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Piolhices & afins

Demons & Wizards, DragonForce, Yngwie Malmsteen, Alice Cooper, Grave Digger e Allen - Lande

14.03.2006, às 00H00.
Atualizada em 11.12.2016, ÀS 06H05
Touched by the Crimson King
Demons & Wizards (Hellion)
Inhuman rampage
DragonForce (Century Media)
Unleash the fury
Yngwie Malmsteen (ST2 Music)
Dirty diamonds
Alice Cooper (ST2 Music)
25 to live
Grave Digger (Laser Company)
The battle
Allen - Lande (Hellion)

Depois de um razoável tempo em férias, a Piolhices & Afins volta com algumas dicas de bons álbuns de hard rock e heavy metal lançados recentemente. Dessa vez, as dicas serão divididas em duas partes, sendo que a segunda, a sair mês que vem - espero - terá seu foco direcionado para bandas nacionais. Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

Demons & Wizards - Touched by the crimson king

Em 2000, o vocalista do Blind Guardian, Hansi Kürsch , e o guitarrista do Iced Earth, John Schaffer reuniram-se em um projeto intitulado Demons & Wizards. A união entre dois dos maiores talentos do heavy metal da época gerou grandes expectativas e o álbum auto-intitulado rendeu bons frutos, tanto de crítica quanto de público. Elogiado ao máximo, o disco foi considerado por muitos o lançamento do ano e gerou a promessa de que, assim que possível, Kürsch e Schaffer se reuniriam novamente e que o Demons & Wizards teria uma vida longa.

Cinco anos depois, a dupla anunciou que o segundo álbum do Demons & Wizards finalmente seria lançado. Touched by the crimson king é o resultado dessa longa espera e, apesar de ser um bom álbum, não superou seu antecessor. Não que isso queira dizer que o Demons & Wizards sucumbiu ao trauma do segundo álbum. O principal problema de Touched by the crimson king é justamente o fato dele ter demorado meia década para ser lançado, o que aumentou substancialmente as expectativas de todos ao redor dele.

De qualquer maneira, Touched by the crimson king é um tremendo álbum de heavy metal. Desde a faixa de abertura, "Crimson king", até "Immigrant song", um cover do Led Zepellin escolhido para fechar o CD, o que se vê é um heavy metal bem feito, com guitarras bem encaixadas - mesmo que alguns riffs pareçam datados e tragam uma sensação de déja vu - e um show à parte de Hansi Kürsch, que a cada novo trabalho prova porque é considerado por muitos como um dos melhores vocalistas de heavy metal da atualidade. Destaques individuais seriam, além da supramencionada "Crimson king", as boas "Loves tragedy asunder", "Seize the day", "Beneath these waves" e a balada "down where I am".

Uma curiosidade a respeito de Touched by the crimson king é que tanto o nome do álbum quanto algumas faixas, tais quais "Crimsom king", "Terror train" e "The gunslinger" foram inspiradas na série de livros A torre negra, escrita por Stephen King, cujo quarto número foi recentemente publicado no Brasil. O álbum, no entanto, não se trata de um trabalho conceitual.

A versão nacional de Touched by the crimson king teve um lançamento cuidadoso por parte da Hellion Records, que o colocou no mercado com uma embalagem "slip-case", que ajuda a conservar melhor o disco, e traz um encarte com todas as letras e ainda quatro faixas de bônus, a saber: "Lunar lament", "Wicked witch (slow version)", "Spatial architects" e "Beneath these waves (edit)".

DragonForce - Inhuman rampage

O DragonForce surgiu em 2003 com uma proposta um tanto quanto inusitada: ser a banda de heavy metal mais rápida do mundo. Seu primeiro álbum, Valley of the damned, mostrou uma banda entrosada, mas que carecia do desenvolvimento de uma identidade mais própria, já que soava muito parecida com a infinidade de grupos de power metal existentes por aí. Seu segundo álbum, o excelente Sonic firestorm, trouxe esse elemento que faltava e voltou os holofotes do mundo do heavy metal para essa banda originária da Inglaterra, terra que, apesar de ser o país de origem de grupos como Black Sabbath e Iron Maiden, nunca obteve muito destaque no dito heavy metal melódico.

Depois de uma turnê bem sucedida no qual abriu alguns shows para o Iron Maiden, o quinteto formado por Z.P. Theart (vocais), Herman Li e Sam Totman (guitarras), Vadim Pruzhanov (teclados) e David Mackintosh (bateria) nos apresenta seu terceiro álbum, Inhuman rampage (cujo significado é algo como "fúria inumana", bastante apropriado). Se em sua estréia a banda apresentava níveis de velocidade absurdos, neste segundo disco o DragonForce alcança níveis quase inumanos. Sem brincadeira, o que a dupla Li/Totman faz com suas guitarras é algo impressionante, pra dizer o mínimo. Isso sem mencionar Mackintosh, que faz muito baterista consagrado comer poeira, tamanha a velocidade e precisão com a qual maneja suas baquetas.

A principal mudança em relação à Sonic firestorm é a produção, mais limpa e bem cuidada. As músicas, no geral, seguem a mesma fórmula do álbum anterior, com destaque total para os riffs e solos de guitarra, a bateria insanamente rápida e os teclados bem encaixados, tudo isso em músicas consideradas longas. A menor delas, a boa "Storming the burning fields" tem pouco mais de cinco minutos, enquanto que a maior "Cry for eternity", passa dos oito. Há ainda a indefectível balada, a bela "Trail of broken hearts", que pisa bastante no freio e fecha o álbum com chave de ouro.

Inhuman rampage traz um DragonForce ainda mais rápido e pesado, mas, ao mesmo tempo, um tanto mais melodioso e abusando da mesma fórmula usada em seus álbuns anteriores. Não que isso seja ruim. Afinal, quantas bandas repetem a mesma fórmula por décadas e, ainda assim, mantêm a qualidade de seus lançamentos? Exemplos assim não faltam e o DragonForce, se continuar assim, tem tudo para se tornar um dos grandes nomes do heavy metal mundial.

Yngwie Malmsteens Rising Force - Unleash the fury

Depois de bastante tempo lançando álbuns solos e totalmente instrumentais ou participando de projetos como o G3, ao lado de Joe Satriani e Steve Vai, o guitarrista sueco Yngwie Malsmteen, uma das figuras mais amadas (pela sua técnica incomparável) e odiadas (pelo temperamento explosivo) do rock and roll ressuscitou sua banda, a Rising Force. Ao lado do vocalista Doggie White, do tecladista Joakim Svalberg e do baterista Patrik Johansson ele nos apresenta seu mais novo álbum, Unleash the fury, que mostra o quanto um vocalista talentoso pode acrescentar a composições já muito bem feitas.

Unleash the fury traz o mesmo Malmsteen de sempre, um guitarrista pra lá de virtuoso, que usa e abusa de toda a técnica adquirida em mais de duas décadas de carreira para criar os mais elaborados solos que puder imaginar. Ouvir a guitarra de Malmsteen é um deleite para qualquer um que aprecie toda a virtuose que esse instrumento pode oferecer. Para compensar, ele também alterna momentos em que faz um som mais convencional, por falta de melhor denominação, e é aí que os vocais de White se destacam, tornando o álbum mais atrativo. Afinal, não é qualquer um que se empolgue por escutar um álbum totalmente instrumental em que a virtuosidade reina.

Faixas como "Crown of thorns", "the boogeyman" e "cracking the whip" são os destaques individuais do álbum, que traz 18 músicas no total.

Alice Cooper - Dirty diamonds

Alice Cooper é uma lenda viva do rock e, por isso, dispensa maiores apresentações. Dirty diamonds é seu mais novo trabalho de estúdio e retoma o velho e bom Cooper, que, depois de enveredar por experiências mais pesadas com os álbuns Brutal Planet (2000) e Dragontown (2001) ensaiou um tímido retorno às origens em The eyes of Alice Cooper, cuja completitude se deu agora.

Dirty diamonds começa com "Woman of mass distraction" (algo como "mulher de distração em massa", um trocadilho óbvio com a expressão "weapon of mass destruction" ou "arma de destruição em massa"), um rock and roll direto e escrachado, típico de Alice Cooper e que dá o tom do álbum. Daí até "Zombie dance", cuja letra, uma história de terror pra lá de trash, lembra o período em que ele era conhecido como o maior nome do "rock and roll terror", o álbum traz de tudo o que de melhor Alice tem a oferecer. Letras debochadas ("Perfect"), refrões grudentos ("Sunset babies"), baladas ("Pretty ballerina"), rocks mais diretos ("Steal that car") e mesmo flertes com blues ("Six hours") e country ("The saga of Jesse James").

Desnecessário dizer que o grande destaque do disco são justamente as letras das músicas, irônicas ou nonsense, que tornam difícil dizer quando Alice está brincando ou querendo falar sério. Há de se ressaltar também a boa performance da banda, que além de Alice (vocais e gaita), conta com Ryan Roxie e Damon Johnson (guitarras), Chuck Garric (baixo) e Tommy Cufetos (bateria). No encarte do álbum, no entanto, quem aparece é Eric Singer, baterista que vinha prestando serviços a Alice até recentemente.

Dirty diamonds traz um total de 13 músicas, incluindo a faixa bônus "Stand". Todas elas têm tudo para agradar não só aos fãs da Tia Alice, como aqueles apreciadores do bom rock and roll em geral.

Grave Digger - 25 to live

Desconhecida do grande público, o Grave Digger é uma das mais longevas bandas do heavy metal atual. Surgida na Alemanha do começo dos anos 80, lá se vão 25 anos desde que o vocalista Chris Boltendahl formou a banda. De lá para cá, pode-se dizer que o Grave Digger manteve uma história de sucesso dentro do cenário muitas vezes limitado do heavy metal, agregando respeito da crítica e fidelidade de seus fãs.

Para comemorar seus estas "bodas de prata", o Grave Digger resolveu presentear seus fãs com um álbum ao vivo, intitulado simplesmente 25 to live, gravado no ano passado durante a passagem da banda por São Paulo. E a escolha mostrou-se totalmente adequada. Afinal, onde mais uma banda como o Grave Digger conseguiria encontrar um público tão fiel e empolgado quanto o brasileiro?

25 to live é uma verdadeira retrospectiva pelas mais de duas décadas de história da banda. É um total de 27 músicas que revisita todos os álbuns dos alemães, desde a estréia, em Heavy metal breakdown, de 1984, até The last supper, de 2005. Um disco bastante homogêneo, em que fica difícil eleger um único destaque individual. Pelo menos no quesito musical, já que só o carisma de Chris Boltendahl e a energia do público, que não se cansa de entoar o hino tipicamente brasileiro "olê, olê, olê, olê... Digger, Digger já tornam 25 to live um item indispensável pra qualquer headbanger de respeito. Pra quem não conhece ou nunca ouviu falar do grupo, este é um bom CD para começar.

Allen/Lande - The battle

Allen/Lande - The battle é um daqueles álbuns de hard rock que, devido à pouca exposição de seus idealizadores fora da mídia especializada, provavelmente vai ficar desconhecido do grande público. O que é uma grande injustiça, já que esse The battle é, com certeza, um dos melhores álbuns do estilo lançados em 2005.

The battle reúne dois grandes vocalistas, Russel Allen (Symphony X) e Jorn Lande (Masterplan) em um projeto comandado pelo competente Magnus Karlsson (Starbreaker). Karlsson, inclusive, é o grande idealizador do álbum, já que, além de compor todas as músicas e escrever todas as letras, também tocou guitarra, baixo e teclado no mesmo, alcançando resultados bem interessantes, principalmente nas seis cordas. A bateria ficou a cargo de Jamie Salazar e os vocais divididos fraternalmente entre Allen e Lande. Cada um deles cantou três músicas individualmente e seis em conjunto, totalizando as doze que formam o álbum.

Com uma ênfase óbvia nos vocais, The battle traz um trabalho bastante emocional e competente tanto de Allen quanto de Lande, tornando cada faixa algo digno de apreciação. Quando os dois estão juntos então, aí é que se nota com mais propriedade o porquê de ambos estarem entre os melhores vocalistas do heavy metal atual. Isso comprovado em um álbum que difere bastante do que ambos estão acostumados a fazer em suas bandas de origem.

Apesar do destaque total para a dupla de vocalistas, é preciso dizer que o mérito maior na qualidade do CD é justamente de Magnus Karlsson, que conseguiu reunir um número significativo de bons riffs, solos de guitarra e refrões grudentos e empolgantes no mesmo álbum. Tente escutar músicas como "Wish for a miracle", "My own way home" e "Where have all the angels gone" sem que o refrão grude em sua cabeça. Tarefa quase impossível.

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