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Homem-Aranha: Potestade, Batman: O Messias, Grendel, As tiras do Homem-Aranha, X-Men Anual 2, Mulher

16.10.2007, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H32

Na coluna irmã da LÁ FORA, o Omelete mergulha nas bancas e livrarias para comentar os principais lançamentos recentes. Nesta edição: Homem-Aranha: Potestade, Batman: O Messias, Grendel, As tiras do Homem-Aranha, X-Men Anual 2, Mulheres, As Melhores do Analista de Bagé.

Homem-Aranha: Potestade
Por Érico Borgo

Confesso que esperava muito menos dessa polêmica série do Aracnídeo. Toda a falação prévia sobre a minissérie, que saiu aqui no Brasil em uma única edição (ótima idéia!), tinha me deixado com expectativas baixíssimas. Mas se a história não é "o Cavaleiro das Trevas do Homem-Aranha", como foi alardeada pela Marvel, ao menos é um bom entretenimento.

A aventura se passa 35 anos no futuro, quando um decreto baniu todos os super-heróis e o vigilantismo de Nova York. Peter Parker está velho e caduco após pendurar as teias. Ele deixou sua antiga vida para trás - até que um velho conhecido bate à sua porta carregando um pacote e uma mensagem - e tudo muda.

O grande problema da HQ do escritor e ilustrador Kaare Andrews não é a imagem de capa, nem o aracno-pênis (só mesmo nos EUA pra isso virar polêmica) ou a controvérsia seminal. É mesmo a cópia sem-vergonha de elementos que consagraram a imortal graphic novel de Frank Miller. A ação televisionada, a ambientação, os traços... tudo lembra demais O Cavaleiro das Trevas. Andrews teve enorme cara-de-pau na confecção dessa tentativa de clássico. Felizmente, a falta de criatividade não convenceu. Potestade é só uma história acima da média, com uma ou outro boa idéia (a representação do Dr. Octopus, por exemplo).

(Spider Man: Reign) Panini Comics. Formato americano. 156 páginas, R$ 17,90.

Grandes Clássicos DC - Batman: O Messias
Por Érico Borgo

Em 1988, Jim Starlin e Bernie Wrightson chacoalharam o mundinho do Batman. Durante um raro momento de deslize, o herói foi capturado por uma força emergente em Gotham: o Diácono Blackfire. O líder religioso começa então um gradual processo para converter o poderoso defensor de Gotham em seu mais fiel seguidor.

Este é provavelmente um dos únicos momentos da história do personagem em que ele é derrotado de maneira tão convincente e humana. O texto de Starlin é brutal e realista, o que só o deixa mais impressionante.

A história é também uma das duas únicas (Morte na Família é a outra) edições especiais que contam com a participação de Jason Todd como o Robin. E talvez seja a melhor história de todas dessa encarnação do Menino-Prodígio.

Assim, Batman: O Messias é prova de que boas histórias em quadrinhos não precisam ser alardeadas antes de sua publicação - os fãs mesmos as descobrem e as promovem a clássicos. A HQ foi lançada com uma minissérie normal do Homem-Morcego e acabou tornando-se uma das melhores histórias do personagem em todos os tempos, merecendo seu espaço ao lado de Ano Um, O Cavaleiro das Trevas, Piada Mortal, Asilo Arkham, O Longo Dia das Bruxas e O Filho do Demônio, entre outras memoráveis obras do herói.

Completa a edição uma introdução de Starlin, as capas originais e a biografia dos autores.

(Batman: The Cult 1 a 4) Panini Comics. Formato americano. 204 páginas. R$ 25,90. Compre aqui.

Grendel: Preto, Branco e Vermelho
Por Érico Borgo

Personagem que nunca teve muito espaço no Brasil, Grendel chega às livrarias e lojas especializadas numa boa edição da Devir. Preto, Branco e Vermelho, publicada originalmente nos EUA em 1998, traz o criminoso em breves histórias por ilustradores diversos. Todas as aventuras, porém, são assinadas pelo criador do personagem, Matt Wagner.

A maioria das histórias é interessante, assim como o trabalho dos artistas convidados para ilustrá-las. Dentre eles estão Mike Allred, Tim Bradstreet, Paul Chadwick, Duncan Fegredo, David Mack e Tim Sale. Mas se o material é bom, fica a impressão, porém, que faltou um texto introdutório para apresentar o personagem. Afinal, Grendel, um romancista que leva uma vida dupla como assassino e gênio do crime, é muito pouco conhecido por aqui.

Tecnicamente, fora o deslize editorial (piorado pelo excesso de sutileza em informar que trata-se de uma antologia - desavisado, levei umas duas histórias pra entender o que estava acontecendo...), a edição está bem cuidada. Na medida para o material, com capa cartonada dupla e acabamento colado. Capa dura e costura seriam exagero.

(Grendel: Black, White and Red) Devir Editora. Formato: 16,5 cm × 24,0cm. 200 páginas em preto, branco e vermelho. Compre aqui.

Pyongyang - Uma viagem à Coréia do Norte
Por Érico Assis

A Coréia do Norte é uma das piores ditaduras ainda em atividade no mundo. Dominada com mão de ferro pelo presidente Kim Jong-il, o país é criticado pelos seu desrespeito aos direitos humanos, o investimento em armas nucleares que aumenta a tensão com os EUA e seu fechamento para o resto do mundo.

Porém, a Coréia do Norte, como sua vizinha Coréia do Sul, também é lar de grandes estúdios de animação onde os países do primeiro mundo vão buscar mão de obra barata para produzir nossa diversão infantil. Foi o que levou o animador Guy Delisle lá, para supervisionar a produção de um desenho animado para a televisão francesa.

Pyongyang - nome da capital da Coréia do Norte - é o relato de viagem de Delisle, onde ele descreve um país em que qualquer estrangeiro tem que ser seguido a todo momento por um guia, todo cidadão tem que usar broches do presidente e cantar músicas que exaltem a nação, e a escassez de energia elétrica deixa uma das maiores cidades do mundo na escuridão à noite.

O relato tem um pouco de Persepolis de Marjane Satrapi - o bom humor, a ironia, o foco nas experiências pessoais do autor - e muito das reportagens em quadrinhos de Joe Sacco - Palestina, Área de Segurança Gorazde. Delisle não fica somente no que viu e fez, mas traz dados sobre o país que ajudam a construir um panorama das suas várias contradições.

A experiência de ler, ver e sentir a visita do autor - e as coisas que você só tem na expressão gráfica dos quadrinhos - vale mais do que uma série de livros sobre a ditadura norte-coreana. É um jeito divertido e inteligente de conhecer o país e sua situação.

Delisle também já publicou outro relato de viagem de igual impacto, Shenzen, sobre a cidade chinesa. E sai na França este mês um novo álbum seu sobre a Birmânia, outra ditadura do sudeste asiático. A chegada de Pyongyang ao Brasil - uma obra elogiadíssima na França e nos EUA - é motivo de comemoração e torcida para que os outros trabalhos do autor também aportem aqui.

Zarabatana Books. Formato 16x23cm. 192 páginas em preto-e-branco. R$ 35,00.

As Tiras do Homem-Aranha
Por Marcus Vinicius de Medeiros

Em meio à enxurrada de encadernados de capa dura com sucessos de verão dos quadrinhos norte-americanos, recebemos da Panini Comics um presente numa forma bem inesperada. A edição Tiras do Homem-Aranha, compilação do material publicado entre 1977 e 1979 em jornais diários, apresenta uma das mais agradáveis seqüências de histórias do Amigão da Vizinhança. Além da sensação de frescor que resulta do personagem escalando paredes numa mídia diferente dos gibis mensais, o trabalho do criador Stan Lee e do artista John Romita é primoroso.

O ponto a ser ressaltado é que tiras de jornal e revistas em quadrinhos são, com efeito, meios diferentes para se contar histórias. E o que funciona numa série de revistas de 22 páginas, poderia empacar em tiras diárias, razão pela qual muitas adaptações fracassam. Há quadrinistas que sabem narrar uma aventura, mas ficam restritos a um único formato. Não é o caso de Stan Lee e John Romita nas Tiras do Aranha. A dupla consegue aqui driblar muitos dos problemas que começavam a assolar a indústria de quadrinhos mensais, marcando cada vez mais pontos no formato das tiras. Não só a essência do personagem é preservada, como novas possibilidades são exploradas no campo da linguagem.

Logo de cara, percebemos a ousadia de Stan Lee, ainda no auge quando escreveu essas histórias, de colocar o Aranha batendo de frente com o Doutor Destino, clássico vilão do Universo Marvel, arquiinimigo do Quarteto Fantástico e ditador da Latvéria. Em poucos quadros, são estabelecidas a determinação heróica do Homem-Aranha, seu oponente imediato, e o estigma de anti-herói perseguido pelo editor J. Jonah Jameson e incompreendido pela sociedade. A narrativa flui mesclando ação e diálogos afiados, típicos do roteirista.

Entre a ameaça do Doutor Destino e os dilemas humanos de Peter Parker, as tiras apresentam todo o conjunto de personagens e situações que inclui a magnífica Mary Jane Watson, numa interpretação carregada de personalidade e a cuidadosa Tia May, garantindo a aproximação entre herói e leitor tão significativa nos quadrinhos Marvel. E tudo isso sem restrições de um universo partilhado ou imposições editoriais, por mais que estes elementos possam funcionar em revistas mensais. O fato é que o universo do Aranha aparece com uma força única e poderosa nas tiras, majestosamente ilustradas por Romita, numa interpretação que tornou-se um clássico atemporal.

Panini Comics. formato 21x16,5 cm. 328 páginas em preto e branco. R$ 49,90. Compre aqui.

X-Men Anual 2
Marcus Vinicius de Medeiros

A formação original dos Filhos do Átomo ganha tratamento diferenciado neste anual que se propõe a reinventar as primeiras aventuras da equipe. X-Men Anual 2 reúne as oito edições da minissérie X-Men: Fist Class, na qual o roteirista Jeff Park e o desenhista brasileiro Roger Cruz mergulham nas vidas dos primeiros discípulos de Charles Xavier: Garota Marvel, Homem de Gelo, Fera e Anjo, todos sob o comando de Ciclope - num abordagem que ressalta o tom aventuresco e a fase da adolescência.

Sagas de estilo "Ano Um" já se tornaram recorrente nos quadrinhos de super-heróis, a ponto de parecer que não havia nada de novo a se fazer nessa linha. Os próprios X-Men já haviam recebido uma versão pelas mãos do talentoso roteirista Joe Casey. O diferencial das histórias de X-Men Anual 2 está não numa visão autoral ou na proposta de "consertar" problemas de cronologia, mas no comprometimento com a diversão acima de qualquer fator.

Sendo assim, Park explora figuras conhecidas do Universo Marvel, como o Poderoso Thor e os Skulls, bem como tramas de ancestrais biológicos do homem na Terra e gorilas falantes, mas isso tudo é pano de fundo para seu verdadeiro intento. É nas questões íntimas, como o Homem de Gelo se adaptando À Escola para Jovens Superdotados, no romance entre Scott Summers e Jean Grey, e na ação frenética que se desenvolve por conta do irmão protetor Mercúrio com ciúmes da Feiticeira Escarlate namorando o Anjo, que surge o charme desta produção.

Mesmo o traço de Roger Cruz, que normalmente não combina com histórias de super-heróis, funciona perfeitamente dentro da proposta juvenil dessas aventuras. Está aí um acréscimo valioso à bagagem histórica dos X-Men. Nada de reinventar os personagens ou revolucionar a linguagem dos quadrinhos, apenas divertir o leitor em histórias de fácil assimilação.

(X-Men: First Class 1-8) Panini Comic. Formato americano. 194 páginas. R$ 19,90.

Mulheres
Por Érico Assis

Há quem pense que mangás são apenas quadrinhos de ritmo frenético, olhos grandes e aventuras intermináveis. A HQ japonesa, porém, é tão diversa como a de qualquer outra parte do mundo. O trabalho de Yoshihiro Tatsumi chega ao Brasil para demonstrar essa variedade.

Tatsumi é contemporâneo de Osamu Tezuka, o deus dos mangás, mas sua popularidade é muitas vezes menor. O senhor de, hoje, 72 anos, criou nos anos 60 o que chamou de gekigá ("desenhos dramáticos") - ao invés de aventuras futuristas, fantasiosas ou folclóricas, quadrinhos intimistas sobre as ruas do Japão pós-guerra, sua população pobre e a escória social.

Mulheres tem foco justamente nesta parte rejeitada: as prostitutas, as amantes, as manipuladoras, as traidoras. Em seis contos, Tatsumi vai da visão mais misógina - "A Mulher que Namorava", que escolhe seus parceiros de acordo com o que os presentes que eles podem lhe dar - até a da nova mulher forte e decidida - "A Mulher que Pescava", que chora a perda do único homem a sua altura.

Há sexo e corpos nus, mas a visão de Tatsumi não é erótica. Há uma crítica social e um certo cinismo quanto à humanidade - são poucos, muito poucos, neste novo Japão, os personagens com valores a serem seguidos.

A edição da Zarabatana Books vem com prefácio de Sonia M. Bibe Luyten, autora de Mangá: O Poder dos Quadrinhos Japoneses e Cultura Pop Japonesa. Luyten explica a importância do quadrinho de Tatsumi, que foge do padrão nos mangás. Vale notar também que o autor japonês foi recentemente "descoberto" nos EUA, onde é publicado sob a chancela do autor norte-americano Adrian Tomine (Optic Nerve). Tomine é, enfim, uma das poucas referências comparáveis ao trabalho de Tatsumi, tendo ambos histórias curtas e personagens variáveis que retratam questões comuns a toda a humanidade. O trabalho dos dois, que vai na contramão do que se espera nos quadrinhos, certamente merece ser lido por qualquer pessoa que goste de HQ.

Zarabatana Books. Formato 16x23 cm. 160 páginas. R$ 33,00. Para maiores de 18 anos. Compre aqui.

As Melhores do Analista de Bagé
Por Érico Assis

Luis Fernando Verissimo, além de ser um dos cronistas mais populares do Brasil, nunca escondeu a paixão pelos quadrinhos. Ele ainda desenha, no seu estilo minimalista, Família Brasil, publicada no jornal gaúcho Zero Hora. E já colaborou com outros desenhistas, como Miguel Paiva (Ed Mort) e o também gaúcho Edgar Vasques - com quem produziu, nos anos 80, várias histórias do seu personagem Analista de Bagé para a revista Playboy.

São estas as histórias reunidas, pela primeira vez, nesta coleção. Todas de uma página, coloridas em estilos diversos por Vasques, com piadinhas rápidas sobre o estilo bageense aplicado à psicanálise freudiana. E, sendo para a Playboy, é claro que a maioria das piadas envolve algum teor sexual.

São piadas prontas, porém, às quais Verissimo deve ter dedicado dois minutos do seu tempo. Suas histórias em prosa com o personagem são muito mais elaboradas, fugindo do clichê, o que não acontece nos quadrinhos. Há um grande desnível entre a arte - que, embora varie bastante de página para página, é quase sempre bastante expressiva e com narrativa bem pensada - e o texto.

(O que não quer dizer que Verissimo não saiba escrever quadrinhos, vista a alta qualidade de sua Família Brasil - que já teve tiras reunidas em livro.)

De qualquer forma, As Melhores do Analista de Bagé ainda será um presente bem divertido para o seu avô ou para aquele tio mais velho. Não é, em absoluto, para quem acompanha bons quadrinhos.

Editora Objetiva. 88 páginas. R$ 44,90. Compre aqui.

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