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Os lançamentos de HQs no Brasil

24.01.2006, às 00H00.
Atualizada em 18.11.2016, ÀS 03H09
WE3
Grant Morrison (Panini Comics)
5 ovos!
Na prisão Kazuichi Hanawa
(Editora Conrad)
5 ovos!
Conan: O cimério - Vol 1
Kurt Busiek
(Editora Mythos)
4 ovos
Grandes Clássicos DC 5 - Novos Titãs - Volume 2 Marv Wolfman (Panini Comics)
4 ovos
DC Especial 8
Greg Rucka
(Panini Comics)
4,5 ovos
Na coluna irmã da LÁ FORA, o Omelete mergulha nas bancas e livrarias para comentar os principais lançamentos recentes. Nesta edição: WE3, Na prisão, Conan: o Cimério - Vol. 1, Novos Titãs - Volume 2, Gotham City contra o crime.

WE3: Instinto de sobrevivência
Por Érico Borgo

Em janeiro de 2005, a Lá Fora publicava: Ameace algum editor de morte para ver WE3 publicada aqui. Não foi necessário chegar a esse ponto (a não ser que o Fabiano Denardin, editor DC no Brasil, esteja escondendo as ameaças de nós), mas a Panini Comics colocou nas bancas em janeiro de 2006 as três partes da minissérie reunidas em uma edição especial.

É não é que WE3: Instinto de Sobrevivência é mesmo revolucionário? Parece até um retorno ao saudoso início dos anos 1990, quando HQs fundiam inteligência nos roteiros a ilustrações inovadoras, mudando a cara da nona arte. Aqui, o escritor Grant Morrison e o desenhista Frank Quitely usam e abusam de recursos gráficos e narrativos, como splash pages, geralmente atribuídas a desenhistas vagabundos, de forma genial. As ilustrações de página inteira têm razão de existir, agregam à história, e não são meros recursos para tentar - na maioria das vezes em vão - chocar o leitor. A primeira delas, por exemplo, quando um sujeito é varado por centenas de balas, dá a medida do poder de fogo dos protagonistas do gibi sem mostrá-los.

A trama é uma espécie de Benji pós-ração com ecstasy misturada com E.T., o extraterrestre programado para matar. Nela, o governo estadunidense alterou tecnologicamente um gato, um cachorro e um coelho, transformando-os em máquinas de guerra altamente treinadas. O resultado é o letal WE3, promessa de um futuro sem baixas militares nos confrontos. A história começa quando os responsáveis decidem exterminar os três, já que a opinião pública não aceitaria bem tais monstruosas fofuras. Porém, movidos por um senso de autopreservação, os bichinhos escapam do programa e querem voltar pra casa.

Não é a toa que Hollywood já cresceu os olhos pra cima da HQ e quer transformá-la em filme... da estrutura aos planos, o gibi é praticamente um longa-metragem pré-cozido. Agora é só colocá-lo no forno.

(WE3) Roteiro: Grant Morrison. Desenhos: Frank Quitely. Editora: Panini Comics. Formato americano (17x26 cm). 116 páginas coloridas. R$ 18,90.

Na prisão
Por Érico Borgo

Geralmente avessos às aventuras desmioladas da maioria dos mangás que chegam às nossas bancas, os leitores mais exigentes começam a se render às publicações diferenciadas do gênero. Depois de Gen e Buda, entre outros, a editora Conrad coloca nas lojas Na prisão, um relato incrível de Kazuichi Hanawa.

A edição apresenta a história real do autor, um famoso criador de mangás que foi preso quando brincava com os objetos de sua obsessão: armas modificadas. Feito de exemplo pelas autoridades, o consagrado Hanawa foi surpreendentemente condenado a três anos numa prisão ao lado de assassinos e criminosos diversos.

Em sua obra, o autor documenta com detalhes minuciosos e traços precisos a vida na prisão. Seus companheiros de cela, as brincadeiras, a rígida disciplina e bobagens do cotidiano, como, por exemplo, os cardápios das refeições, a forma de vestir o uniforme de inverno, o trabalho na lavanderia, a qualidade das cuecas usadas...

Não se trata de uma história violenta, como as que estamos acostumados. É quase um mundo bizarro do sistema carcerário se comparada ao nosso Carandiru, de Dráuzio Varella. Na prisão japonesa a disciplina impera, as regras existem e são cumpridas. É fantástico notar como o próprio protagonista fica perturbado pelo respeito e o tratamento digno que recebe. Não são poucas as vezes em que ele questiona seu papel perante a sociedade, já que é um criminoso e, supostamente, não merecia ser tão bem tratado.

O ano nem bem começou e já temos séria candidata a uma das melhores HQs de 2006. Na prisão é um mangá diferente de tudo o que já saiu por aqui e desperta enorme interesse pela produção de Hanawa.

(Keimusho no naga) Roteiro e ilustrações: Kazuichi Hanawa. Editora Conrad. Formato 16x23 cm. 252 páginas em preto e branco. R$ 33,50.

Conan: O cimério - Volume 1
Por Érico Borgo

Esse já saiu faz um tempinho, mas como só agora chegou ao Submarino, vale ser comentado.

Fazia muito tempo que eu não lia Conan. Muito tempo mesmo... desde a época em que ele completava o pacote de assinaturas Marvel da editora Abril (não me pergunte quando foi isso! o Omelete é um site de cultura pop, não de antropologia). A oportunidade de revê-lo, porém, deu-se no início deste ano, quando comprei Conan: O cimério - Volume 1 para ver se toda a falação sobre a nova série do bárbaro, pela Dark Horse Comics, se justificava.

A publicação, que reúne as edições 1 a 6 do título regular do personagem - lançada aqui pela Mythos - mais o prelúdio (A lenda, edição 0) e um epílogo (parte da edição 7), tornou o reencontro extremamento agradável. O trio responsável - Kurt Busiek (roteiro), Cary Nord (belíssimos desenhos!) e Dave Steward (cor) - reapresenta o universo criado por Robert E. Howard tanto aos fãs antigos como para uma nova geração de leitores.

Esta nova versão do Cimério marca um retorno às raízes do personagem, apresentando histórias adaptadas dos textos originais de seu criador. As primeiras jornadas trazem o encontro com a divina Atali, a filha do deus Ymir, e a descoberta da bizarra raça dos Hiperbóreos. Apesar da juventude do personagem - que aparece aqui muito antes da fama e do trono -, não faltam as mulheres seminuas, os demônios e a sangrenta pancadaria que caracterizam a série normal, também publicada pela Mythos no Brasil.

A edição cumpre o que prometia e mais... dá uma enorme vontade de continuar acompanhando o violento cimério em suas jornadas. Quando sai o Volume 2???

(Conan: Vol 1 - The frost giant daughter and other stories). Roteiro: Kurt Busiek. Ilustrações: Cary Nord. Editora Mythos. Formato americano (17x26 cm). 296 páginas coloridas. R$ 33,90.

Grandes Clássicos DC 5 - Novos Titãs - Volume 2
Por Marcus Vinicius de Medeiros

O sucesso de eventos bombásticos como Crise de Identidade, e a decorrente Infinite Crisis, levou muita gente a afirmar que a atual estratégia da DC Comics é seguir os passos de sua eterna rival, buscando o lado humano dos heróis da Marvel. O conhecimento dos fatos históricos, contudo, mostra que não é bem assim. A Casa das Idéias de Stan Lee também aproveitou muito do Universo DC, e este, não é de hoje, recebe influência da concorrência. Não se trata meramente de uma questão de mercado, mas da evolução da arte, de tendências criativas. As edições de Novos Titãs (The New Teen Titans) reunidas neste Grandes Clássicos DC são prova disso.

O roteirista Marv Wolfman é um dos muitos que, apesar do forte apreço pelos heróis da DC Comics, sempre se sentiu mais à vontade com histórias dirigidas para os personagens, caracterizações e dramas pessoais. O roteirista sempre optou por tratar seus personagens, em primeira instância, como seres humanos, dotados de emoções e problemas com os quais podemos nos identificar. Apesar disso, a história é repleta de elementos fantásticos, como dimensões paralelas e um demônio superpoderoso que ameaça toda a realidade. Presenciamos a grande batalha dos Novos Titãs contra Trigon, mas ao mesmo tempo temos contato com suas inseguranças. Quando a equipe entra em ação, o leitor se importa com cada um deles, e mais importante, percebe sua evolução.

Além de ter os traços de George Pérez, co-criador da série e mais tradicional parceiro de Wolfman, a edição abre com uma história ilustrada por Curt Swan, desenhista clássico do Super-Homem. É gratificante apreciar a variação no estilo, até porque há muito em comum no trabalho dos dois artistas. Ambos sempre primaram por uma abordagem realista, com cuidado notável em anatomia, expressões faciais e composição de quadros, mantendo a versatilidade que pede um gibi de super-heróis imaginativo e cheio de ação. Pérez ainda estava aprimorando seu traço. Pode-se notar aqui que ele ainda estava longe do detalhamento que marcou Crise nas Infinitas Terras, mas já demonstrava extrema competência.

A história dos Titãs enfrentando o Quinteto Mortal pode sugerir que o material esteja um pouco datado, em comparação com as HQs da década atual. Contudo, percebemos no desfecho da saga de Trigon e, especialmente, em Um dia como outro qualquer, um momento mágico em que os super-heróis efetivamente superaram concepções previamente estabelecidas. Como destaque maior, vale ser citada a trágica origem de Cyborg e a relação do herói com seu pai. É altamente recomendado visitar um período em que humanizar super-heróis não envolvia corrupção moral ou violência gratuita, mas um retrato fiel de emoções que todos nós vivenciamos.

(Teen Titans Archives 1). Roteiro: Marv Wolfman. Ilustrações: Marv Wolfman. Editora Panini Comics. Formato americano (17x26 cm). 116 páginas coloridas. R$ 17,90.

DC Especial 8 - Gotham City contra o crime
Por Marcus Vinicius de Medeiros

O arco de histórias Meia Vida, publicado integralmente em DC Especial 8, pode ser considerado um dos pontos altos da carreira do roteirista Greg Rucka. Além de ter ganhado os prêmios Eisner, Harvey, Eagle e Prism Award, a saga fecha com chave de ouro as tramas que vinham sendo desenvolvidas desde a primeira história curta que o escritor produziu para o universo de Batman na DC Comics. Rucka já era um autor consagrado de romances de mistério quando mergulhou na indústria dos quadrinhos e seu estilo combinou perfeitamente com a ambientação sombria das histórias do Homem Morcego. Entretanto, em sua temporada na revista Detective Comics, o roteirista saiu-se um pouco prejudicado pela participação em grandes crossovers, como foi o caso de Terra de Ninguém. Foi somente com a série Gothan City Contra o Crime que seu talento aflorou sem limitações.

A idéia de enfocar pessoas comuns em universos de super-heróis já foi bem utilizada em séries como Marvels, Chase, e no caso específico de Batman, em Noites de Gotham. GCCC, porém, revista idealizada por Rucka e Brubaker, apresenta como diferencial o fato de lidar diretamente com os agentes do Departamento de Polícia, numa cidade corrompida onde proliferam psicopatas fantasiados e um vigilante mascarado resolve todos os casos. A angústia dos personagens no cumprimento do dever, tendo que lidar com forças além de suas capacidades, é muito bem explorada. Embora seja o responsável pelas melhores aventuras do Super-Homem publicadas atualmente, Rucka não é exatamente um idealista no que se refere ao gênero, tampouco um tradicionalista. Sua força maior sempre residiu em histórias de crime e mistério, essencialmente nas perversões da alma humana. Meia Vida é uma história policial, mas não é a ação que conta mais.

A trama é centrada na detetive Renee Montoya, que passa a viver seu inferno pessoal quando uma fonte misteriosa revela, por motivos ocultos, seu maior segredo: o envolvimento amoroso com uma outra mulher. A questão da homossexualidade não é inédita em quadrinhos de super-heróis, e por vezes foi tratada de forma preconceituosa ou pelo valor de choque. Não é o caso aqui. O drama da personagem é desenvolvido de forma contundente, rumando para um desfecho verossímil, cheio de surpresas no meio do caminho. Contando com um escritor que entende emoções humanas e ostenta a capacidade de trabalhá-las como poucos, não é preciso ter passado por experiências semelhantes para se identificar com elas. Qualquer pessoa pode imaginar o que é ter sua vida arruinada com a exposição de um grande segredo e o drama psicológico assinado por Rucka dá vida ao desespero da protagonista com grande força.

Completa a edição uma história fechada escrita por Ed Brubaker, sobre a responsável por ativar o batsinal, que vive um amor platônico por Batman. Em meio à sua obsessão, temos mais amostras do cotidiano árduo dos oficiais da Unidade de Crimes Hediondos de Gothan City. Os desenhos de Michael Lark, em Meia Vida, e de Brian Hurtt, na última história, fogem do convencional. Em conjunto com o trabalho de colorização diferenciado, valorizam a atmosfera e o tom sufocante das narrativas. Nada de pin-ups, mas um estilo eficaz na tarefa de conduzir as tramas e envolver o leitor. Somando tudo, temos uma edição obrigatória que oferece muito mais do que se espera dela.

(Gotham Central 6 a 11). Roteiro: Greg Rucka. Ilustrações: Michael Lark. Editora Panini Comics. Formato americano (17x26 cm). 148 páginas coloridas. R$ 14,90.

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