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Judas Priest e Whitesnake em Belo Horizonte 2011

Banda de David Coverdale faz show excelente, mas Judas Priest foi a estrela da noite

15.09.2011, às 14H09.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 14H02

As palavras “histórica” e “memorável” são usadas com tanta frequência que perdem sua força mas, por mais que pareça exagero, não há dúvidas de que são as mais adequadas para descrever a noite de terça-feira, 13 de setembro de 2011 em Belo Horizonte. Nessa data, dois dos maiores monstros do hard rock e do heavy metal mundial passaram pela cidade e mostraram que para fazer uma boa música e um bom espetáculo, basta uma qualidade: competência. E isso, tanto o Whitesnake de David Coverdale quanto o Judas Priest de Rob Halford tem de sobra.

O show estava marcado para começar as 21h00, no Chevrolet Hall. Precisamente às 20h57 o Whitesnake entrou no palco, iniciando o show com “Best Years”, de seu penúltimo álbum, Good to Be Bad. Liderado por Coverdale, o atual Whitesnake é composto por Doug Aldrich e Reb Beach – dois guitarristas sensacionais, entro de suas características -, Michael Devin (baixo), Brian Tichy (bateria) e o tecladista Brian Ruedy, o mais discreto de todo o sexteto, talvez pelo fato de ainda não ter sido efetivado na banda.

O Whitesnake está em turnê com seu trabalho mais recente, o ótimo Forevermore. Mas antes de dar atenção ao novo álbum, lançado em março, a banda precisava ganhar o público. Fizeram isso logo na segunda música da noite. Em “Give Me All Your Love” Coverdale comandou a muldidão que lotava a casa de shows, colocando todos para cantar a plenos pulmões o refrão da música. Na hora em que vi a reação do público aos comandos do vocalista, pensei “pronto, agora ele pode fazer o que quiser”. E fez, demonstrando que exatamente como manter o público em suas mãos. Assim, emendou logo três dos maiores clássicos do Whitesnake, sem quase nos dar tempo de respirar: “Love Ain't No Stranger”, “Is This Love” e “Steal Your Heart Away” prepararam o terreno para que, finalmente, Forevermore desse as caras, com a faixa-título.

Coverdale então deixa o palco, que passa a ser comandado pela dupla de guitarristas. Primeiro há um longo e competente solo de Aldrich, em que ele mostra toda a sua virtuose. Em seguida, é a vez de Reb Beach tomar o palco e fazer caras e bocas, mostrando seu jeito ao mesmo tempo preciso e aparentemente displicente de manejar as seis cordas. Para finalizar, os dois guitarristas finalmente se enfrentam no palco antes de “Love Will Set You Free”, rendendo mais um solo para que Coverdale descanse no camarim. Agora, no entanto, foi a vez do baterista Brian Tichy, que fez diversos malabarismos com as baquetas, inclusive dispensando-as para solar usando apenas as costas de suas mãos.

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Rob Halford - Judas Priest

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David Coverdale - Whitesnake

O vocalista retorna em “Here I Go Again” e “Still of the Night” é outra a fazer o público delirar, marcando o fim da primeira parte do show. Em seguida é vez de Coverdale ter seu “momento solo”, levando sozinho uma versão a capella de “Soldier of Fortune”, de sua ex-banda, Deep Purple. A banda foi lembrada mais uma vez com um medley de “Burn” e “Stormbringer”, encerrando assim a curta (durou pouco mais de uma hora) porém empolgante apresentação do Whitesnake.

Assim como no show de Ozzy Osbourne, foi extremamente gratificante poder assistir ao Whitesnake. São quarenta anos de estrada de Coverdale e ele ainda tem – guardadas as limitações inerentes à idade – toda a empolgação de um artista iniciante. Carismático como poucos, ele consegue transmitir a alegria que sente por estar no palco e fazer que todos lamentem um setlist tão curto.

Apesar da excelente apresentação do Whitesnake, o fato é que a grande atração da noite era o Judas Priest, em sua chamada “turnê de despedida”, apropriadamente intitulada Epitaph Tour. E o quinteto formado por Rob Halford, Glenn Tipton, o novato Richie Faulkner (guitarras), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria) mostrou a que veio. Faulkner, conhecido do público brasileiro por ter sido o guitarrista que excursionou com a banda de Lauryn Harris, abrindo os shows do Iron Maiden na turnê de 2009, substituiu o guitarrista K. K. Downing. E o fez com bastante maestria.

Ao contrário da maioria das bandas de metal da atualidade, que usam introduções pré-gravadas antes de entrar no palco, o Judas dispensa tais recursos. Uma grande bandeira, estampada com o nome da turnê, escondia o que acontecia no palco, até que a banda entrou e começou sua apresentação com “Rapid Fire”. Daí em diante, foram mais de duas horas em que o Judas Priest fez um apanhado de praticamente toda a sua carreira, visitando seus maiores clássicos e ainda preparando algumas supresas para os mais desavisados.

A postura da banda no palco é interessante. Halford, apesar de ter uma das melhores vozes do metal em todos os tempos, não tem muita presença de palco. Anda pra lá, pra cá, conversa com o público, mas não agita muito – talvez sentindo o peso da idade. O mesmo vale para quase todo o resto da banda. Glenn Tipton se movimenta bem, mas não interage muito; Ian Hill escolhe um canto do palco onde se posicionar e quase não sai de lá; Scott Travis, por sua vez, não tem muitas possibilidades para ganhar a plateia atrás de seu kit; já Faulkner... Talvez por ser o mais jovem integrante da banda, é o mais empolgado. Corre para todos os lados, faz caras e bocas, comanda as palmas e os gritos do público... Ah, e toca guitarra como um monstro.

Os destaques da noite foram “Metal Gods”, “Judas Rising”, em que Halford alcançou agudos absurdos, “Prophecy”, na qual o vocalista incorpora a figura do profeta Nostradamus, e “Beyond the Realms of Death”. Um dos momentos mais especiais da apresentação acontece já no fim da noite, quando Halford anuncia que a banda executaria a sensacional “Breaking the Law”, talvez a mais conhecida música de toda a discografia do Judas Priest. No entanto, Halford apenas anuncia a música e, sem microfone, comanda o público a fazer o seu trabalho e cantá-la, estrofe por estrofe. Pela expressão em seu rosto, o público de Belo Horizonte cumpriu seu papel com louvor. Outro clássico do Priest, “Painkiller”, do álbum homônimo, fecha a primeira parte do show.

O palco não fica muito tempo vazio. Em poucos minutos a banda retorna para o bis, que começa com “The Hellion”, seguida por “Electric Eye”. E aí, depois de vários efeitos de iluminação e pirotecnia, Rob Halford entra no palco em sua famosa motocicleta, todo trajado em couro, e dali comanda a banda em “Hell Bent for Leather”. “You Got Another Thing Coming” traz outros momentos interessantes, com Halford cantando enrolado em uma bandeira do Brasil e Faulkner inserindo passagens do Hino Nacional em seu solo. A banda então deixa o palco, com exceção de Scott Travis. O baterista incita o público – numa jogada ensaiada, é verdade – a chamar a banda de volta para uma última música. O pedido é atendido com “Living After Midnight”.

O Judas Priest então finalmente se despede, deixando todos com um sentimento agridoce: felizes por terem feito parte daquela festa e tristes por saber que essa, provavelmente, foi a última página escrita na carreira de uma das melhores bandas de heavy metal não só de sua geração, mas de todos os tempos.

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