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Círculo de Fogo | Entrevistamos o diretor Guillermo del Toro

"Monstros e robôs gigantes são parte de mim"

06.08.2013, às 13H45.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

Pacific Rim versao com qualidade 12Dez2012
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Hunnan em Círculo de Fogo

"Monstros e robôs gigantes são parte de mim. Estão no meu DNA", diz o diretor Guillermo Del Toro em uma manhã no set de Círculo de Fogo (Pacific Rim), no Canadá. "Esse gênero de animação ou de filmes japoneses é algo que tem fãs no mundo todo e também um estilo muito tradicional na cultura oriental. 'Kaijus' e 'mechas'. Como ninguém fez um filme disso antes no ocidente? Tenho muita sorte", comemora o mexicano.

O cineasta garante que antes de começar Círculo de Fogo não procurou rever animação ou filme japonês algum. "Nada. Eu já vi tudo - eles são parte de mim. Cresci com eles. Então queria que Círculo de Fogo fosse algo que se aproveitasse de toda essa bagagem, sem parecer uma cópia. É muito perigoso criativamente rever esses filmes. Quis que toda a influência viesse do meu DNA. Se não estava lá, não está no filme. Queria que a criança que surtava com Godzilla contra Gamera, War of the Gargantuas ou outros momentos mágicos da história dos monstros gigantes, aflorasse neste filme".

Pacific Rim Jaeger Gipsy Danger 12Dez2012

Del Toro comenta que ama tanto esses longas-metragens que chegou a assistir ao clássico de 1966 War of the Gargantuas coberto de urina quando era um menino no México. "Alguém jogou um saco cheio de urina em mim do balcão superior do cinema. Mas preferi feder a perder o filme, pois era era isso ou ter que pegar o ônibus de volta pra casa", lembra.

"Eu cresci vendo tokusatsu e programas japoneses. Não faço a menor ideia do motivo de termos tantas séries japonesas e animes no México... talvez fossem baratas pra comprar, não sei. O fato é que se tornaram extremamente populares. Os japoneses sempre ficam impressionados quando converso com eles sobre a produção televisiva do Japão nos anos 60 e 70. Tudo chegava ao México! Robô Gigante, Spectreman, Ultraman, todos os filmes de Osamu Tezuka, os clássicos todos! Mesmo coisas obscuras, que os japoneses mal conhecem, tipo Cometo-San!", comemora, recostado na cadeira com um sorriso no rosto.

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O diretor diz que conhece os kaiju (monstros gigantes) de coração e quis honrar seus momentos clássicos. No entanto, quis extrapolar o que já existe, criando vários outros embates que sempre sonhou em ver. "Além disso, o que diferencia nosso filme dos demais é a ideia de ter dois pilotos simultaneamente operando os mechas - ambos conectados mentalmente. Quanto mais eu pensava nisso, mais me apaixonava pelo conceito. Quando começamos a desenvolver o roteiro e o design de Círculo de Fogo eu estava a bordo apenas como produtor já que estava trabalhando ativamente em Nas Montanhas da Loucura - e comecei a ficar bastante invejoso de quem assumiria Círculo de Fogo", diz.

Circulo de Fogo 24Jun2013 06
Um "kaiju" ataca a Austrália

Segundo Del Toro, tudo começou quando ele estava dirigindo O Hobbit, antes de Peter Jackson assumir o projeto. "Eu tive uma reunião com o pessoal da Legendary para produzir Círculo de Fogo. Aí, quando saí de O Hobbit tentei por um tempo realizar Nas Montanha da Loucura, mas ele também não saiu. Aí decidi que Círculo de Fogo seria meu próximo projeto - e mal podia acreditar que ninguém tinha feito esse filme ainda. Foi em uma sexta-feira que a Universal Pictures tirou Nas Montanhas da Loucura da tomada... e na segunda eu já era o diretor de Círculo de Fogo. No fim de semana eu cheguei ao presidente da Legendary e perguntei a ele se o filme poderia ter sinal verde imediatamente... e Thomas Tull me disse: considere-o autorizado", relembra.

Realismo com monstros e robôs

De acordo com o diretor, a sua intenção em Círculo de Fogo foi criar algo que poderia ser verdade. "Um filme em que as coisas parecessem usadas, quase um drama de guerra da Segunda Guerra Mundial. Só que os nossos pilotos não voam em B-52s, mas em robôs colossais. Nossas máquinas de guerra são de alta tecnologia, mas estão em combate há 10, 15 anos". A comparação com a Segunda Guerra Mundial é uma obsessão do diretor. "Eu queria que Círculo de Fogo pensasse em todos os aspectos de um mundo em guerra. O que aconteceria com a comida, com a economia, com a estrutura social, se um monstro aparecesse? E se aparecessem a cada três meses? O mundo está acostumado a enfrentar catástrofes naturais a cada seis anos mais ou menos... o tempo entre uma e outra é para honrar os mortos, os heróis, etc. Mas e se tivéssemos catástrofes trimestrais? O preço das propriedades à beira-mar despencaria, as importações pelo Oceano Pacífico desapareceriam... queríamos dar a esse mundo qualidades reais".

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Robôs "usados"

Os robôs principais foram desenhados de dentro pra fora, seguindo uma mania do diretor desde pequeno. "Quando eu era moleque desenhava frequentemente robôs e montros... mas com os robôs eu fazia a parte externa e depois ia segmentando as internas - quarto, cozinha, células de combustível - e aqui fizemos algo parecido. Se é um robô nuclear, como é a ventilação? Onde fica o reator? Primeiro resolvemos as questões técnicas e depois colocamos a lataria por cima. O mais legal é que você consegue ver todos esses detalhes quando eles se movem se prestar atenção".

O design incluiu detalhes de interior, como os com-pods, que são as centrais de comando dos robôs. O mecha australiano é camuflado, o russo é verde-militar e o americano é azul, como os aviões da Segunda Guerra, por exemplo. As texturas e materiais também variam de robô para robô. "Os russos usam cobre e couro, tecidos pesados, como os cosmonautas. Os chineses são vermelhos e seus uniformes se parecem mais com armaduras de combate. Já os complexos de controle das unidades de defesa são repletos de aço e concreto, mas as luzes que os iluminam são extremamente vívidas. Queria o visual todo saturado!", explica o cineasta.

Pacific Rim 03Fev2013
Um "com-pod"

"Os com-pods foram resultado de um desejo meu de mostrar os pilotos em ação de verdade. Normalmente pilotos aparecem confortáveis, sentados em cadeiras legais, apertando botões. Nossos controles são mais parecidos com os filmes de tanque de guerra. Quando um tanque dispara, a tripulação toda sente. Para obter isso, criamos os mecanismos que os pilotos operam com os braços e pernas - tudo isso suspenso por dois braços mecânicos que mexem o com-pod no espaço, para que os atores sintam o resultado do seu esforço. E alguns são bastante violentos", comenta.

Ao mencionar os pilotos, porém, Del Toro comenta que é tudo tão divertido que precisa se lembrar constantemente que esse é um filme sobre personagens. "É muito fácil pra mim me perder no fascínio por robôs e monstros", diz. "Mas eu me forçava diariamente a pensar primeiro nos personagens e suas interações e só depois nos monstros e robôs".

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O robô russo, inspirado nos cosmonautas da União Soviética

Para garantir esse objetivo, cada ator recebeu uma biografia de 5 a 10 páginas sobre o seu personagem. "Eles as estudam e depois fazemos ensaios em uma mesa, primeiro individualmente, depois em grupo. Desses ensaios, tudo o que sair de improviso é integrado ao roteiro, se ficar bom. Então todos nós conhecemos muito bem os personagens. É uma linguagem comum a todos! Só começamos o filme quanto todos estão 100% confortáveis com o material e o entendem perfeitamente. É um filme sobre riscos enormes e perigo, com muito pouco melodrama. Muito pouco mesmo. Há alguns problemas entre pais e filhos, pai e filha, mas basicamente são direcionado à forma como alteram os rumos do real problema - as criaturas de 25 andares de altura que querem destruir a Terra. A pressão é terrível".

Sobre o elenco, o mexicano diz que teve liberdade total para escolhê-lo, apesar do custo do filme. "O estúdio não impôs grandes nomes para ajudar a vendê-lo. Consegui todos os atores que eu quis".

Em relação à escala, este é o maior filme que Del Toro já fez. "Mas não é nada exagerado. Foi até menor em termos de filmagem. São 103 dias de filmagens contra 135 de Hellboy e 132 de Hellboy 2. Trabalhei seis dias por semana e editei nos sétimos dias. Também editamos durante os almoços. Foram 100 dias de trabalho ininterrupto, mas não encarei nada aqui que já não tivesse experimentado em outros projetos. De certa maneira, a pré-produção de O Hobbit foi muito mais difícil".

O filme de Guillermo Del Toro estreia em 9 de agosto no Brasil. No OmeleTV, demos nossas primeiras impressões de Círculo de Fogo:

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