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Crítica

Uma Noite de Crime - Anarquia | Crítica

Filme feito de "impasses mexicanos" não consegue aproveitar o seu potencial

03.12.2014, às 18H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

Parte de uma inversão interessante, em relação ao primeiro Uma Noite de Crime, a continuação Uma Noite de Crime: Anarquia (The Purge: Anarchy, 2014). Enquanto no longa anterior assumíamos o ponto de vista da elite, agora estamos com o proletariado; o que era um terror sobre limpeza étnica agora pega carona na onda da desobediência civil pós-Occupy e Primavera Árabe.

Isso demonstra o potencial dessa franquia, enquanto metáfora dos nossos abismos sociais: a noite da purgação - em que durante 12 horas em uma madrugada anual qualquer cidadão dos EUA pode cometer crimes impunemente - transforma-se e ganha novos contornos. A ideia da purgação como eugenia continua lá, mas agora adicionada a guerrilhas, que aproveitam o indulto para promover uma ideia bem distinta de justiça social.

uma noite de crime

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Infelizmente, do ponto de vista da dramaturgia, o roteirista e diretor James DeMonaco continua sem muita imaginação em relação às oportunidades que a premissa oferece. A trama de Anarquia é basicamente uma sucessão de "impasses mexicanos", a expressão usada para caracterizar aquela cena (como o clímax do longa anterior) em que vários personagens apontam armas uns para os outros. Como o porte (e os tiroteios) são liberados no mundo paralelo de Uma Noite de Crime, dá pra imaginar o que aguarda o espectador.

A diferença aqui é que o impasse é "mexicano" de fato, com suas personagens de minorias étnicas que orbitam o protagonista, um policial atrás de vingança, vivido por Frank Grillo. Momentos como a briga de irmãs chicanas rendem conflitos interessantes em Anarquia, porque são estereótipos numa realidade em si exagerada e parecem ter nela um lugar autêntico a habitar, mas mesmo essas cenas descambam para o impasse mexicano sem muita paciência.

Grillo faz o que dá, com a sua melhor imitação possível do Justiceiro da Marvel, e os oponentes no caminho parecem flertar com uma exuberância tipo Mad Max, nos veículos, nas roupas e nas armas, mas o fato é que o gás de Anarquia dura pouco. O espectador precisa se contentar com tipos manjados do terror de baixo orçamento (o maníaco de avental, o bando de mascarados) e o texto não faz mais que martelar as ligações armamentismo/fundamendalismo da extrema direita americana e os bordões dos revoltosos.

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