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Morrissey | Show em São Paulo 2012

Com muito carisma e presença de palco, ex-líder dos Smiths mostra por que marcou a música pop nos anos 1980

12.03.2012, às 19H38.
Atualizada em 09.11.2016, ÀS 14H05

Ultimamente, Morrissey andou reclamando da dificuldade de encontrar uma gravadora para seu próximo álbum de estúdio. Se no plano dos negócios a demanda por suas músicas não está muito alta, o mesmo não pode ser dito para os palcos. Na noite deste domingo, 11 de março, o ex-Smiths apresentou-se em São Paulo para uma casa lotada.

Morrissey

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Fotos: Stephan Solon

Os ingressos estavam esgotados há dias e muitos chegaram cedo, apesar da chuva e do trânsito nas ruas próximas ao Espaço das Américas, em tempo de conferir o número de abertura. Kristeen Young, cantora e tecladista de St. Louis, Missouri, conseguiu mais intrigar do que animar a plateia. Com seus vocais poderosos e estilo de performance agitado e agressivo (inevitavelmente remetendo a Björk, mas com baixo orçamento), Young demonstrou muita coragem ao apresentar-se sozinha, auxiliada apenas por um teclado, backing tracks, projeções e um interessante figurino. Ainda assim, não contagiou ninguém para dançar seu electro-rock, recebendo muitos aplausos educados dos que aguardavam ansiosamente por Morrissey.

O show principal começou em clima romântico-trágico com "First Of The Gang To Die", segundo single do álbum You Are the Quarry (2004), que já fez a plateia cantar. Morrissey estava vestindo uma camisa amarela com muitos botões abertos e uma chamativa corrente de crucifixo, como que afirmando a mítica (e a gritaria) em torno de sua persona, quase como o sex symbol de uma geração que está envelhecendo com dignidade e ainda com algum charme para oferecer.

É interessante observar o que anos de estrada podem acrescentar a um artista, e o fortalecimento da presença de palco é um dos resultados mais gratificantes de assistir. Do topo de seus 52 anos, o carismático Morrissey domina a plateia com facilidade, com uma boa dose de egocentrismo e ironia: "Agora que vocês me encontraram, como poderão me deixar?", perguntou. O timbre inconfundível de sua voz ainda comprova a autenticidade dos 13 álbuns de sua carreira (apesar da péssima acústica e das caixas de som estouradas do Espaço das Américas), nestes tempos de vocalistas jovens que manipulam suas gravações com muito auto-tune.

A atmosfera de admiração se manteve em "You Have Killed Me", "Black Cloud" e “When Last I Spoke to Carol", em que Morrissey fazia poses e passos de dança para combinar com o violão espanhol da canção de Years of Refusal (2009), seu último álbum de estúdio. "Still Ill", que veio logo após "Alma Matters", foi a primeira do The Smiths a marcar presença no setlist. Em seguida veio o hit "Everyday Is Like Sunday", da estreia solo de Morrissey - e nunca antes tantas pessoas ficaram felizes coletivamente com uma música triste.

Aos poucos a agitação foi dando espaço a um clima intimista, com "Speedway", “You’re the One for Me, Fatty" e "I Will See You in Far Off Places". Mas nem só de momentos bonitos faz-se um show do Morrissey e o discurso político logo veio ocupar um lugar mais presente que as camisetas "Assad Is Shit", em protesto ao líder sírio Bashar al-Assad, usadas pelos integrantes da banda. O cantor criticou a presença do príncipe Harry no Brasil, acusando-o de promover a agenda de interesses monetários da família real britânica, e falou contra as ditaduras, como introdução para o hino do vegetarianismo, "Meat is Murder". Como em todas as canções, a performance foi linda e as imagens de abatedouros projetadas no telão deixaram todos em silêncio.

Os grandes momentos do show vieram da metade para o fim, com clássicas como "I Know It’s Over", do terceiro disco do Smiths, The Queen is Dead, e "Let Me Kiss You", em que Morrissey tirou a camisa com dramaticidade e a jogou para os fãs. Depois de uma rápida pausa para vestir uma nova camisa, tivemos os momentos mais intensos do show, já que, segundo Morrissey, "agora já nos conhecemos melhor, acho que podemos fazer isso". Neste momento começaram os primeiros acordes de "There Is a Light That Never Goes Out", que fez toda a plateia cantar junto, comovida, como que aguardando o momento celestial em que morreriam ao lado da pessoa amada, como diz a letra do clássico.

"Please, Please, Please Let Me Get What I Want" foi, sem dúvida, outro momento de conexão total que deixou Morrissey visivelmente emocionado. Para fechar o show foi escolhido outro grande hit, "How Soon Is Now", entregando tudo que seus fãs devotos mais esperavam. O cantor voltou para o bis com “One Day Goodbye Will Be Farewell”, enrolado em uma bandeira do Brasil, agradecendo aos fãs profusamente. Se alguém não tinha entendido o porquê de Morrissey se manter relevante até hoje, o show em São Paulo com certeza esclareceu esta questão.

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