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Crítica

Foo Fighters - Saint Cecilia EP | Crítica

Longe de pretensões megalomaníacas, Dave Grohl e cia. fazem um trabalho coeso

26.11.2015, às 15H47.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Na parte final do excelente documentário Sound City, quando Paul McCartney entra no estúdio com os membros remanescentes do Nirvana para gravar “Cut Me Some Slack”, Dave Grohl desabafa: “Queria que gravar uma música sempre fosse fácil assim”. O ex-beatle prontamente responde: “Mas é”. Saint Cecilia, o recém-lançado EP do Foo Fighters, parece ser um produto desta valiosa lição: um conjunto de músicas criadas apenas pelo prazer de fazer música.

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Na introdução do EP, Grohl conta que as cinco faixas foram gravadas em duas semanas, numa folga da turnê do álbum mais recente, Sonic Highways, num hotel improvisado como estúdio, cercado de festa e ao lado de amigos, para ser entregue aos fãs como um presente após uma turnê que virou de cabeça pra baixo após o fatídico acidente que quebrou a perna do frontman.

O EP é exatamente a antítese de Sonic Highways, uma epopeia musical que, de tão imersa na vontade de contar o processo de criação musical, acabou deixando de lado o produto final: as músicas, cuja qualidade está muito aquém do que a banda faz de melhor. Ao dar menos importância para o processo - uma das maiores obsessões de Grohl desde Sound City -, a banda atinge em Saint Cecilia um resultado muito mais coeso, apesar da gravação descompromissada.

A perna fraturada de Grohl é clara influência para boa parte das músicas. “Santa Cecília, carregue-me para sua casa dos ossos quebrados”, diz o frontman logo na faixa-título, com uma pegada mais pop e as melodias de guitarra e voz chiclete que são uma marca registrada do Foo Fighters. “Sean” também vai pelo mesmo caminho, reciclando melodias vocais usadas em “Feast and the Famine”, de Sonic Highways, e misturando um ritmo acelerado com uma letra que faz contagem regressiva para ‘voltar para casa’ - outro tema recorrente das músicas da banda.

Grohl também fala que o EP pega composições guardadas (ou esquecidas) pela banda, o que ajuda a associar cada faixa com um determinado momento da banda. Enquanto a primeira faixa e a segunda faixa lembram, respectivamente, a fase atual e o começo da carreira do Foo Fighters, “Savior Breath” vai pelo caminho de “White Limo”, com Taylor Hawkins espancando a bateria por três minutos enquanto os guitarristas repetem à exaustão um riff poderoso.

Já “Iron Rooster” parece ter saído da fase acústica-contemplativa do disco Echoes, Silence, Patience and Grace, com uma levada de violão que dá lugar a trechos psicodélicos puxados pelas guitarras. “The Neverending Sigh”, a melhor faixa do EP, evoca a época de The Colour and the Shape com excelentes transições, equilibra bem o peso das guitarras e o apelo pop dos vocais de Grohl.

Ainda que as cinco músicas de Saint Cecilia tenham sido gravadas às pressas e não estejam entre as melhores da história da banda, certamente servem para relembrar ao Foo Fighters o que até os fãs já sabem: a banda funciona melhor quando compõe e grava em ambientes mais tranquilos, sem pressão. O EP pode ter sido um presente para os fãs, mas provavelmente quem mais precisava dele era Dave Grohl e companhia.

Nota do Crítico
Bom

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