Se há uma coisa que o quarteto inglês The Vaccines fez de certo na carreira, foi cancelar sua participação no Planeta Terra de 2011. Tivessem tocado no festival paulistano, seriam reduzidos a coadjuvantes na história de re-consagração dos Strokes por aqui, e ainda teriam que aguentar os comentários maldosos que comparam seu som à da banda americana.
The Vaccines
The Vaccines
The Vaccines
Não é a primeira vez que os Vaccines fogem dos Strokes. Também em 2011, a data de lançamento do seu primeiro (e único, além de bom) álbum - What Do You Expect From The Vaccines? - foi alterada para não coincidir com a chegada de Angles, o quarto álbum daqueles.
Ironias de carreira para uma banda novata (com meros dois anos) que carrega um belo hype, mas também um pouco de ranço na comparação indie entre as bandas (amigas, diga-se de passagem). Não é à toa: bastou ver o vocalista Justin Young adotando a mesma pose de Julian Casablancas, inclinado com pé sobre as caixas de som, para cantar "A Lack of Understanding", a música mais strokeana do seu repertório, para notar que a influência é inegável.
Não que isso seja, em si, uma coisa ruim. Com os Strokes vestindo uma máscara de "cansei minha beleza", há de se ter uma banda para colocar no lugar. E os Vaccines, em show lotado no Cine Joia, em São Paulo, roubam esse posto com louvor e - muito - vigor.
A atitude aqui é quase de boy band, das bandas de rock simpáticas dessa segunda década dos 2000 - bem diferentes dos invariáveis blasés dos 15 anos anteriores. Mesmo falando pouco, os quatro não pouparam sorrisos para a plateia que rodou intensamente suas poucas músicas no iPod.
E foram recebidos até com direito a gritos histéricos de menininhas - provando que os indies indulgentes que dançavam só com a franja, minha nossa!, não estão com nada mesmo.
Como boa banda iniciante, o show foi curto. Pouco mais de 50 minutos para rodar o disco na íntegra, mais duas faixas soltas e outras novas - "Teenage Icon", "Bad Mood" e "No Hope" - sem deixar a bola cair.
Além da energia dos quatro, o palco fechado colabora (bem melhor do que seria em um festival a céu aberto) e as músicas ajudam. Começaram com "Blow It Up" e já emendaram com "Wreckin' Bar (Ra Ra Ra)", hit a la Ramones, de menos de dois minutos. Já aí o público (que ia dos vinte-e-poucos na boca de cena a alguns surpreendentes cinquentões nos fundos) acompanhava com coros e palminhas. Precisa de mais?
Ao vivo, a banda ganha energia extra para acompanhar as letras esperançosas - como "If You Wanna", com seu "tudo bem se você quiser voltar para mim" - ou sensualizando os frígidos Strokes (eles de novo), na ótima "Post Break Up Sex" ("sexo pós-término, que te ajuda a esquecer seu ex", diz o refrão, quase um funk carioca em inglês). Mesmos as mais calmas - tipo "Wetsuit", meio Buddy Holly - mantém o clima, até a última "Noorgard", outra de minuto e meio.
E aí, quando vê, já acabou. Uma rapidinha em plena quarta-feira mundana de outono. Afinal, você esperava algo a mais?