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<i>O Tico-Tico</i> completa 100 anos

<i>O Tico-Tico</i> completa 100 anos

11.10.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H19

1939

1941

1944

1948

1958

Nº 1738 - Detalhe da pág 28


Nº 1871 - Detalhe da pág 16


Nº 1901 - Detalhe da pág 18

Nº 1903 - Detalhe da pág 24

Se tivesse continuado a ser publicada de forma ininterrupta, ela estaria completando 100 anos de vida. Infelizmente, não chegou a tanto, encerrando sua carreira de inegáveis sucessos depois de 56 anos de publicação. Ainda assim, a revista O Tico-Tico representou um marco na indústria editorial brasileira, constituindo-se, até os dias de hoje, na mais longeva publicação periódica dirigida à infância já publicada no país. Mais que isso, foi não apenas a publicação de maior longevidade a trazer regularmente histórias em quadrinhos em suas páginas, mas também a primeira a se dedicar a essa tarefa. Isso, em uma época em que a linguagem gráfica seqüencial começava apenas a dar seus primeiros passos, enfrentando pressões geradas pelo desconhecimento de suas características, desconfiança quanto a seus benefícios sociais e preconceito quanto à sua qualidade artística e méritos educacionais. A tudo isso a revista brasileira respondeu com uma postura sempre firme em relação a seus objetivos didático-pedagógicos, mantendo-se arraigada, do início ao fim, à missão de entreter, informar e formar de maneira sadia a criança brasileira.

Idealizada pelo jornalista e caricaturista Renato de Castro, juntamente com o poeta Cardoso Júnior, e o professor e também jornalista Manoel Bonfim, a proposta da revista foi apresentada a Luís Bartolomeu de Souza e Silva, dono da Sociedade O Malho, que não só a acatou de forma entusiasmada, como ajudou a moldá-la seguindo o formato de outras publicações da época, principalmente a revista francesa La Semaine de Suzette (publicada de fevereiro de 1905 a junho de 1940, e de maio de 1946 a agosto de 1960). O acerto da idéia ficou amplamente demonstrado pela recepção do público, que adquiriu prontamente a nova publicação, forçando a editora a imprimir às pressas uma segunda edição, com o dobro da tiragem inicial de dez mil exemplares. O preço de capa, inclusive, se manteve inalterado em 200 réis por quase quinze anos, um valor relativamente baixo e que possibilitava a aquisição da revista por parte de vastas camadas da população.

Desde o início, a revista se destacou por uma interessante seleção de seções, apresentando matérias para todos os tipos de gostos e gêneros. A variedade foi, talvez, a sua maior característica, buscando dar conta dos diversos aspectos da vida social que entendia necessários ao desenvolvimento das crianças. Elaborada em um tom carinhoso, usando uma linguagem coloquial mas com extremo preciosismo lingüístico, ela perseguia a idéia de que o avanço do país dependia de um compromisso sério com a educação de suas futuras gerações, ampliando o acesso de todas as parcelas da população às benesses da civilização letrada. Em torno desse objetivo, organizou seu projeto editorial, mantendo-se fiel a ele durante todos os seus longos anos de publicação. Várias gerações tiveram acesso às suas matérias, obtendo sempre o mesmo nível de entretenimento e informação. Não à toa, deixou marcas profundas em todos os seus leitores, que dela guardaram sempre as melhores recordações. Além disso, seus editores tiveram a preocupação de cultivar uma constante e próxima relação com seu público, fazendo com que este se visse como participante da proposta editorial da revista. A cada mudança de rumo, normalmente realizada em função de premências econômicas, a direção da revista elaborava um texto explicativo para os leitores, de forma a quebrar o impacto negativo que tal modificação poderia gerar na sua comunidade de consumidores. Mais que tudo, pode-se dizer que a publicação foi marcada por uma aguda sensibilidade de mercado, com seus organizadores antecipando-se em alguns anos às propostas de marketing defendida apenas algumas décadas depois por autores como Philip Kotler e Peter Drucker.

As histórias em quadrinhos

No campo das histórias em quadrinhos, a revista O Tico-Tico, como mencionado, destaca-se como a primeira a publicar regularmente séries produzidas pelos adeptos da 9ª arte, bebendo de fontes norte-americanas e européias. Da produção estadunidense, inclusive, veio seu principal personagem, aqui batizado como Chiquinho, mas que nos jornais ianques era conhecido como Buster Brown. Criação de Richard Felton Outcault, o garoto traquinas, originalmente de classe alta, aqui desceu um pouco socialmente e adquiriu modos de um garoto do povo, vivendo hilariantes aventuras ao lado de um típico menino de nossa realidade social mais popular, o Benjamin, um garoto de origem africana criado por um dos autores brasileiros que continuaram a obra de Outcault quando o material original já não chegava ao país. O autor brasileiro, Luis Gomes Loureiro, foi apenas o primeiro de vários artistas nacionais que trabalharam com o personagem, fazendo com que ele adquirisse características próprias da cultura brasileira. Em seu conjunto, fizeram com que o conjunto das aventuras desses personagens - aos quais se deve agregar necessariamente o cachorro Jagunço, originalmente chamado de Tige -, representasse um pitoresco panorama da sociedade brasileira na primeira metade do século 20. Nesse sentido, Augusto Rocha, Alfredo Storni, Paulo Afonso, Oswaldo Storni e Miguel Hochmann realizaram um enorme serviço ao país, transformando um personagem sem muita graça e com uma proposta extremamente elitista de público em uma figura pulsante, elétrica mesmo, que agradava em cheio a seus leitores e fazia com que estes se identificassem plenamente com ela. Não admira, com tudo isso, que durante vários anos imaginassem os leitores ser Chiquinho o grande personagem de quadrinhos originalmente produzido no Brasil. E nem estavam tão enganados assim, pois, de uma certa forma, ele foi mesmo...

Mas nem só de Benjamin, Jagunço e Chiquinho viviam as histórias em quadrinhos da época do lampião de gás. Vários outros personagens foram publicados regularmente na revista O Tico-Tico, tanto os estrangeiros como aqueles produzidos em terras brasileiras. Entre os primeiros, destaque para Mickey Mouse, inicialmente chamado de Ratinho Curioso, que aparecia em histórias desenhadas por Ub Iwerks e depois por Floyd Gottfredson; Krazy Kat, de George Herriman, chamado de Gato Maluco; Popeye, de Elsie Chrisler Segar, chamado de Brocoió; Gato Félix, de Pat Sullivan; Mutt e Jeff, de Bud Fisher; Little Nemo in Slumberland, de Winsor McCay, entre outros. Entre os brasileiros, figuras como Lamparina, do grande J. Carlos; Kaximbown, de Max Yantok; Bolinha e Bolonha, de Nino Borges; Zé Macaco e Faustina, de Alfredo Storni; Pirolito, de Fritz (Anísio Oscar Mota); Tinoco, o caçador de feras, de Théo; João Charuto, de Edmundo Rodrigues; e Réco-Réco, Bolão e Azeitona, do inigualável Luis Sá, para apenas mencionar alguns dos personagens que tiveram suas origens nas mãos de artistas aqui radicados.

Além de séries com personagens fixos, O Tico-Tico também deu guarida a histórias em quadrinhos voltadas para finalidades instrutivas ou de informação, geralmente ligadas à narrativa de episódios da história brasileira, destaque de aspectos característicos de nossa cultura ou biografias de personagens ilustres da cena política e econômica nacional. Em especial, cumpre lembrar de O descobrimento do Brasil, História Ilustrada - Páginas Relembradas e Figuras Magníficas, todos por Leônidas Freire; A vida de Floriano Peixoto, texto de A. Plessen, com ilustrações de Cícero Valladares e Histórias do tempo da escravidão, por Ângelo Agostini.

As páginas literárias

Grande parte das páginas da revista O Tico-Tico era preenchida por produções de literatura, normalmente constituída por pequenos contos ou histórias voltadas para o público infantil, mas também incluindo romances de folhetim, poesias, crônicas, reflexões sobre a realidade brasileira e conselhos para os jovens leitores. Muitas dessas histórias eram traduções ou adaptações de publicações estrangeiras, trazendo aos leitores, brasileiros, publicadas em capítulos, as obras de grandes autores da literatura mundial, como Mark Twain (As aventuras de Tom Sawyer), Robert Louis Stevenson (A ilha do tesouro), Julio Verne (Cinco semanas num balão), Cervantes (Dom Quixote), Shakespeare (Hamlet), Jonathan Swift (Viagens de Gulliver), Daniel Defoe (Robinson Crusoé), entre outros. Os contos de fadas e muitas lendas brasileiras também foram presença constante nas páginas da revista, encantando o público infantil com suas narrativas fantasiosas e mágicas.

O Tico-Tico tinha seus redatores regulares, um grupo constituído por professores, jornalistas e escritores que trabalhavam para a Sociedade Anônima O Malho, dedicando a maior parte de seus esforços à publicação infantil da editora. Entre estes, dois nomes se destacam: Carlos Manhães e Eustórgio Wanderley. O primeiro foi redator-chefe da revista de 1926 até 1939, trazendo novos desenhistas para sua equipe e buscando compatibilizar as matérias inseridas na publicação com o currículo escolar então vigente; tendo se desenvolvido na empresa, onde exerceu funções diversas, foi responsável pela introdução de uma dinâmica própria à publicação, bem como pela inclusão dos personagens de quadrinhos popularizados no cinema de animação, como Mickey e O Gato Félix. Já Eustórgio Wanderley fez um pouco de tudo, utilizando diversos pseudônimos - como os de Maurício Maia, Trancoso, Malazarte e Wenceslau Semifusa -, para suas produções literárias, colaborando na revista com poesias, contos, crônicas, conselhos aos leitores, etc. Permaneceu na revista praticamente até o seu final, respondendo por diversas seções fixas, entre as quais se destaca a Correspondência do Dr. Sabetudo.

Muitos escritores brasileiros de renome participaram da seção literária da revista, produzindo ocasionalmente material específico para ela. Entre estes, podem ser mencionados Josué Montello, Leonor Posada, Osvaldo Orico, José Lins do Rego, Bastos Tigre, Olavo Bilac, Cardoso Júnior, Coelho Neto, Murilo Araújo, Catulo da Paixão Cearense, Malba Tahan, Humberto de Campos, Arnaldo Niskier e Gustavo Barroso, entre outros. Alguns autores consagrados colaboraram com a revista antes mesmo de alcançarem sucesso na função de produtores intelectuais, como aconteceu com Sérgio Buarque de Holanda, que aos nove anos teve uma valsa de sua autoria publicada nas páginas de O Tico-Tico.

A preocupação com a divulgação da produção literária gerou também uma coleção de livros infantis, denominada de Biblioteca Infantil d´O Tico-Tico, produzida em formato grande e ricamente ilustrada. Entre os títulos dessa coleção estão Contos da Mãe Preta, de Osvaldo Orico; Minha Babá, de J. Carlos; Papae , de Juracy Camargo; Pinga-Fogo, o detetive errado, de Luis Sá; O Circo dos Animais, de Gaspar Coelho e Um Menino de Coragem, de Leão Padilha.

Além da preocupação com a divulgação de obras de indiscutível qualidade literária, os editores da revista, também se preocuparam em incentivar a produção de seus leitores, promovendo vários concursos de contos e publicando em suas paginas os trabalhos dos vencedores. Muitos jovens sentiram o despertar de sua vocação literária pelas colaborações que enviaram espontaneamente aos concursos da revista, mesmo que não tivessem alcançado qualquer prêmio por elas.

O didatismo e a informação

Uma das mais importantes características de O Tico-Tico foi sem dúvida o seu aspecto educacional. De fato, a proposição criativa da publicação já se coloca em termos de uma intervenção decidida no processo educacional, ajudando a formar os cidadãos que as necessidades de desenvolvimento econômico e social exigiam, sob a égide de uma visão de construção de cidadania baseada nos valores da classe média do país. É por esse aspecto, talvez, que ela foi mais lembrada, permanecendo na lembrança de várias gerações de leitores que a utilizaram como material para-didático ou dela receberam ensinamentos morais e cívicos que foram básicos para sua formação intelectual.

Ela acompanhava o momento histórico em que foi criada. O início do século 20 foi um tempo marcado por preocupações relacionadas ao desenvolvimento intelectual das crianças, que deveriam se transformar em homens íntegros, tementes a Deus e respeitadores dos preceitos morais aceitos à época. Assim, uma revista direcionada a crianças tinha necessariamente que passar pelo crivo de pais e professores, muito zelosos daquilo que seus filhos recebiam por meio da imprensa. Conscientes dessa questão, os responsáveis pela Sociedade O Malho tiveram o cuidado de privilegiar a perspectiva educativa e moral na publicação que produziram para o público infantil, criando-a à luz do espírito didático/moralista então dominante. Foi nesse ambiente, espelhando os valores almejados pelas camadas dominantes da sociedade, que surgiu, cresceu e floresceu a revista O Tico-Tico, baluarte da moral tradicional e do espírito positivista que marcava a chamada República Velha. E aí provavelmente estava a maior razão de seu sucesso.

Além de trazer entretenimento e lazer às crianças de seu tempo, a revista também cultivava o objetivo de formar um determinado tipo de cidadão e louvar um padrão de comportamento específico, aquele que ajudaria a construir a sociedade ideal imaginada pelos diretores da publicação e pelas classes sociais que eles representavam. Desta forma, as proposições moralista e educativa, nas quais se mesclavam elementos de civismo e preceitos religiosos do catolicismo, religião dominante no país, apareciam em várias seções da revista, destacando-se nos contos infantis, nas poesias patrióticas e nas narrativas de fundo histórico, estas últimas geralmente trazendo lições sobre o respeito aos mais velhos, o cultivo da solidariedade e a dedicação às boas obras. Estavam também na campanha pela implantação do escotismo no país, entendo que esse movimento defendia valores éticos semelhantes aos que ela preconizava. Estavam, ainda, na biografia de vultos ilustres da história brasileira e mundial, exemplos a serem seguidos pelos pequenos leitores, bem como nos passatempos e concursos que tanto entusiasmavam os aficionados da publicação e até mesmo na forma como eram redigidas as mensagens publicitárias, em que era salientado um desenvolvimento sadio e livre de mazelas. Mas, sobretudo, essas proposições moralistas apareciam com destaque nas Lições de Vovô, na Correspondência do Dr. Sabetudo e na Gaiola d´O Tico-Tico, seções da revista dedicadas a desenvolver um diálogo permanente com os seus leitores e que representaram, em mais de meio século de existência da revista, uma verdadeira escola de disciplina estabelecida pela direção e colaboradores da revista O Tico-Tico.

As dimensões moral e educativa estiveram no cerne da criação da revista O Tico-Tico, constituindo mesmo sua razão de ser. Estes aspectos foram plenamente assimilados pelos adultos, que viram na revista uma valiosa aliada para complementar os seus esforços na formação dos jovens brasileiros e deram a ela o seu apoio quase incondicional. Atenta a isto, desde o início a direção do semanário buscou também enfatizar esse aspecto de elemento complementar da educação formal, salientando para os leitores a necessidade de guardar e preservar os exemplares da revista, pois estes seriam futuramente utilizados por seus irmãos menores.

O declínio e desaparecimento da revista O Tico-Tico

O constante reforço dos objetivos primordiais da publicação, expresso em editoriais nos almanaques e edições especiais, nos testemunhos de antigos leitores por ocasião de datas comemorativas, bem como nos conselhos exarados pelo Vovô, ajudou a criar o mito das benesses de um modelo pedagógico baseado no respeito às leis e na defesa intransigente da moral e dos bons costumes. Ao mesmo tempo, essas atividades de reforço mantiveram a coerência da revista O Tico-Tico durante mais de cinco décadas de publicação; no entanto, ao mesmo tempo em que, por um bom período, garantiu a longevidade da publicação, essa coerência representou também a razão maior de seu desaparecimento, devido ao desgaste e à perda do suporte que essa visão tradicionalista do desenvolvimento infantil havia granjeado na sociedade brasileira.

Em 1934, o lançamento do Suplemento Infantil (depois, Juvenil) no Rio de Janeiro, por Adolfo Aizen, inaugurou uma nova fase na divulgação das histórias em quadrinhos no Brasil. Com o Suplemento era introduzido no país o modelo norte-americano de quadrinhos, em que se destacavam aventuras mirabolantes e personagens de intensa penetração social. A nova publicação trazia um dos melhores momentos já vividos pela história em quadrinhos norte-americanas, com os autores mais influentes na área, como Alex Raymond, Al Capp, Hal Foster, Lee Falk, entre outros, e sua geniais criações para a 9ª Arte.

O sucesso do Suplemento abriu caminho para outras publicações no mesmo estilo, como O Globo Juvenil, das Organizações Globo. Em seguida vieram, alguns anos depois, as revistas de histórias em quadrinhos, lideradas pelo Gibi, que acabou se tornando sinônimo desse tipo de material. A popularidade das novas publicações em quadrinhos afetou a predominância de O Tico-Tico entre os leitores, colocando um fim a seu reinado absoluto, de mais de 30 anos. De repente, os personagens ingênuos e bem intencionados da revista foram substituídos no gosto popular por intrépidos desbravadores de novos mundos, homens mascarados ou seres super-poderosos.

Os editores da revista tentaram uma reação à concorrência, incorporando ao título algumas séries de aventura. Entre esses personagens estava Babe Bunting, originalmente criada por Fanny Cory, uma das muitas cópias de Little Orphan Annie produzidas no mercado norte-americano. Autores brasileiros também foram chamados a trabalhar nessa linha de histórias em quadrinhos de aventuras, destacando-se Carlos Thiré, com Os Legionários da Sorte.

As mudanças na revista, no entanto, não perduraram. No início dos anos 1940, os editores preferiram retomar seus propósitos originais, mantendo o âmago da publicação inalterado. Assim, com a eventual inserção de uma ou outra série quadrinhística adquirida dos Syndicates norte-americanos, a revista O Tico-Tico continuou ligada ao modelo de publicação infantil didático-pedagógica que a havia tornado conhecida, recusando-se a realizar modificações que de fato pudessem levá-la ao encontro dos interesses de uma nova geração de leitores e, ao mesmo tempo, fazer frente a um novo modelo de publicação dirigido ao público infanto-juvenil que se estabelecia no país. Com isso, caminhou inexoravelmente para seu fechamento.

Nas duas últimas décadas de existência da revista O Tico-Tico, cresceu a porcentagem de páginas dedicadas exclusivamente ao entretenimento. Estas matérias, no entanto, deixavam um pouco de lado a exploração do desenvolvimento de atividades motoras ou o desafio à curiosidade intelectual dos pequenos leitores, como acontecia em anos anteriores. Nessa última fase, é importante destacar a presença de piadas, anedotas e histórias mudas puramente humorísticas; muitas vezes, elas constituíam seções fixas, como Cinco minutos de riso ou Fique triste se puder.

Em 1955, os editores da revista lideraram uma série de comemorações pelo seu cinqüentenário. Um número especial comemorativo da efeméride foi publicado, coletando depoimentos de personalidades da vida política e cultural brasileira e realizando uma avaliação emotiva do percurso realizado pela revista até aquele momento. Ainda assim, apesar das manifestações de apreço e consideração que a revista recebeu durante os meses seguintes à celebração de seu meio século de existência, não se podia esconder o fato de que O Tico-Tico já se constituía em uma publicação ultrapassada, desgastada pelo tempo, que se mantinha viva apenas pelas lembranças daqueles que com ela haviam convivido em sua infância e não conseguia mais falar a mesma linguagem dos leitores de então.

A chegada da televisão ao país, em 1950, também pode ter concorrido para a administração do golpe de misericórdia na revista O Tico-Tico. Desta forma, sem condições de concorrer com a nova mídia e sem disposição para se modernizar e buscar uma nova forma de diálogo com o público infantil, ela foi minguando e se esvaiu em si mesma no início da década de 1960, deixando saudades em todos que a admiravam. A eles, restou a consolação de que nenhuma outra revista infantil conseguiria ter o mesmo impacto que ela teve na infância brasileira.

Depois da interrupção da revista, A Editora O Malho, já então com nova denominação comercial, ainda publicou várias coleções de livros, voltados para segmentos diversos de leitores. Em geral, representavam o reaproveitamento de textos publicados em O Tico-Tico, apenas atualizados para o novo público. Isto perdurou até 1977, quando essas atividades editoriais cessaram. Da revista O Tico-Tico, restou apenas a lembrança.

Leituras complementares:

CIRNE, Moacy. História e crítica dos quadrinhos brasileiros. Rio de Janeiro: Ed. Europa; FUNARTE, 1990.

COTRIM, Álvaro. Era uma vez um... Tico-Tico. Cultura , Brasília, v. 4, n. 15, p. 82-91, dez. 1974.

MERLO, Maria Cristina. O Tico-Tico : um século de histórias em quadrinhos no Brasil. São Paulo: 2003. [Dissertação de Mestrado - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo]

MOYA, Álvaro de. O Tico-Tico: marco de nossas publicações infantis. In: --------. Vapt-Vupt . São Paulo: Clemente & Germani Editora, 2003. p. 106-110.

ROSA, Zita de Paula. O Tico-Tico: meio século de ação recreativa e pedagógica. Bragança Paulista: EDUSF, 2002.

O TICO-TICO: uma revista impressa na lembrança. São Paulo: SESC, 2003-2004.

VERGUEIRO, Waldomiro; SANTOS, Roberto Elísio dos (orgs.) O Tico-Tico: centenário da primeira revista de quadrinhos do Brasil. São Paulo: Opera Graphica, 2005. (no prelo)

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