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The Strokes - Angles | Crítica

Democracia criativa não foi tão bem sucedida, mas revela facetas interessantes do Strokes

22.03.2011, às 22H41.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 16H03

Há algum tempo a década de 1980 se estabeleceu como tendência e fonte de inspiração na indústria cultural. Não é preciso muito esforço para encontrar referências oitentistas em criações atuais, nos mais diversos segmentos do entretenimento. The Strokes não foge à regra. Seu novo álbum, Angles, tem canções que parecem saídas de um disco do Pretenders, ou do Clash e - às vezes - soam também como o Strokes das guitarras cruas.

Conhecer a trajetória do Strokes nos últimos anos é quase crucial, pois reflete na sonoridade deste quarto disco. Entre 2007 e 2009, depois do conturbado processo de gravação e turnê de First Impressions of Earth (2006), a banda passou por um hiato. Mas cansaço não foi o motivo da pausa, já que todos os integrantes, com exceção do guitarrista Nick Valensi, lançaram álbuns solo ou projetos paralelos. Em entrevista à matriz da Rolling Stone, Valensi conta que, na época, o Strokes quase acabou de vez por conta de intrigas e desentendimentos que ele chama de "clichês das bandas de rock".

Passadas essas férias forçadas, a banda se reuniu para outro processo de gravação, potencialmente ainda mais conturbado que o anterior, mas que tinha o premiado Joe Chicarelli na produção. O método de trabalho do produtor, no entanto, não agradou a banda, que decidiu descartar boa parte do que havia sido feito e começar do zero no estúdio do guitarrista Albert Hammond Jr. Neste momento, o Strokes se apossou do disco e, seus integrantes, do processo criativo.

O título Angles foi escolhido por este ser o primeiro trabalho que tem contribuição efetiva de cada um dos integrantes da banda. Nos discos anteriores, quem estava por trás das composições era o vocalista Julian Casablancas, que apesar de agora compartilhar a criação com seus companheiros, ainda se mantém como principal compositor. Este fator democrático, no entanto, se mostra muito mais contra do que a favor do disco. Já havia sido mencionado que o maior problema na concepção de Angles foi juntar todos os integrantes em um lugar só. E com as gravações acontecendo de maneira fragmentada, essa falta de “convivência musical” soa muito nítida.

Cada canção tem características bastante diferente das outras, em termos de timbragem dos instrumentos, dinâmica, entre outros fatores técnicos que fazem com que o álbum não soe como uma unidade, mas como justaposição de várias composições isoladas que alguém reuniu para, rapidamente, torná-lo vendável como obra completa. "You're So Right" e "Games" soam absolutamente alheias ao resto do álbum, e estão mais para tentativas mal sucedidas de trilhas para jogos de Atari. Outras, no entanto, são muito boas - o primeiro single, "Under Cover of Darkness", é de longe uma das melhores músicas já feitas pela banda.

Se o disco tem algum mérito é que ele aponta para uma sonoridade diferente da explorada pela banda em trabalhos anteriores. No entanto, essa pesquisa musical poderia ter sido bem mais aprofundada. A ideia de explorar a sonoridade dos anos 80, por exemplo, é melhor resolvida no trabalho solo de Casablancas, Phrazes for the Young - é esse álbum, aliás, que aponta para como seria o quarto disco do Strokes, se a banda tivesse seguido com o antigo modelo. Acontece que, neste caso, a democracia criativa deixou disco com cara de perdido. Talvez a "ditadura Casablancas" desse um direcionamento mais claro ao trabalho.

Ainda assim, Angles parece ter valido o risco para o Strokes. Mesmo que não tenham sido tão bem sucedidos nas idéias e composições quanto foram em First Impressions of Earth, o quarto álbum da banda que já foi tantas vezes aclamada como "a salvação do rock do século 21" revela outras faces dos Strokes que ainda podem se mostrar muito interessantes. Desejamos sorte nas próximas tentativas.

Ouça Angles, novo álbum do Strokes

Nota do Crítico
Bom

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