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Festival Heineken Paredes de Coura 2006

Festival Heineken Paredes de Coura 2006

06.09.2006, às 00H00.
Atualizada em 30.11.2016, ÀS 02H02

Bauhaus

Yeah Yeah Yeahs

The Cramps

Broken Social Scene

!!!

Block Party
Fotos: Luís Bento

A experiência de visitar o festival Heineken Paredes de Coura nunca é facilmente esquecida. O primeiro passo para muitos é uma viagem a partir da capital Lisboa, que pode demorar entre 5 e 7 horas, dependendo de vários fatores. Durante o deslocamento, sempre em direção ao norte, as expectativas crescem conforme a paisagem muda de grandes auto-estradas para pequenas cidades, e finalmente estradas secundárias que deslizam pelas montanhas e indicam que a chegada às colinas verdejantes de Paredes de Coura está iminente.

A grande maioria do público se espalha pelas colinas e tenta encontrar um lugar à sombra para montar sua barraca e não sofrer com o calor abrasador do dia, enquanto poucos se dirigem à vila, onde alugam quartos ou casas. Quem decidir ficar acampado brevemente descobrirá que uma boa noite de sono é um objetivo quase impossível, graças às milhares de almas perdidas que vagam ébrias pela noite falando (gritando) todo tipo de absurdos imagináveis e inimagináveis. E quem decidir ficar hospedado na vila nunca vai saber a festa que está perdendo.

Por se localizar próximo à fronteira com a Espanha, na edição deste ano o número de bilhetes vendidos para o país vizinho representava mais de metade do total de ingressos distribuídos antes do início do festival. E bastava andar poucos metros pelo camping para ouvir pessoas falando em português, inglês, francês e espanhol e perceber que, cada vez mais, Paredes de Coura está se tornando um festival internacional. Para ajudar, a organização procurou trazer grandes nomes como Morrisey, Bauhaus e Gang of Four, mas também apostar em bandas ainda emergentes como Shout Out Louds e White Rose Movement.

Dia 1

Depois da "noite de aquecimento", em que figuraram alguns DJ sets para entreter os festivaleiros mais entusiastas que chegaram um dia antes do inicio oficial, a noite de abertura teve como principal atração no palco secundário a banda alemã Warren Suicide.

A madrugada se aproximava quando gritos histéricos soaram, cortando o ar gélido da noite, e o vídeo projetado em um telão no fundo do palco mostrou o nascimento de Warren Suicide, uma bizarra criatura com forma humana mas aparentemente sem sexo nem idade. O devastador electro punk da banda se assemelha a algo como Fischerspooner em uma "bad trip" de LSD, e a performance no palco também não deixa nada a desejar. O vocalista e guitarrista Nackt fazia sua guitarra guinchar enquanto gritava as palavras de ordem presentes nas letras simplistas, apoiado pela firme estrutura criada pelos beats do baterista Bert-Ill.

Os vídeos projetados no telão mostravam as pequenas histórias contadas pelas letras e apresentavam Warren quase como um quarto membro do grupo, chegando a "cantar" em uma das músicas.

A doce voz da vocalista Cherie contrastava com o caos musical, principalmente em canções como "I Know You", que chega muito perto de ser uma faixa de puro pop. Mas esta impressão foi rapidamente deixada para trás pela invasão de palco, pelo crowd surfing que Nackt decidiu fazer ou pela animação de vários animais sendo mortos e sangrando que foram projetadas durante a música "Butcher Boy".

Dia 2

White Rose Movement é mais uma banda que utiliza a herança deixada pelo pós-punk sem alterar muita coisa. Mas, ao contrário de grupos como The Bravery, eles sabem usar muito bem esta herança. O visual dos ingleses pode ser facilmente comparado com o do Gang of Four ou The Human League. E principalmente no caso da primeira, há também uma certa semelhança na sonoridade.

Sempre energética, a banda deixou para trás a arrogância característica da maior parte dos grupos "pós-pós-punk", e teve uma performance aparentemente muito sincera. O sorriso constante no rosto do baixista Owen Dyke mostrava a satisfação por uma recepção calorosa, e mesmo com alguns problemas técnicos, eles não se deixaram abalar e realizaram um ótimo show para começar a aquecer a noite.

Em sua segunda passagem por Paredes de Coura, sete anos depois da primeira, o Gomez apresentou seu novo registro, How We Opertate. Sem dar sinais de desgaste pelos seus dez anos de estrada, a banda tocou seu pop-rock fácil de se gostar, sem nunca abandonar uma postura bem humorada e agradável - mas também sem deixar marcas mais profundas.

Do rock veranil para o universo muito mais perverso e sombrio dos noruegueses Madrugada. Eles abriram com a música "The kids are on high street", dando o tom ligeiramente épico que show teria. Com uma ótima postura de palco, a banda manteve uma performance linear, com os pontos altos na segunda metade do show, com as músicas "Majesty" (apresentada em uma versão ligeiramente diferente do álbum), "Black Mambo" e "Blood Shot Adult Commitment".

Uma das apresentações mais aguardadas da noite era a do grupo canadense Broken Social Scene. Com um futuro indefinido, esta pode ter sido a última oportunidade de ver uma apresentação ao vivo, já que o grupo decidiu suspender atividades por tempo indefinido ao fim desta turnê.

Variando entre um mínimo de quatro e um máximo de nove pessoas no palco, mas sem a presença de Leslie Feist e Emily Haines, o conjunto maravilhou a platéia ao entrelaçar as melodias de cada instrumento dando forma a músicas como "7/3 (Shore Line)" e "Cause = Time" sob a luz azulada que envolvia o palco. A energia juvenil emanada contagia até os mais resistentes, mesmo que alguns dos presentes no palco já sejam pais de família e outros já estejam longe de serem adolescentes.

As notas disparadas pela guitarra de Evan Cranley cruzavam o ar como raios de energia elétrica, que ao atingir um corpo não lhe permitia que ficasse parado, criando uma espécie de transe hipnótico. Eles abandonaram o palco deixando em muitos a vontade de presenciar novamente o acontecimento que é um show do Broken Social Scene, e também a dúvida de que tal data existirá.

É importante manter em mente o fato de que Morrissey não é The Smiths! Mesmo abrindo o show com a consagrada "How Soon is Now", o suposto rei desta noite perdeu força logo que passou para seu repertório solo. Esbanjando simpatia, Morrissey foi muito comunicativo durante todo o concerto, chegando a lançar para o público duas de suas camisas. Mas mesmo assim, os inevitáveis pedidos por músicas do Smiths não cessaram, e apesar da figura mítica e do comportamento cordial, foi exatamente isso o que faltou para alcançar o status de show excelente.

Depois de anunciar que tudo acaba da mesma maneira que começa, as primeiras notas de "Panic" soaram, levando os fãs mais ferrenhos a um estado de êxtase - sentimento que seria brevemente interrompido pelo próprio Morrissey, que depois de cerca de trinta segundos de música parou de cantar e deu indicações para a banda abandonar o palco, sem nenhum motivo aparente. Alguns ficaram chocados, outros esboçaram sorrisos amarelos, e enquanto os fãs abandonavam as primeiras fileiras, a sensação de coito interrompido crescia.

O verdadeiro espetáculo da noite ficou reservado para o duo Fischerspooner. Nesta nova turnê, com uma banda e duas dançarinas em palco, mas sem Fischer, Casey Spooner maravilhou o público com um espetáculo que deu uma idéia de como seria Ziggy Stardust nascido 25 anos depois e criado em uma discoteca de Nova York.

Começando com a morna versão de "The 15th." , do clássico pós-punk The Wire, a banda não deu grandes esperanças para os mais cépticos, mas inverteu imediatamente a tendência com as duas próximas músicas, que liberaram uma enorme descarga de energia. Com direito a milhares de pequenos pedaços de papel vermelho sendo lançados por dois canhões localizados nas laterais do palco. Nem a chuva, que pela primeira vez na edição de 2006 do festival começava a se intensificar, foi capaz de demover a massa de pessoas que insistia em bater o pé e mexer o corpo ao ritmo de letras viciantes de músicas como "Never Win".

Perante aclamação constante do público, Casey Spooner não mediu elogios, dizendo que o público em Portugal era melhor do que o de Espanha e que se a recepção continuasse tão calorosa compraria uma casa no país. Trocou de figurino três vezes e em uma ação quase satírica em relação à atitude de Morrissey, parou de tocar seu maior hit, "Emerge", ainda no início e anunciou que sabia que o público queria ouvir a música, mas como artista ele deveria ter o poder de deixar o passado para trás e seguir novas direções, e então apresentou uma música de seu novo álbum. Mas é claro que o grande hit não poderia ficar de fora, e ele voltou para concluir o show de forma apoteótica, coroando Casey Spooner como o verdadeiro grande rei da noite.

Dia 3

Depois de chover constantemente desde o inicio da atuação de Morrissey no dia anterior, a chuva decidiu dar uma trégua há poucos momentos do inicio da atuação dos portugueses The Vicious Five. O som está longe de ser original, mas as próprias músicas aliadas à contagiante atitude da banda funcionam extremamente bem no palco, e o já grande contingente de fãs colaborou ainda mais para um inicio de tarde bem humorado, com um fã gritando insistentemente para o vocalista Joaquim Albergaria "Mostra as mamas!"

Eagles of Death Metal, anunciada exaustivamente como o projeto secundário de Josh Homme, não contou com a presença do ruivo criador do Queens of the Stone Age. Mas a ausência, aparentemente, não fez muita diferença. Jesse Hughes chega perto de ser um personagem de HQ. Criando uma paródia a partir dos roqueiros mais durões, ele se veste como um motoqueiro, possui um enorme bigode em forma de ferradura e apresenta uma atitude muito bem uma humorada, salvando o show da monotonia que seria criada pela grande semelhança entre todas as músicas.

Muitas bandas devem boa parte de sua sonoridade aos senhores do Gang of Four, e curiosamente algumas delas tiveram a oportunidade de pisar no mesmo palco que eles nesta noite, mas em posições mais privilegiadas. Com trinta anos de carreira, a energia da banda supera facilmente a de muitos de seus "descendentes", mas a maior parte do público que esperava por Yeah Yeah Yeahs e Bloc Party não mostrou o respeito merecido, permanecendo indiferente durante a maior parte do concerto e despertando apenas nos momentos mais extremos. Um deles, por exemplo, foi a destruição de um microondas com um taco de baseball durante a música "Hed Send In The Army", e o caos sônico criado por Andy Gill jogando sua guitarra contra o chão e através do palco, chegando a cair no fosso, passando perigosamente perto da cabeça de um dos seguranças. Apesar da reação apática da maior parte do público, a banda não perdeu o fôlego, deliciando os fãs com músicas recheadas de funk como "Not Great Men", "To Hell With Poverty" e "Damaged Goods".

A passagem por Paredes de Coura há três anos deu motivos para muitas expectativas serem criadas para a volta do Yeah Yeah Yeahs. Em 2003, pôde se presenciar um show marcado pelo radicalismo de Karen O, e três anos depois ela parecia carregar um peso que o Gang of Four não acumulou em trinta. Em um show curto e sem pontos altos, as canções ficaram divididas entre o álbum "Fever to Tell" e o novo, "Show Your Bones", tendo como única exceção a música "Miles Away". Apoiada por um integrante a mais no palco (Imaad Wasif) para dar forma às obras polidas do novo álbum, Karen O realizou uma performance sem grandes surpresas e até decepcionante para quem esperava a mesma energia que a banda provou ter em 2003. Bom para alguns e ruim para outros, assim como os álbums, a atmosfera presente no show passou a ser cada vez mais suave.

Durante toda a apresentação do Bloc Party, o vocalista Kele Okereke deixou claro que graças à chuva torrencial que caía enquanto a banda fazia a passagem de som, as expectativas para a estréia em Portugal eram muito baixas. Mas com a ajuda do público, que chegou perto de lotar o local, eles foram capazes de realizar um dos shows mais surpreendentes por lá.

A popularidade do Bloc Party vem em grande parte da trilha sonora para um anúncio de uma grande empresa. E apoiados nesta popularidade, os membros da banda tiveram espaço para apresentar suas músicas sem serem julgados de forma muito severa pelo público, o que também colaborou para o sucesso da performance. Okereke se manteve sempre muito comunicativo, enquanto os demais membros pouco faziam para tornar o espetáculo mais interessante.

O We Are Scientists é uma banda ainda em inicio de carreira que teve a oportunidade de ser a última a tocar no terceiro dia do festival. O normal seria uma debandada geral, mas na verdade poucas pessoas deixaram de presenciar o show morno de um grupo que tem um álbum que chama pouca atenção, mas que no palco é agradavel.

Dia 4

Os espanhóis do Cat People são uma daquelas bandas que chegam o mais perto do plágio que a lei permite. Por um lado as músicas e o estilo são interessantes, por outro, não passam de uma mera cópia do Interpol. As músicas se tornam cada vez mais previsíveis conforme o lento show decorre, e apesar de uma aceitação positiva do público, é impossivel não se sentir envergonhado. E terminando o show com um cover de "I Wanna Be Adored", da banda Stone Roses, eles provaram que são especialistas apenas em tocar músicas feitas pelos outros.

Uma agradável surpresa foi o Shout Out Louds. Com uma sonoridade pop rock de fácil digestão e que lembrava muitas vezes os elementos mais pop do The Cure, o grupo carregou o público agradavelmente pelo fim da tarde. Mesmo com a chuva que voltou a cair forte durante o show, quase ninguém abandonou seu lugar. No fim, eles foram presenteados com um ramo de flores lançado por algum fã em direção ao palco e saíram de cena deixando um gosto doce na boca.

Os Maduros é um supergrupo criado por grandes figuras da música portuguesa. Senhores que fizeram e ainda fazem, cada um em sua banda própria, muito pela evolução da música produzida em terras lusitanas. Uma turma que tinha todos os elementos para criar um grande concerto, mas ninguém esperava o show de horrores que foi presenciado. Apesar da qualidade técnica, a banda lembrava um grupo de adolescentes tentando ser punk, com direito até a cover do The Clash. Os shows dOs Maduros ocorrem muito raramente... e o mundo agradece.

A explosão de ritmo e funk do !!! (pronuncia-se chk chk chk) provou merecer um lugar no festival de Paredes de Coura pela segunda vez seguida. Neste ano, duas posições acima no cartaz em relação a 2005, a banda voltou para colher os frutos semeados na última temporda. E para todos os lugares onde se ia, era fácil ver camisetas, bonés e até capas de chuva com os três pontos de exclamação pintados ou colados com fita adesiva, no melhor estilo do it yourself.

Os três pontos de exclamação também apareceram pintados na cara de um grupo de fãs que vibrava com as músicas emanadas pela banda no palco. E não era só isso que podia ser visto no rosto do público, o fogo presente nos olhos e o corpo se contorcendo descontroladamente tornava evidente o previsível: aqueles fãs e grande parte do público estavam possuídos pelo ritmo. Já Nic Offer e John Pugh, não. Eles eram o próprio ritmo! Já sem o shortinho azul e a camiseta rosa, Nic apresentou um figurino muito mais sóbrio, uma camisa bege de mangas compridas e uma calça jeans que deixava metade de suas nádegas à mostra - fato que ficava evidenciado cada vez que ele pulava para o palco, depois de uma de suas visitas às grades em que gritava as letras na cara do público, quase sendo arrastado pelas pessoas que o puxavam. Mas foi John Pugh que foi realmente arrastado para o meio da massa, que se movia à merce da música.

Em um destes encontros com o público, Nic Offer reparou na camiseta homemade de uma fã, e junto com um beijo ofereceu uma daquelas margaridas que tinham sido atiradas para o palco durante o show anterior. E a interação com o público não parou por aí. Nic ainda brincou com duas fãs do The Cramps dizendo que elas eram as pessoas mais mal vestidas que ele já tinha visto em um show do !!!, e levou um pôster feito por um fã para o palco. John Pugh falou em tom de brincadeira que voltariam no próximo ano para tocar ainda mais tarde, como headliners, e mesmo podendo ser considerado muita repetição para alguns, quem esteve presente sabe que seria uma ótima idéia.

Logo depois de Lux Interior dizer que era estranho não estar chovendo, pois Deus detesta The Cramps, a chuva começou a cair em Paredes de Coura. Rockabilly não varia. Nunca! E é isso que torna o show do The Cramps uma experiência que se aproxima à tortura para pessoas que já estão há quatro dias pegando chuva e lidando com as condições não muito confortáveis de se acampar. Mas para quem gosta, a repetição foi o suficiente para sair satisfeito. Lux Interior, com os seus quase sessenta anos, ainda se joga no chão, lambe as botas de Poison Ivy e ainda escala perigosamente colunas de som. Minutos depois da última música acabar, um amigo que teve a oportunidade de ver The Cramps em outro país e há não muito tempo, me disse que acreditava piamente que a organização do festival, com medo do estrago que banda poderia fazer, tinha colocado tranqüilizantes na comida presente no camarim. E apesar de estarem longe de parecerem dopados é evidente que não usaram toda a energia que poderiam.

Conforme a chuva aumentava as ondas sonoras lançadas pelas caixas de som poderiam ser confundidas com trovões quando as primeiras notas da música "Double Dare" indicavam o início do teatro do Bauhaus. No show que teve o som mais alto do festival, toda a teatralidade que poderia se esperar da banda estava presente, seja pela presença avassaladora de Peter Murphy ou pela neblina de gelo seco que jorrava do palco intensamente durante toda a performance. As músicas mais soturnas dominaram a lista de músicas tocadas, mas também houve espaço para as dançantes, como "Kick In The Eye". Desta vez, a presença costumaz da versão de "Ziggy Stardust", do David Bowie, foi substituída pela "Transmission", do Joy Division. E me atrevo a dizer que conforme Peter Murphy rodopiava no palco, a interpretação chegava a ser maior do que quando tocada pelo próprio New Order em um show em 2005.

Foi a potência avassaladora do som que garantiu que este seria o show mais impactante do festival. A chuva que caía forte durante quase toda a noite não foi o suficiente para afastar a legião de fãs, que se deliciava ao som de "Bela Lugosi is Dead", enquanto, vestido com uma capa, Peter Murphy se aproximava do baixista David J simulando um ataque do clássico Drácula, e Daniel Ash, ajoelhado no chão e de costas para o público, esmurrava as cordas de sua guitarra, indicando o final do show.

Conforme caminhava sobre o chão enlamaçado e a chuva atingia a minha capa de chuva azul, eu tentava encontrar formas de descrever a sensação de ter presenciado tamanho espetáculo. Caminhando, ainda atordoado, sendo levado pela massa de pessoas que também subia a colina, cruzei com um amigo. Atónito, ele resumiu todos os sentimento gerados pelo show com a sua primeira palavra: "Brutalidade".

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