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A nona arte

A nona arte

19.06.2001, às 00H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 02H01
Que os quadrinhos, enquanto veículo de idéias, interagem na nossa sociedade, ninguém mais discute. Porém, ainda são muitos os que têm dificuldade para aceitá-los como arte. Talvez essa postura inflexível deva-se ao incrível peso desta palavra, ou, quem sabe, ao forte sabor comercial que as HQs jamais esconderam ao longo das décadas.

Já em 1896, quando Richard Outcault inventou os quadrinhos (Eu sei! Ele não inventou os quadrinhos. Os historiadores é que, por conveniência, identificaram seu Yellow Kid com o nascimento das HQs), o intuito não poderia ser mais comercial: aumentar exponencialmente as vendas dos jornais na ferrenha concorrência da virada do século.

A despeito de seu início mercantilista, os quadrinhos conseguiram atrair talentos de todas as partes dos Estados Unidos. Com o tempo, surgiram expoentes dessa arte no mundo todo. Entretanto, nem mesmo este afluxo de genialidades da estatura de um Winsor McCay, um Alex Raymond, um Ozama Tezuka, um Hal Foster, um Moebius, um art Spiegelman, um Frank Miller, um Neil Gaiman, um Flavio Colin, um Jack Kirby, um Milo Manara, um Kazuo Koike, um Dave McKean e um Alan Moore foi o suficiente para apagar a imagem mercenária com que se estigmatizaram os comics. Ainda hoje, há aqueles que, preconceituosamente cegos para qualquer um de seus méritos, encaram-nos com absoluto desdém.

Para estes rígidos “juizes”, arte e comércio seriam tão incompatíveis quanto óleo e água. Onde há um, não poderia haver o outro. A figura do artista, então, seria revestida de uma aura de sacerdócio que dispensa a mesquinhez do vil metal.

Quanta hipocrisia!

Por que apenas os quadrinhos são condenados aos calabouços de sub-arte&qt;& Por que não se despreza também o cinema, outro entretenimento nascido à mesma época e que se enveredou por caminhos tão ou mais comerciais&qt;& E, para sermos justos, que outra arte escapa dos encantos do lucro&qt;& O teatro&qt;& A música&qt;& A literatura&qt;& A pintura&qt;& Nenhuma, meus caros fariseus.

O pecado dos quadrinhos jamais foi seu amor ao dinheiro. Afinal, suas irmãs mais velhas sempre se cercaram de cifras mais robustas. Seu crime, é triste dizer, talvez tenha sido o de figurar como lanterninha na fila do faturamento.

Seja como for, pouco importa o que pensam os preconceituosos. Comercial ou não, toda forma de arte encerra suas glórias. E aqueles que não se iludem por falsos moralismos sabem que há um patrimônio enorme ao seu alcance. Para tanto, basta caminhar até a banca mais próxima.

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