John Mayer em São Paulo

O público presente na Arena Anhembi na noite desta quinta-feira (19) anunciava uma apresentação de um galã - jovens mulheres eram maioria entre as 30 mil pessoas presentes. No entanto, durante as duas horas de show, John Mayer comprovou ser mais que um rosto bonito.

Com letras melosas e um namoro constante com a guitarra, o músico mostrou um setlist pop, mas flertou com o blues, folk e rock em vários momentos. Ao entrar no palco, o encontro com os paulistas se iniciou com o grupo de percussão Os Meninos do Morumbi, que auxiliaram Mayer e banda em “No Such Thing” - além de agradar pela simpatia inicial, o novo arranjo da canção foi outro acerto.

Esse era o começo do que mostraria o ponto alto do show: o entrosamento entre o artista e a banda. Melhor guitarrista do que cantor, Mayer brilhava de fato quando se perdia nos lamúrios do instrumento em mãos. Mesmo que o delírio da plateia viesse quando estava ao microfone, era visível a predileção dele pelos momentos a sós com a banda. “Parem por um minuto e vamos curtir a música”, disse.

Contido ao se relacionar com a plateia, Mayer foi surpreendido quando anunciou “Dear Marie” e foi acompanhado pela multidão. Emocionado, disse que “esse é um dos momentos que nunca esquecerei. Às vezes penso se as pessoas ainda ligam para meu trabalho (...) e nestas ocasiões vejo que vale a pena”, falou. “Decidi que nunca mais passarei um ano sem vir ao Brasil”, completou após outra canção, ainda surpreso com a reação dos brasileiros.

Os problemas vocais que fizeram o cantor deixar os palcos não parece mais incomodar, apesar de ser notória a diferença do desempenho ao longo da apresentação. Quando força o falsete, Mayer perdeu a voz e desafinou; em outras ocasiões preferiu cortar a nota a prolongar um agudo. Nada foi prejudicial ao show, no entanto - quando cantou sozinho, em “Your Body is a Wonderland”, “Free Fallin’” e “Daughters”, por exemplo, não houve erro ou incômodo. Nos limites da sua voz, ele soube se sair bem.

Guitarrista exemplar, John Mayer mostra, assim como em seus últimos dois discos, um gosto musical louvável. Há uma mistura entre blues, country e rock em seus arranjos, apesar da veia pop que dá a algumas letras e singles. No palco, todavia, essa influência fica mais notória, sem desagradar aos que vão para ouvir os hits - um show com qualidade musical de primeira, além de um serviço legítimo aos fãs.

Fotos: Manuela Scarpa/Foto Rio News