar o ritmo, vem "9", essa sim com uma proposta mais urbana, mas que não empolga e segue pelo caminho das rimas permeadas por um ritmo que não contagia e nem dá pistas de qual será o caminho a ser seguido pelo resto do projeto. A terceira faixa, “U With Me?”, mistura momentos climáticos e uma sonoridade que também não empolga.

A primeira mudança climática do álbum acontece com "Feel no Ways", que apresenta uma proposta mais alegre e puxa para o que colocou Drake em evidência, seu vocal característico. Mas é  com "Hype" que o trabalho parece engrenar, música que aposta nos graves e tem uma sonoridade que coloca o ritmo dançante em destaque e apresenta um artista que parece não estar tão preguiçoso ou desleixado com suas criações. Porém, até esse momento, se mantém a dúvida: Para onde o álbum vai?

Na sequência, mais uma mudança de direção, com “Weston Road Flows” que se aproxima mais do hip-hop dos anos 90, tanto pela cadência das frases quanto pela forma como a música parece ter sido feita para soar nos fones. Um detalhe bacana fica pelo clima criado pelos teclados preenchendo o final da produção.

Assim, à medida em que o álbum avança, é possível notar que Drake possui boa possibilidade de trabalhar com sua voz, mas que por algum motivo não é explora isso da melhor forma. Como dito na crítica da Rolling Stone norte-americana, ele apresenta todo um conceito, mas quando comparado a outros expoentes do mesmo segmento - Beyoncé, Kanye West, Rihanna - ele é um peso leve por não buscar uma abordagem temática mais pontual e relevante, focando somente em seus problemas com mulheres, ex-namoradas e a sua vivência.

Bem, talvez esse contentamento com o básico se torne mais explícito na falta de unidade da obra o que aparenta certa displicência até mesmo na track-list que poderia ser menor e mais coesa, apresentando somente as composições mais trabalhadas de Drake.

Depois desses passos, chega a parceria com PARTYNEXDOOR, “With You” que nada acrescenta ao que já foi mostrado até o momento. Na sequência surge “Faithfull”, a primeira faixa capaz de desconstruir a fórmula na qual o artista está encaixado e mostrar como é possível alcançar outro patamar graças a uma mistura de R&B  em conjunto com uma cadência rítmica mais desafiadora e que conta com a participação de Pimp C & dvsn. A música, é mais uma das que abusa dos graves e consegue uma abordagem diferenciada de quase tudo que foi apresentado em Views até o momento. É mais climática e por isso mais interessante.

A partir de “Still Here” o álbum parece que vai encontrar seu caminho sonoro. A criação abre as portas para composições mais radiofônicas e que carregam a identidade mais pop de Drake. O destaque fica, mais uma vez, por conta da inserção de graves pesados em conjunto com certa economia na utilização das camadas sonoras. Uma criação simples, mas que tem o necessário para se manter dançante e relevante.

Após encontrar essa identidade, o álbum segue para uma sequência de maior unidade criativa com “Controlla” e “One Dance” com Wizkid & Kila que apresentam uma veia mais dançante ao misturar algo que lembra a sonoridade caribenha e um clima sexy. No entanto, mais uma vez, essa unidade é deixada para trás a partir de “Grammys” com Future, que mostra uma proposta mais apegada à cadência rítmica das palavras, mas se mantém como uma criação empolgante. “Childs Play” começa bem, mas se perde na tentativa de emular algo que não é, e se torna descartável, justamente por buscar uma variação sonora que não se encaixa em sua proposta. “Pop Style” poderia ser uma transição dentro de uma faixa, não uma música dentro do álbum.

Por fim, Drake parece apostar suas fichas em um encerramento grandioso, e nada evidencia mais isso do que uma parceria com Rihanna em “Too Good”. Sem dúvida é uma faixa dançante, com cara de pista, mas sem toda a força que a cantora de Barbados apresenta em seus trabalhos solo.

Em seguida vem “Summers Over Interlude” que acalma o ambiente preparando para o final do trabalho, com “Fire & Desire”, que mantém a rotação baixa, mas não empolga, talvez pela pretensão de soar romântica e sexy, sem conseguir chegar lá. O arremate é feito pela track que dá nome ao projeto, “Views”, que também que também discreta e abre espaço para o hit “Hotline Bling”, com sua pegada moderna e cheia de nuances que empolga, não importa o lugar.

No final das contas, o que poderia mudar toda a experiência de ouvir o álbum seria a divulgação de “Hotline Bling” mais próxima a data de lançamento de Views. Esse planejamento poderia fazer com que o projeto soasse melhor. Isso se une a falta de uma proposta e de um caminho mais coeso para que as faixas fossem apresentadas. Assim, o que Drake apresenta agora, soa como uma coletânea não planejada, sem caminho definido, que faz com que o projeto seja somente 'mais um' dentro da temporada de lançamentos. Com poucos momentos interessantes fica evidente que lançar 20 músicas não foi uma boa ideia. Se o rapper tivesse pensado um pouco mais e apostado somente em suas melhores criações, a experiência de Views poderia ser bem mais agradável e completa. Afinal de contas, produzir muito nunca foi sinônimo de qualidade.

Nota do Crítico
Regular

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